New plan: no plan

>> domingo, 26 de fevereiro de 2012

Olááá, 2012, seja bem vindo ao blog!

Inauguro o ano com um post que ficou mais longo do que deveria, mas que é mais um post que precisava ser escrito do que um que precisa ser lido, então, com licença.


Quem já leu os textos do início do blog sabe a caricatura da história da minha vida: gordinha nerd e sozinha que sofreu bullying na infância, virou rebelde sem causa - porém popular - no ensino médio e a coleguinha extrovertida - porém sensata e bem sucedida, - na faculdade. 
Acho que tenho sido essa nos últimos anos. Desde o meu momento Scarlett O'hara (por esse barro de que sou feita, por esse sol que me ilumina, nunca mais... serei humilhada pelos coleguinhas). 
Parei de me fazer de vítima, e consegui fazer meus amigos sem ter que me encaixar em um perfil pré-fabricado da juventude uenebesta: não virei top na balada, hipster, patricinha, blasè, ou ativista política.
Tive liberdade pra criar e experimentar o jeito "laranjinha" de ser. Mas não é tão simples assim.

Afinal, como você impede que os outros tenham controle sobre quem você é? (resposta no livro de autoajuda mais próximo) Você se apresenta mais ou menos pronto (prazer, laranjinha). Como você impede que os outros zoem de você? Você se zoa primeiro,  mas, claro, usando coisas que realmente não importam pra você, mas que são o suficiente pra fazer o outro rir e esquecer de procurar algo que realmente te irrite  ou te ofenda (essa é um pouco arriscada, confesso que é preciso um certo talento) Como você não é excluído dos eventos, das rodinhas de conversa, dos grupos e panelinhas? Você cria seus próprios eventos, você começa as rodinhas de conversa e a sua própria panelinha (fala sério, essa tá em qualquer filme adolescente da sessão da tarde).

E assim você vai construindo uma personalidade, não necessariamente falsa, mas conscientemente planejada e pensada pra o que você considera ser seu sucesso pessoal. É basicamente isso que os livros de autoajuda ensinam - controle sua vida, seja quem você quer ser, porque você ainda é loser, blablabla. E é por isso que eles vendem tanto: todo mundo que falha com a sua personalidade, digamos, natural ou "não trabalhada" corre pra prateleira mais próxima pra comprar uma nova mais atraente. Nada contra, só acho que não funciona sem um longo e difícil processo de autoconhecimento que ajuda a "escolher" essa nova personalidade - afinal, ela não precisa ser necessariamente falsa, mas vai ser falsa se ela surgir "do nada". 
No meu caso, o que começou como personagem da vida nova na faculdade, é basicamente quem eu sou, talvez um pouco menos laranjinha e um pouco mais ranzinza, mas é basicamente verdade. Até porque nesse tempo eu descobri que não vale a pena tooodo esse esforço pra ser popular. Se eu ainda sou legal pra você, é porque eu gosto, juro!


Tudo isso pra dizer que esses anos de espontaneidade calculada e medo - a palavra é essa: medo - de  uma exposição traumática e não desejada tiveram duas consequências, uma boa e uma ruim. A boa é que uma das minhas duas maiores dificuldades na vida foi muito bem trabalhada: o medo da rejeição alheia. Hoje em dia eu me conheço muito bem, e gosto muito de mim, pra deixar que qualquer "não aprovo, não gosto, não quero" alheio me deixe muito abalada. Eu digo, de todo o coração, "que se dane" e sigo a vida.
A ruim é que a segunda das duas maiores dificuldades foi aumentada. Eu me tornei uma controladora compulsiva, claro. E pros controladores compulsivos é até fácil entender que nem sempre eles vão controlar os outros - que às vezes nossos planos mirabolantes vão falhar porque as pessoas são burras e não nos obedecem, rs - mas não têm resposta pra frustração do seu próprio fracasso. Porque aí, burro é a gente. O mundo lá fora ignorar nossas ordens, ok, mas a gente mesmo não conseguir fazer o que só depende do nosso esforço: frustração, frustração, frustração.

Sei não, hein?
Essa é a confissão de uma controladora compulsiva em crise. Esse ano de 2012, tudo o que estava nos meus planos nos últimos quatro anos vai acabar.  Fim do mestrado (eu tinha decidido emendar até o título de mestre), fim do estágio probatório no trabalho (eu tinha decidido não me preocupar em arranjar outro trabalho até ficar estável), fim da minha turma de catequese, fim de todos os planos que eu tinha até aqui. (2012 é mesmo um ano apocalíptico!)

Me vejo na hora de decidir e planejar como serão os próximos 4, 5 anos - caso ou compro uma bicicleta? tento fazer um doutorado fora de Brasília? viro hippie? andarilha pelo mundo? tento um concurso melhor até passar? viro professora? invento um novo hobbie? largo tudo e vou viver de dança? de escrever? de fazer autoajuda? vou ser globeleza no carnaval 2013? vou ser mãe de trigêmeos?

Por um lado, foi bom ter planejado os últimos anos, muita coisa deu certo. Muita coisa que não dependeu de mim, na verdade, mas que dependeu da minha habilidade de administrar coincidências e oportunidades da vida - isso já é controle. Mas quanta angústia! Quanta ansiedade! Quanto medo de nada dar certo eu tive!

Acho que a pergunta é: eu quero mais do mesmo? Eu quero começar isso de novo?  Eu quero lidar com o medo, a ansiedade, a  sensação de fracasso que me deixa pra baixo de novo? Porque sim, ter um diploma, uma pós, um emprego, isso foi difícil, sim, mas não foi tão "novo": dependia de mim, do meu esforço, da minha dedicação e compromisso, e de, basicamente, ler - uma coisa que eu sei e gosto de fazer, e que eu faço desde os 5 anos.

Mas e agora? Qualquer das opções pro futuro oferece o mesmo teor de novidade. O mesmo risco de dar e de não dar certo. Uma controladora compulsiva por viver com isso? Não. Cadê segurança? Cadê o mínimo de 80% de chances de sucesso? Cadê a certeza de que eu sou boa nisso, de que isso, eu posso fazer?

A única solução que me pareceu viável, então, foi tentar deixar de ser uma controladora compulsiva, pelo menos por enquanto. É, isso aí: new plan, no plan! Tentar fazer algo que eu nunca fiz: sentar e ver o que acontece! Só de pensar nisso tenho calafrios! "Não planejar" ainda é um plano, eu sei. Mas, creiam-me, acho que vai ser a coisa mais difícil que eu já tentei fazer nos últimos tempos. Só enquanto eu escrevia esse post eu já pensei em dias fixos pra atualização do blog, duas viagens longas que eu podia fazer e um tema de tese de doutorado. Mas preciso espantar esses pensamentos o tempo todo! Eu vou só terminar o que eu tou fazendo, e esperar pra ver o que acontece. Se o mundo acabar mesmo em 2012, eu terei evitado a fadiga de planejar mais cinco anos. Se não acabar, prevejo nova crise e novo post gigante no começo de 2013. Mas isso não é um plano, juro.



Vida, seja boazinha comigo.

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