Trecho retirado do volume 2 de O retrato - segunda parte do romance O tempo e o vento, de Erico Verissimo, publicado em 1951. O diálogo se passa em 1910, 4 anos antes da primeira guerra mundial. (2005, p. 136)
***
- Mas por que razão afirmas que a ditadura é a única forma de governar o Brasil? - perguntou Rodrigo.
- Porque este é um país de mestiços e analfabetos. Os eleitores em sua maioria mal sabem desenhar o nome e não têm idoneidade intelectual para escolher seus administradores e legisladores. Cabe, portanto, às elites cultas dirigir o povo e organizar os governos.
Chiru saltou de seu canto.
- E onde fica a democracia? - gritou.
- A democracia - replicou o tenente de artilharia - é uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem é essencialmente bom e que portanto a vontade da maioria será sempre uma expressão de verdade.
Jairo, muito vermelho, sacudia a cabeça, discordando, mas sem dizer o que pensava do assunto.
- E depois - prosseguiu Rubim -, se por um lado a democracia tem como objetivo o bem-estar do povo em geral, por outro a história tem provado sobejamente que essa felicidade só poderá ser atingida por meio dum governo aristocrático. Continuo a afirmar que não tem nenhum sentido lógico ou prático essa busca da felicidade geral. É uma absoluta perda de tempo que atrasa a produção de super-homens. Neste ponto Platão e Aristóteles estão de acordo com Nietzsche ou, melhor, Nietzsche está de acordo com esses dois filósofos clássicos.
Jairo continuava a menear a cabeça, o cenho franzido.
- Pois eu - declarou Rodrigo - sou liberal, isto -e, um partidário da tolerância religiosa, da livre-iniciativa, do livre-pensamento, do respeito ao indivíduo. Acho que todos os homens nasceram iguais e o que os torna desiguais são as circunstâncias e os meios em meio dos quais crescem.
Rubim soltou uma risada e a dentuça projetou-se para a frente, agressiva. Depois de tomar o último gole de vermute, replicou:
- O liberalismo, meu caro Rodrigo, não passa dum disfarce muito transparente do medo. O liberal é um cidadão que se recusa a admitir em voz alta que o homem é um animal de rapina e que o verdadeiro, o único direito que existe na natureza é o direito da força. Por ser liberal ele se considera muito nobre, uma espécie de farol a iluminar o mundo. No entanto, o liberalismo, como o decantado amor cristão, tem origem apenas num sentimento inferior: o medo de que o próximo nos possa fazer mal. Isso nos leva a "amá-lo" (como se tal coisa fosse possível!) a fim de que ele também nos ame ou, pelo menos, não nos queira muito mal nem nos agrida. No entanto, se o liberal se sentisse invulnerável na sua torre de marfim, o que ele faria era seguir a sua tendência natural, ficar indiferente ao próximo ou transformá-lo em seu escravo.
- Absurdo! - aparteou Jairo. - Sem a menor base científica!
Rodrigo aproximou-se do tenente de artilharia e fez-lhe uma pergunta incisiva, marcando bem as sílabas:
- E esse desejo de força, essa necessidade de afirmação que vocês os nietzschianos sentem, não será também um produto do medo?
- Não. É antes um desafio aos deuses!
Ao pronunciar estas palavras Rubim soltou com elas sua gargalhada convulsiva. Rodrigo teve a impressão que estava na frente dum grande boneco mecânico a quem tivessem dado toda a corda para que ele se pusesse a imitar uma dança de são Vito.
- Mas que mérito podemos ter, tenente, nesse desafio a entidades em cuja existência não acreditamos?
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Coisas que não deveríamos aprender pelo facebook
>> domingo, 25 de março de 2012
Não sou dessas incomodadas com a vida alheia que se manifestam sobre tudo nas redes sociais com muitas exclamações!!!!!!! Juro que ignoro as coisas bizarras e sigo com a minha vida, como qualquer pessoal normal deveria fazer. Mas hoje acordei meio troll. Lide com isso, sociedade.
Esse post tem o intuito utilitário de alertar pessoas ~incautas~ sobre os perigos de construir sua base de princípios via facebook (sim, tem gente que pauta sua vida pelas imagens fofinhas do ~frases e pensamentos~)
E, claro, por escrever isso, eu devo ser na verdade uma baranga recalcada, segundo o código moral facebookiano.
Olha o perigo!
Por isso, evite aprender via facebook:
**Valores como "humildade"
RISOS. Eu espero ansiosamente que livros de autoajuda com títulos como "VOCÊ REALMENTE É UM FRACASSADO" ou "VOCÊ É UM PERDEDOR, LIDE COM ISSO" ou ainda "SIM, ELA ESTÁ MAIS FELIZ SEM VOCÊ" sejam publicados e virem best-sellers. Esses livros seriam de ótima ajuda pra gente poder entender que somos criticados não por uma conspiração maléfica do universo contra nós, ou porque todo mundo é RECALCADO e tem inveja do nosso sucesso, mas porque - olha só! - somos falhos, cheios de defeitos e erramos muito durante a vida!
**Noções de sexismo e igualdade de gênero
Sério, quem fez esse? QUEM? Aguinaldo Silva? Aaaah, claro, vamos responder um comentário machista com outro mais machista ainda, ISSO FAZ MUITO SENTIDO! Pois mulher, querida, fica a dica: se você não quer ser cobrada pelos seus dotes historicamente construídos como "femininos", não cobre do homem os valores igualmente construídos como masculinos! Essa frase não faz o menor sentido porque é justamente o homem que "se garante" na cama - cumpre a sua obrigação viril, que vai cobrar de você, cocotinha metida a esperta, que cumpra a sua "obrigação" na cozinha.
AH, TÁ. Os homens só foram "ridículos" até hoje porque não sabiam que você não gosta dessas coisas. Agora, com esse quadrinho, TUDO vai mudar. Agressividade e dirigir sem resonsabilidade tornam o homem - e qualquer pessoa, um bandido. Achar que palavrões, fumar, beber, trair e mentir são característica unicamente
masculinas tornam você ridícula e hipócrita. Publicar esse quadrinho tosco no facebook só mostra pro mundo internético que você vai morrer esperando seu príncipe te resgatar de trás desse PC.
**Máximas de sabedoria ou "Como trabalhar seus sentimentos de maneira comprometida para se tornar uma pessoa melhor"
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"HMMMMMM, É VERDADE!"
** Como argumentar em uma discussão ou como se posicionar perante as grandes questões da vida ou ainda como usar a criatividade para construir suas próprias respostas ao mundo
Entendeu, né? se você concorda, compartilha! Se você É isso, compartilha! COMPARTILHA, CARA! MOSTRA PRO MUNDO! NÃO TRAIA O MOVIMENTO! Posso até imaginar como o facebook teria evitado muito derramamento de sangue na História:
*Se você é a favor do império, curte, se é republicano, compartilha!
*Se você também acha um absurdo que os negros tenham os mesmos direitos civis que os brancos, compartilha!
*CAMPANHA: Hitler, feche os campos de concentração JÁ! Se você apoia o fim do extermínio de não arianos, cole isso no seu mural!
Tudo seria diferente, não? não. Como não é agora!
O quadrinho ao lado é o CÚMULO da preguiça. Sério, o que leva alguém a falar de si mesmo na terceira pessoa na internet? A fazer uma SETINHA pra indicar sua própria opinião? Imagina isso na vida real: Tá vendo essa foto? É a Bruna! Ela ama os pais dela, agradece a Deus pelo dia de hoje, ama os primos, irmãos, tios e avós e dá valor às suas verdadeiras amizades. Ela está pronta para receber ovos de páscoa, torcerá para o flamengo mesmo na derrota e se lembra que assoprava o cartucho do supernintendo na infância. Gente boa ela, né?
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Sim, eu sei que todos passamos por coisas parecidas na vida e que temos reações parecidas, mas, poxa, nem por isso temos que simplificar tudo o que a gente sente a frases feitas e quadrinhos mal feitos, né?
Acredito que cada um tem capacidade de se expressar com suas próprias palavras e não faz isso por preguiça, porque vivemos no automático. Afinal, pra que perder tempo refletindo seriamente sobre meus próprios sentimentos e tentar expressar isso de uma maneira única e renovadora, se eu posso simplesmente compartilhar um quadrinho com flores ou um por do sol ao fundo, né?
Quanto mais as pessoas têm preguiça de viver e compartilhar - não quadrinhos, mas experiências reais de vida, mais eu tenho preguiça das pessoas.
Quanto mais as pessoas têm preguiça de viver e compartilhar - não quadrinhos, mas experiências reais de vida, mais eu tenho preguiça das pessoas.
Eu amo o facebook, e não sou nem um pouco fiscal da internet. Mas fica aí a dica e umas risadas pra quem gosta de uma dose saudável de ironia: NÃO APRENDA ESSAS COISAS CITADAS ACIMA PELO FACEBOOK, CRIANÇA! Vá ler um livro, pergunte pro seu pai, converse pessoalmente com seus amiguinhos na mesa de um boteco, e deixe o facebook só pra stalkear a vida alheia, mostrar pra ex que você já está saindo pra todas as baladas e postar fotas da sua vida offline (tenha uma!), que pra isso ele serve bem.
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Dia da Poesia =D
>> quarta-feira, 14 de março de 2012
Nunca soube ao certo o que dizer pros coleguinhas que vinham com seus poemas pra eu ler e dar minha opinião. "Tá bom...", eu dizia, meio sem graça... Sem graça porque na verdade eu queria dizer: "Vira homem, rapaz, vai pegar umas mina e sai dessa dor de cotovelo!" ou "Menina, deixa de ser boba... sua alma não tem nada dessa profundidade sombria e solidão eterna que você acha que canta nesse poema! Você tem quinze anos e levou um é na bunda! Você sobrevive!"
Mas enfim, os jovens poetas da minha escola estavam a apenas uma geração dos emos, não vamos julgar. O fato é que eu nunca gostei de poesia amadora, mas também nunca soube julgar o que seria uma boa poesia assim, de primeira. Não me meti a fazer versos porque achei, e acho ainda, que todas as boas poesias já foram escritas - tá tudo pronto! sei que não posso fazer nada melhor, em verso! pra que escrever? (sou estranha por pensar assim?)
Mas, a despeito de tudo isso, tem uma forma de poema que sempre me dobra e sempre me fascinou: o soneto.
Ah, o soneto! Símbolo da prisão da alma poética para os modernistas! Certinho, regrado, definido, analisável! LINDO!
Não é fascinante o modo como sentimentos tão amplos, profundos e humanos cabem nessa fórmula quase matemática? quatro estrofes: duas quadras e dois tercetos, um fecho de ouro e, voi'lá! Tá pronto! Não sou tããão parnasiana a ponto de achar que o soneto se basta sem nenhum sentimento... mas não gosto desse amor esparramado e desesperado que flui muito além dos versos decassílabos.
Que os moderninhos dos versos livres e brancos se mordam, mas continuo achando que um bom poeta consegue dizer tudo o que quer dizer em um simples e honestíssimo soneto.
Pra provar meu ponto, copio aqui alguns dos mais famosos e dos meus preferidos - escolha uns dois pra ler a aproveite :)
Soneto da Separação - Vinícius De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Soneto XVIII, Shakespeare Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno Às vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes obscurece com frieza; O que é belo declina num só dia, Na eterna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás exausta ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos ardentes te farão viver Cantem outros a clara cor virente - Alphonsus de Guimarães Cantem outros a clara cor virente Do bosque em flor e a luz do dia eterno... Envoltos nos clarões fulvos do oriente, Cantem a primavera: eu canto o inverno. Para muitos o imoto céu clemente É um manto de carinho suave e terno: Cantam a vida, e nenhum deles sente Que decantando vai o próprio inferno. Cantem esta mansão, onde entre prantos Cada um espera o sepulcral punhado De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos... Cada um de nós é a bússola sem norte. Sempre o presente pior do que o passado. Cantem outros a vida: eu canto a morte... Dualismo - Olavo Bilac Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, entre maldições e preces, Como se a arder no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal padeces; E rolando mum vórtice insano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas com as virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora. Hino à Razão - Antero de Quental Razão, irmã do Amor e da Justiça, Mais uma vez escuta a minha prece. É a voz dum coração que te apetece, Duma alma livre só a ti submissa. Por ti é que a poeira movediça De astros, sóis e mundos permanece; E é por ti que a virtude prevalece, E a flor do heroísmo medra e viça. Por ti, na arena trágica, as nações buscam a liberdade entre clarões; e os que olham o futuro e cismam, mudos, Por ti podem sofrer e não se abatem, Mãe de filhos robustos que combatem Tendo o teu nome escrito em seus escudos! Vaidade - Florbela Espanca Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspiração pura e perfeita, Que reúne num verso a imensidade! Sonho que um verso meu tem claridade Para encher todo o mundo! E que deleita Mesmo aqueles que morrem de saudade! Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! Sonho que sou Alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho...E não sou nada!... Camões Transforma se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sòmente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. A CAROLINA - Machado de Assis Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs um mundo inteiro. Trago-te flores, - restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos E ora mortos nos deixa e separados. Que eu, se tenho nos olhos malferidos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos. Oficina irritada - Carlos Drummond de Andrade Eu quero compor um soneto duro como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro, seco, abafado, difícil de ler. Quero que meu soneto, no futuro, não desperte em ninguém nenhum prazer. E que, no seu maligno ar imaturo, ao mesmo tempo saiba ser, não ser. Esse meu verbo antipático e impuro há de pungir, há de fazer sofrer, tendão de Vênus sob o pedicuro. Ninguém o lembrará: tiro no muro, cão mijando no caos, enquanto Arcturo, claro enigma, se deixa surpreender. Soneto Sonhado - Manuel Bandeira Meu tudo, minha amada e minha amiga, Eis, compendiada toda num soneto, A minha profissão de fé e afeto, Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga. O que nalma guardei de muito antiga Experiência foi pena e ansiar inquieto. Gosto pouco do amor ideal objeto Só, e do amor só carnal não gosto miga. O que há melhor no amor é a iluminância. Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria De onde? Dos céus?... Dos longes da distância?... Não te prometo os estos, a alegria, A assunção... Mas em toda circunstância Ser-te-ei sincero como a luz do dia. Soneto 247 - Petrarca Talvez suponham que em louvar aquela que adoro, eu exagere-lhe o perfil, dizendo-a entre as demais, alta e gentil, santa, sábia, graciosa, honesta e bela. Mas eu sinto o contrário; e temo que ela despreze o meu louvor por ser tão vil, digna de algo mais alto e mais sutil, e quem não o acredite venha vê-la. Então dirá: Aquilo a que este aspira é de estancar Atenas, como Arpino, Mantua e Smirna e uma e outra lira. Língua mortal estado tão divino não pudera cantar. Se amor me inspira não é por eleição, mas por destino. Soneto XVII - Neruda Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo: te amo como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma. Te amo como a planta que não floresce e leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores, e graças a teu amor vive escuro em meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra. Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira, senão assim deste modo em que não sou nem és tão perto que tua mão sobre meu peito é minha tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho. Se eu Fosse um Padre - Quintana Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado - muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte - um belo poema sempre leva a Deus! Soneto do Amor Maior (sim, Vinícius de novo!) Maior amor nem mais estranho existe Que o meu,que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre,fica triste E se a vê descontente,dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração,e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu,que quando toca,fere E quando fere vibra,mas prefere Ferir a fenecer -e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado,doido,delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo. |
E viva o dia da poesia!
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Eu, mestranda #3
>> segunda-feira, 5 de março de 2012
Última semana de férias da graduação da UnB, penúltima da pós, eu me despeço docemente de três meses de paz e descanso, certo?
Errado! Continuando a saga #Eu, mestranda (leia as partes um e dois), eu começo mais um semestre - que pode ser o último - na vida de pós graduanda. Cumpri todos os créditos - 16, quatro matérias, e, a partir de agora, posso focar meus esforços para a escrita da dissertação. Metade dela já está pronta - escrevi no último ano, enquanto cumpria os créditos.
Então é só sentar, relaxar e escrever como se não houvesse amanhã! Eu já li todos os textos, fiz todas as disciplinas, fichei todos os livros. É só escrever. Só sentar e escrever. Escrever...
Pressão? Sem pressão! Escreve aí... |
E aí vem o bloqueio criativo. Eu não quero escrever, não consigo nem abrir o word. Vou ver seriado, ficar no facebook, correr, lavar a louça, arrumar meu quarto - qualquer coisa - menos escrever. Tenho passado por isso nesses primeiros meses do ano, e já passei antes, no ano passado, a diferença é que agora não tenho pra onde correr. Não falta mais nada: só escrever.
É por isso que venho pro blog! Pra ver se essas trinta linhas que eu escrevo aqui dão um "start" dissertativo e o bloqueio passa. Vamos ver se funciona dessa vez.
No mais, eu estou muito feliz, animada, empolgada com a perspectiva de me tornar mestre ainda esse ano. É um título que eu sempre quis, e sempre quis conquistar cedo! E tem sido uma experiência que fez com que eu me conhecesse melhor - e crescesse. Tenho que enfrentar meus medos, bloqueios e ansiedades, e dar um jeito de lidar com eles, vencê-los! (e ainda houve boatos de que quem passa muito tempo estudando não tem experiência de vida) Na literatura, isso é ainda mais mentiroso: além da minha própria experiência de vida tenho a de Bentinho, Mme Bovary, Lucíola, Basílio, Brás Cubas, Ana Terra, Bibiana, Hamlet, Sancho Pança, Virgília, Raskhonikóv e tantos, taaantos outros personagens que passaram por essas retinas já fatigadas! Cada um deles me ensina alguma coisa, sobre literatura, sim, mas, principalmente, sobre a vida (acho que é por isso que às vezes eu me sinto bem mais velha do que eu sou).
Mas o tempo de leitura, por enquanto, acabou. É tempo de escrever minha própria história - a dissertação é uma história que eu conto e que a banca precisa acreditar, rs. Essas vozes de tantos "outros", reais e fictícios, precisam passar pelo meu processo de escrita, tornando-se criação minha. Responsabilidade minha. Mérito meu. (e isso dá medo!) Minha esquizofrenia literária precisa virar um novo texto de 50 páginas! Mãos à obra!
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