Eu, mestre!

>> quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Aaaaah, como eu esperei pra escrever esse post!

Sei que já deve ter gente de saco cheio desse mimimi, querendo falar pra mim "Ok, ok, todo mundo já sabe, você é mestre com 22 anos, parabéns, agora senta lá!", e eu não ligo, rs.

Acompanhe a saga do eu, mestranda aqui, aqui, aqui e aqui.

Terminei a monografia no 1/2010, fiz a seleção do mestrado e mais vinte créditos da graduação durante o 2/2010. Em 2011 fiz as quatro matérias do mestrado e comecei a escrever o texto final. Em 2012 finalizei o texto e defendi. Tudo isso trabalhando numa área totalmente diferente (ministério da saúde), 40 horas semanais. Foi difícil! Tenho meus motivos pra comemorar por muito tempo!

Mas isso já está dito na série mestranda, rs. Vamos ao capítulo final dessa novela: a defesa. Terminei o texto no final de setembro, mas a banca só foi marcada para o dia 28 de novembro, por um motivo: o professor, crítico e tradutor Paulo Bezerra foi convidado a participar - aproveitando a sua vinda para um Seminário do meu departamento, dias 29 e 30.

Ok, passei o mês de outubro na flauta, livre, leve e solta, feliz e contente, de férias. Entrou novembro e eu ganhei de presente do meu trabalho a missão de representar o Ministério em Porto Alegre (!!!), terra do Verissimo.

Voltei a uma semana da defesa. E então caí na real: Eu seria a primeira orientanda do meu professor a defender! Paulo Bezerra estava lendo meu trabalho! O cara que traduziu Dostoiévski, o cara que traduziu e interpretou o pensamento bakhtiniano, o cara que eu citei e parafraseei pra falar de Incidente em Antares!

Daí surtei. Imunidade caiu, fiquei resfriada, perdi a voz, fiquei numa tpm eterna de ansiedade e medo: medo mesmo, de não conseguir falar na hora - travar - de "apanhar" muito na banca, de ter errado muito, de não saber responder... medo, medo, medo. 

Por quê? Porque o nível de exposição era muito alto... num trabalho desses estão horas da sua vida, todo o seu melhor, todo o seu potencial, tudo o que você podia oferecer... ali, sujeito à livre avaliação de outras pessoas, a mercê da boa vontade de outras pessoas - pessoas que têm mais autoridade, conhecimento e experiência que você.

E, pessoalmente, quem me conhece sabe que a minha exposição excessiva é fake. Eu evito ao máximo me expor em situações que realmente me atingem. Então, sinceramente, eu não ligo pro que possam pensar do meu jeito, dos meus gostos, das minhas escolhas, da minha aparência - nada disso me atinge negativamente. 
Mas o meu texto é o meu ponto fraco. É o meu orgulho, é a minha vaidade, é onde eu apresento o melhor de mim. E pensar que esse melhor de mim pode ser considerado não tão bom me deixa insegura, ansiosa, faz com que eu me sinta frágil, vulnerável, exposta: me faz ser de novo aquela menina tímida de onze anos que eu era na escola.

Mas ok, não tinha pra onde correr: me arrisquei. E eis que o fatídico e chuvoso 28 de novembro,  aniversário de 37 anos da morte de Verissimo, chegou. Reunida a banca, por pouco mais de meia hora eu falei sobre o meu trabalho, nervosa, engasgando um pouco, mas sem travar. E terminei esperando o pior. Mas veio o melhor: O prof Paulo Bezerra elogiou meu trabalho, logo de saída! Me comparou a Graciliano Ramos, definiu dois parágrafos como brilhantes, elogiou a escrita, a leitura, a análise. Naquele momento coloquei minhas mãos no título de mestre! 

As "batidas" que vieram depois, eu nem senti. Respondi às críticas como pude, e esperei pela fala do prof. Vianney, o segundo membro da banca, que também elogiou meu trabalho antes de tudo: a fluência, a pertinência, a boa escrita - para depois fazer as críticas e observações - sempre de forma gentil e profissional, assim como o prof. Paulo.

A banca deliberou o resultado: APROVADA - com a sugestão de transformar o trabalho em ensaio a ser publicado ou em livro! APROVADA, uma palavra que me libertou de uma tensão acumulada por dois anos! Acabou! Passei! Sou mestre (ou mestra, mas eu não tenho preconceito contra o comum de dois gêneros)! Um dos maiores críticos literários desse país leu - leu de verdade! - e gostou do meu trabalho! Tudo, tudo, tudo valeu a pena!

Então, eu tenho mais é que comemorar, né? Foi difícil, deu trabalho, me comprometi de verdade - e ainda tive que rebolar pra não parar o convívio social, as viagens, enfim, a vida "normal"  por causa disso.

Agradeço a todos que torceram, vibraram, se orgulharam - os agradecimentos oficiais que foram pra dissertação estão aqui. Agradeço aos coleguinhas mestrandos - eu sou vocês amanhã! - e ao meu orientador - agora meu amigo! Agradeço à TL do tuíter e do facebook que presenciou involuntariamente meus surtos a cada prazo, a cada madrugada, a cada véspera.

Agradeço de novo também - e nunca vai ser o suficiente - à minha família, aos meus pais, meus grandes amores, queridos, parceiros, lindos! É tudo pra vocês!

Enfim, chega de racionalizar! Tou feliz, e só quero deixar essa felicidade fluir enquanto ela durar! Só tenho a agradecer! Agradecer, agradecer e agradecer! Obrigada! Essa conquista não valeria nada pra mim se eu não tivesse pessoas tão especiais com quem dividi-la!

Pra quem tiver interesse, assim que eu terminar os trâmites burocráticos pro depósito da dissertação no departamento, converto em pdf e coloco em alguma biblioteca digital. Até lá, fica a dica: leiam O prisioneiro do Erico Verissimo, é curtinho. A minha análise desse romance foi a parte mais elogiada do trabalho :)

E agora, qual será a próxima saga? Eu, concurseira? Eu, doutoranda? Eu, atriz, modelo e apresentadora de TV? Aguardemos!

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Consciência de quê?

>> terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência de que ser negro - e negro de classe média - é não ser o padrão, é não ser o normal, é ser marcadamente diferente - e ainda inesperado!

Consciência de que "ser" negro - quando não "se precisa" sê-lo é um desafio, é uma escolha, uma posição política.
Consciência de que a ascensão social individual quando se é negro é uma traição ética e étnica. 
Consciência de que sim, é chato, é cansativo, é desgastante voltar sempre nesse assunto - mas é preciso! Porque silenciar sobre o racismo, sobre o preconceito e sobre a violência moral e física de que jovens, crianças, mulheres e homens negros são vítimas no nosso país todos os dias é ser conivente - silenciar é fortalecer os grilhões sociais, culturais e econômicos que oprimem nossos semelhantes. 

Silenciar é uma escolha covarde e egoísta. Silenciar é escolher calar uma consciência. Essa tal "consciência negra" que me permite falar do "meu povo" sem nunca ter sido escravizada, sem ter sido agredida pela polícia, sem ter sido rejeitada numa entrevista de emprego, sem ter sido confundida com uma empregada de loja ou como copeira no meu trabalho (opa, esses dois últimos eu já fui!).

Esse texto é pra vocês, amigos negros, que fizeram uma universidade pública, que têm um bom emprego, que moram em vizinhanças caras - que podem escolher passar despercebidos, serem "normais", serem "padrão".

Não o sejam. Não se tornem invisíveis. Há mais do que a estabilidade e o conforto de vocês em jogo. 
Há uma elite majoritairmanete branca que precisa nos ver aqui em cima - e enxergar a nossa cor, a nossa história, e ouvir o nosso barulho - e desistir de nos pasteurizar. 
Há uma juventude negra e pobre que precisa ouvir de nós "Eu te ajudo". E não um "Se eu consegui, você também consegue". Nós conseguimos porque tivemos famílias estruturadas, porque em algum momento da nossa juventude alguém conseguiu nos convencer de que estudar era a melhor escolha.
Por quantos jovens negros você já fez o mesmo? 
Precisamos parar de querer subir, sozinhos, cada vez mais alto nessa pirâmide capitalista, e começar a pensar coletivamente, para depois agir coletivamente.


Só coletivamente seremos respeitados, só coletivamente teremos voz e dignidade, só coletivamente poderemos fazer com que um dia o racismo deixe de ser discutido como problema social - e passe a ser apenas um dado histórico: precisamos falar sobre o racismo hoje para que ele não exista amanhã. 

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