about me [2] - vida pregressa [0]

>> sábado, 28 de fevereiro de 2009

"Crianças não nascem preocupadas em serem boas ou más, espertas ou estúpidas, amáveis ou não. Elas desenvolvem estas idéias. Elas formam auto-imagens... baseadas fortemente na forma como são tratadas por pessoas significantes em suas vidas, por exemplo, os pais, professores e amigos."
Coopersmith.


As histórias de como a Laranjinha tornou-se boa ou má, esperta ou estúpida, amável ou não. Em breve.

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about me [1]

>> terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Quisera eu [re]unir os olhos de ressaca e a beleza traiçoeira de Capitu; os lábios de mel e a selvagem força de Iracema; a elegância e sensualidade de Lúcia e seu contraditório amor; a instrospecção de GH em sua busca por si mesma; o glamour, a inteligência e a sordidez de la Marquise de Merteuil'; a personalidade múltipla e confusa de Catherine Earnshaw; os sonhos de grandeza romântica de Ema Bovary e Luisa; as aventuras frívolas da vida de Tracy Whitney.

Quisera? Se eu [re]unisse as principais marcas de minhas diletas personagens, um monstrinho literário seria criado: uma personagem forte; altiva; profunda; instigante; de presença marcante e caprichos de vaidade; mas também frágil, superficial, tola, humilde, óbvia e facilmente domada.

Mas, se, ao ler suas histórias, [e eu as devoro!] eu, eu mesma, [re]uni em mim [em mim! não num personagem!] suas marcas, [suas marcas, agora, minhas marcas, suas minhas marcas], eu [eu!] sou esse monstrinho!
Se... eu sou... então, sim, eu sou.

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O Halls superfaturado

Domingo à tarde. Dia de micarê na cidade. Muita expectativa, a galera pronta, abadá reformado, bermuda de marca, tênis NIKE. As vans levam os bandos até o local do show. No caminho, uma parada rápida pra abastecer: vinho, cerveja, vodka pra misturar com refri, sem falar no bom e velho suco gummi que a galera já traz de casa, cachaça, água, açúcar e QFresco pra dar a cor. Pronto, diversão garantida.
Começa o show. Não sobrou nada do que veio na van. A banda que tá tocando é um sucesso. Os fãs pulam, gritam, se emocionam com as músicas. E aproveitam também para beijar o maior número possível de bocas. Um objetivo que, para ser alcançado, requer experiência e preparo físico e psicológico: você olha no meio da multidão agitada. Escolhe aquele 'pegável' que tem a bermuda e o tênis mais caros. Aproxima-se sutilmente e se posiciona no campo de visão dele. Você ainda não bebeu o suficiente pra tomar iniciativa, então tenta chamar atenção. Balança os cabelos, faz gestos em câmera lenta e, de vez em quando, dá uma olhada discreta. Pronto, você fez sua parte, agora é com ele. Ele perceba a sua deixa e se aproxima. "oi", diz ele sorrindo pra você, mostrando o aparelho fixo, com borrachinha vermelha - sua cor favorita! Você também sorri, timidamente, e diz "oi". Daí surgem duas possibilidades:
a)Ele te agarra e te beija freneticamente, tentando apalpar tudo o que for possível, ou
b) Ele pergunta seu nome e, antes que você tenha tempo de responder, ele te agarra e te beija freneticamente, tentando apalpar o que for possível.
Agora, é só repetir a operação quantas vezes forem necessárias para que você bata o recorde da última micarê. Claro que nem sempre esse processo dá certo; às vezes, será preciso esbarrar ou pisar no pé do escolhido, acidentalmente, pra que ele te note. mas o resultado final será o mesmo: ele vai te agarrar e te beijar freneticamente, tentando apalpar tudo o que for possível.
Não é raro também que aconteça de você ter esquecido de comprar o velho companheiro Halls Preto quando a van parou para se abastecer. Agora, em pleno show, você olha pro lado e se depara com aquele moreno alto, bonito e sensual - se é amante profissional, não se sabe - e, quando pensa em se aproximar, lembra que não pode nem dizer um "oi" pra ele, estando com aquele hálito de vinho, cerveja e gummi. Por sorte sua, o Tio da Balinha está passando bem na hora, "Graças a Nossa Senhora dos Micareteiros", você pensa, aliviada. Chama o Tio e pergunta "Tio, quanto tá o Halls Preto?". O Tio da Balinha, que com certeza você já viu em outros carnavais, com aquela mesma havaiana remendada e a camisa do flamengo, olha pra você e diz "Tá de 3."
Você fica indignada, é claro, com certeza o mesmo Halls não passaria de um real no mercadinho ao lado da sua casa. "Tá muito caro, Tio!". Ele olha pra você. A expressão sofrida de quem está há mais de quatro horas andando entre os pulos da galera e sendo chamado de tio por gente que ele nunca vira, e que se fossem seus sobrinhos, com certeza não estariam ali. "Ahr", ele diz, provavelmente querendo dizer "Sinto muito, moça, é a lei da oferta e da procura. Depois, você ganha de mesada o que eu não ganho em 10 shows vendendo Halls de 3". E o finalmente diz: "Vai querer?" Aí, você pensa na desigualdade social do país. Nos pais de família que não ganham por mês o preço seu abadá. Você pensa nos soldados brasileiros no Haiti. Nos judeus e palestinos na Faixa de Gaza. E você toma uma decisão. Não vai mais comprar o Halls Preto e contribuir para que o Tio passe o resto da vida sendo chamado de tio por jovens bêbados. Nunca mais vai gastar dinheiro com micarê. Vai doar sua mesada pro Fome Zero. Vai virar "Amiga da escola" e ativista do GreenPeace. Você vai fazer um mundo melhor pro Tio poder comprar uma havaiana nova e nunca mais precisar superfaturar o Halls Preto. Você vai..."Vai querer?", ele pergunta, te despertando das suas reflexões. Você olha pro Tio. Olha pro Halls Preto. E, finalmente, olha moreno alto, bonito e sensual que continua sorrindo pra você, e pensa nele te beijando freneticamente, tentando apalpar tudo o que for possível. Mas você já está decidida. Olha pro Tio e diz:
- Tem troco pra 10?

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"sobre meninos e livros" ou "o discurso do fim"


igualdade? é pelas diferenças que nos lembraremos uns dos outros. e a lembrança é tudo num tempo em que o agora dura cada vez menos. se não sabemos o que há do outro lado do véu, uma coisa é certa: enquanto formos lembrados aqui, há vida, e vida que vale a pena. igualdade, que nada, faz-se de tudo para ser diferente, e, mais difícil ainda, para ser diferente de todo mundo que já é diferente. seja pela preferência por um inseto, pela cor do cabelo [ou parte dele], pela semelhança com um personagem da literatura, por ser 'bicho de praia' nessa terra seca, pela convicção religiosa, ou ainda, por uma cor [ou será fruta?]... seremos sempre lembrados, meus caros amigos. Somos os futuros Imortais, da Academia ou não, somos nós os que vão escrever, e revisar, e corrigir, e ensinar a história, mas não só ela, também a Geografia, a Matemática, e as Ciências...
igualdade? não, amigos, imortalidade é o que vamos escolher.

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Sobre consciência e aposto


Descobri que era negra no meu Ensino Médio. Não que eu já não tivesse reparado que meu nariz era mais largo que os das coleguinhas com cara de boneca [e que não havia bonecas como eu!], não que minha mãe já não prendesse meu cabelo com xuquinhas. Claro que eu sempre soube de tudo isso. Mas foi no Ensino Médio que eu descobri que os outros também sabiam que eu era negra. E isso faz toda a diferença. Foi no Ensino Médio que eu senti o estranhamento dos coleguinhas por me verem ali, por verem que eu me destacava ali, em vez de estar preocupada em comprar fraldas pro filho que eu já deveria estar esperando [afinal, eu já tinha 15 anos!].

Três anos depois de descobrir que era negra, descobri também que toda vez que eu fosse falar, deveria pensar no que qualquer outro negro no mundo falaria no meu lugar. Passei de simplesmente mais uma aluna a "Porta-voz da negritude". Foi quando entrei na faculdade.
Desde então, em todo debate, para fazer qualquer alusão, qualquer afirmação, era preciso antes que os alunos ou professores corressem os olhos pela sala para procurar a Porta-voz da negritude "Que não me deixa mentir", "Que pode comprovar isso que eu estou falando", "Que por acaso se ofendeu com o que eu falei?". E essa era eu.

Levou um tempo pra perceber que sempre que alguém pedia minha opinião, não queria a minha opinião. Queria a opinião de uma estudante negra. Levou um tempo pra perceber que a partir desse momento, me foi negada a subjetividade, o direito de ser Bruna, e foi-me conferida a obrigação do aposto: Bruna, a estudante negra.

Mas, pensando bem, não há como fugir do título de "Porta-voz da negritude". Não agora. É, sim, preciso que eu (e tantos outros) me anule, para que toda uma classe possa aparecer ali.

Quando eu estiver livre do aposto, quando eu puder, ao falar, falar só e somente por mim, eu saberei que essa não é mais uma sociedade racista.

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Aquele que fala sobre o trabalho de ser crítico

>> segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Ultimamente estava pensando no que eu vou ser quando crescer. Vislumbrei a possibilidade de ser crítica. De gastronomia, de cinema, de esportes [sic!], ou, a escolha mais óbvia, de literatura. Então saí pesquisando pela blogosfera e vendo o que é que esses tais de críticos fazem da vida.

Li dos mais renomados aos que criticam simplesmente por que a internet dá a eles o espaço pra isso.

E vi que críticos são, acima de tudo, pessoas que têm certezas. Muitas delas. E escrevem sobre elas de forma contundente e conclusiva. Alguns com mais requinte, outros com mais emoção, mas todos têm absoluta certeza de que o que estão falando é uma verdade irrevogável, e que 'todos vocês, bestas que não conseguem enxergar o óbvio, precisam da minha ajuda se querem entender qualquer coisa de verdade'

Vejam vocês que, ao contrário do que eu imaginava, a profissão não consiste somente em emitir uma opinião sobre alguma coisa... não! Posicionar-se sobre uma questão é para amadores. O importante mesmo é fazer alusões a fatos e 'curiosidades' que só você - e os críticos adversários - conhecem, analisar a opinião contrária à sua e desacreditá-la por completo [quando não dá certo, vale desacreditar quem a escreveu, o lugar onde foi publicada, a ex-mulher do editor chefe do jornal, enfim, o que der] de forma 'apoteótica, rebuscada e incontestável', de preferência com palavras com no mínimo quatro sílabas, usando sarcasmo e um tom condescendente, como quem fala para - ou de - alguém que não pode ser culpado por ter uma capacidade intelectual inferior.

E logo vi que vai ser difícil eu me dar bem com esse ofício.

Primeiro, não sou lá uma pessoa com muitas certezas. Até sei escrever de forma contundente, mas me reservo o direito de usar a mesma intensidade nas palavras pra falar exatamente o contrário amanhã.

Segundo, não vejo qual a lógica de escrever de um jeito que só quem poderia escrever o mesmo que eu vai entender. Afinal, pra que servem os críticos se não pra enriquecer - e não excluir- a visão que as pessoas comuns ['comuns' não é a palavra que eu quero usar aqui, mas na falta de outra, fica 'comuns' mesmo] tem a respeito de alguma coisa? Como eu vou enriquecer a visão de um casal de namorados de ensino médio que foi assistir um filme 'x' se eu disser que 'a obra peca pela negligência em relação ao enfoque artístico e pelo excesso de elementos alegóricos'?

E, por último, eu não vou odiar mortalmente uma pessoa simplesmente pelo fato de ela não concordar comigo. Nem chamá-la de ignorante, alienada, de 'parte do sistema', nem de 'cult de merda', puritano, reacionário, anarquista.

Não, não vai dar certo. Eu sou tolerante demais, pra ser crítica do que quer que seja.


Mas.. se tudo der errado... se tudo der errado, eu viro crítica cítrica.

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