vida pregressa [1]

>> domingo, 29 de março de 2009

Anjinhos? Tenha medo.


Desde que vi um filme, que eu não lembro o nome, com o Robin Williams, onde o personagem dele foi atormentado a vida toda pela culpa de ter matado acidentalmente um coleguinha - até ver o coleguinha andando pelas ruas anos depois - , que eu desconfio bastante das lembranças que eu tenho de criança.

Essa desconfiança aumenta à medida que eu conto suuper empolgada as coisas que eu lembro pros meus pais e eles dizem que aquilo nunca aconteceu.


Mas uma das lembranças mais antigas e nítidas que eu tenho é a prova de que eu já passei a imagem de menina inocente uma vez na vida.


Gincana de Festa Junina da escola. Prêmio: passeio pro clube.
Ganhamos! Dia do passeio. Todas as menininhas de 8 e 9 anos de biquíni, exibindo o que elas poderiam vir a ser um dia. Todas menos uma. Essa, a única que foi de maiô, está agora afastada das meninas, na rodinha dos meninos, que não estão ligando muito pras meninas de biquíni: estão mais preocupados em ver quem dá a maior barrigada na piscina.

De repente, um garoto gordinho, rosado pelo sol, chega na rodinha dos outros meninos - e da menina de maiô - e cochicha:
- O professor de Ed. Física tá ajudando as meninas a tomar impulso pra nadar pra aproveitar pra passar a mão nelas!

Pela reação dos meninos, o gordinho rosado pelo sol não gozava de muita credibilidade entre a turma. Todos quiseram ver com seus próprios olhos. Foram, com seus óculos de natação, pra parte da piscina onde o professor de Ed. Física - que, a bem da verdade, tinha mesmo uma cara de tarado - estava, desfazendo, assim, a rodinha.

A menina de maiô foi procurar outra rodinha - afinal, por mais que preferisse ficar sozinha, isso pegaria mal pra uma criança de 8 anos no clube num dia ensolarado, com todos os seus amiguinhos pra brincar - e acabou parando na das meninas de biquíni que molhavam só os pés na piscina - e que, alguns anos mais tarde, virariam as meninas que não entram na piscina pra não molhar o cabelo de chapinha.
A noticia do professor tarado chegou nessa roda também, mas foi passado como telefone-sem-fio de ouvido pra ouvido. Quando chegou a vez de passar pra menina de maiô, a ligação foi cortada.
- Me conta, o que é?
- Não! Você ainda é muito inocente pra ouvir essas coisas.

Essa última frase foi dita com um misto de proteção e reprovação no tom das palavras. Menos proteção do que reprovação, é verdade, mas o fato é que a menina de maiô não gostou de passar a impressão de que não entenderia o fato ter um professor de Educação Física tarado com tendências para a pedofilia - principalmente por ter certeza que era a única entre as amigas que sabia o significado da palavra 'pedofilia'.

A partir daquele dia, mostrar pros meus coleguinhas que eu não era tão ingênua quanto eu parecia virou quase uma obsessão. Hoje eu penso que a menina de maiô deveria ter ficado feliz em ser protegida da realidade desse mundo cruel, em vez de querer conhecê-lo mais de perto. Mas não ficou. E, quem sabe, foi a partir daí que começou a reagir a acidez dessa Laranja...

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