Eu, mochileira - #FAQ

>> terça-feira, 31 de julho de 2012

Quem me tem adicionada no facebook ou me segue no twitter já sabe que estamos em ritmo (ritmo de festaaaa) de férias! Embarco dia 04 de agosto, no próximo sábado, rumo aos Andes, e volto Deus sabe quando (brincadeira, volto dia 02 de setembro). É claro que eu vou blogar essa aventura quando eu voltar (assumindo que eu volte). Por enquanto ficam as frequently asked questions quando eu conto a novidade prozamigo.


Bruna, você é louca?
Não, minha mãe me testou (#sheldonfeelings).

Mas você vai com quem?
Vamos eu e Deus.

Mas você vai sozinha?
Eu e Deus, moço, já disse. Já combinei tudo com Ele.

E quanto tempo você vai ficar?
30 dias.


Pra onde você vai mesmo (sozinha!)?
Vou fazer um mochilão pela América do Sul. Desço de avião em Sta Cruz de la Sierra, na Bolívia, e de lá passo por cidades de Bolívia, Chile, Peru, tudo de ônibus ou 4x4, e depois volto pra Sta Cruz e venho embora (se o Pablo Juan Martín deixar).

Mas você vai sozinha?
Afffff!

E sua mãe deixou?
Eu sou de maior, e (agora) vacinada e estou custeando a viagem com meu rico dinheirinho - ok, com um trocado do banco também - ! Mas sim, acho que ela deixou... ou vai deixar quando eu contar pra ela, no aeroporto.


E você não podia ter ido pra Miami comprar muamba? Porque você escolheu esse destino? O que tem pra fazer lá?


Eu já tinha decidido viajar um mês inteiro, quando terminasse a dissertação. Marquei as férias ano passado ainda. Pensei que por agosto eu já teria defendido, já seria mestre, yey, e tal. Mas acabou que o ano foi passando e nada de defesa marcada. Daí conversei com meu orientador que eu ia tirar um mês de férias. Ele disse "ok", você termina o texto, e a gente agita a banca quando você voltar. Ok. Eu precisava colocar um ponto final no texto. Só consegui fazer isso dia 15 de julho, vinte dias antes das minhas férias. Daí pensei, "lascou, como eu vou planejar um mochilão em vinte dias?". De link em link, achei um roteiro mega detalhado no site mochileiros.com, do tipo "mochilão para newbies" e pensei: "isso até eu consigo fazer! Vou fazer!" 
As principais atrações do roteiro são o Salar de Uyuni, o Deserto de Atacama, as linhas de Nazca, Machu Picchu e o  Lago Titicaca, mas tem muito, muito mais coisas. E, fala sério, se eu for pra Miami vai ser pra conhecer a casa do Dexter, não pra comprar muamba!

Você não tem medo de morrer de malária? Cólera? Tétano? Raiva - e todas essas doenças infecciosas que matam milhares de turistas todos os dias nesses países?

Bitch, please. Pra entrar nesses países é exigida apenas a vacina contra a febre-amarela. Em algum momento da minha vida eu já devo ter tomado antitetânica e antirrábica. A recomendação de todo mundo é só tomar água mineral, de garrafinha - tranquilo de ser feito. O que eu posso ter, no máximo, são efeitos colaterais da diferença de altitude (enjôo, dor de barriga, tontura), uma infecção alimentar de leve ou ter o azar de montar em uma mula suicida. Tenho medo? Tenho. Mas pra morrer basta estar vivo, né não? Pelo menos vou me livrar de voltar e encarar a banca da dissertação (#humornegrodetected). Enfim, parem de me agourar! Acho de verdade que eu tenho muito mais a ganhar - em amigos, experiências, histórias e visuais incríveis; do que a perder - uns quilinhos que vão embora com a desidratação, rs.


Mas você vai sozinha? Você é mulher! E vai sozinha?


Cara, juro que se me perguntar isso mais uma vez eu paro de brincar. Quer ir comigo? Tem férias junto com as minhas? Tem dinheiro pra ir? Então pronto! Mais fácil fazer de um mochileiro no caminho um amigo do que fazer de um amigo um mochileiro. (e obrigada por notar que eu sou mulher, se você não diz eu nunca iria saber.)


Okkkk! Easy, girl! Traz um pife de bambu e uma blusa de alpaca pra mim, então?

Se couber na mochila, e se o Juan Pablo Martín deixar eu voltar, trago sim!

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é impossível ser feliz sozinho

>> sexta-feira, 20 de julho de 2012


O ano tem bem uns cinco "dias do amigo", e eu nunca sei qual é o de verdade. Mas digamos que hoje, 20 de julho, seja um dia especial pra nós celebrarmos a presença de pessoas que interferem de forma tão marcante na nossa vida. Então, Feliz do amigo =D

Minhas relações com essa coisa de amizade sempre foram muito apaixonadas. Quando eu criança, os amigos - os "melhores amigos" eram a coisa que eu mais prezava no mundo. Eu sempre fui uma amiga apaixonada, dedicada, sempre quis ser a melhor amiga que alguém pudesse ter. Sempre quis fazer parte "das meninas": "As meninas vão pro cinema amanhã, as meninas já montaram o grupo, as meninas vão dormir na casa de fulana". Mas eu não era "das meninas", era das cdf's. Então eu só participava quando era do interesse "das meninas". E assim eu fui crescendo meio sozinha, no meio dos meninos, bem mais fáceis de lidar, e dos livros, companhias bem mais presentes. 
Depois daquele fatídico dia em que a escola inteira zombou de mim, as coisas mudaram um pouco. Parei de querer fazer parte "das meninas" e fui criar o meu próprio grupo de "meninas". 
Acho que nesse ano, na sétima série, foi a primeira vez que eu me senti segura e confortável entre amigos, sem o sentimento de inferioridade [vindo sabe freud da onde] que sempre me acompanhou nos anos anteriores (e me assombrou nos anos seguintes também).
O fato é que, até entrar na UnB, meus amigos sempre foram feitos na escola. Era onde eu passava a maior parte do meu tempo, era onde toda a minha vida acontecia. Era onde eu mais gostava de estar. A UnB mudou tudo. [Mas isso é assunto para outro post.]

Ter amigos como os que eu tenho hoje é uma das coisas que mais me dão momentos felizes na vida. E eu nunca achei que seria assim. Sempre quis. Desde sempre, sem motivo aparente, eu valorizei muito a amizade na minha vida. Por esperar muito dela, tive grandes decepções e frustrações. Foi só quando parei de cobrar tanto e de oferecer mais, quando eu parei de apostar todas as minhas fichas num "Melhor Amigo", que eu pude ter amizades realmente desinteressadas, leves, livres. 




O "mito" do melhor amigo - a necessidade de ter um, e de ter que acreditar que aquela pessoa, e SÓ aquela pessoa vai e precisa estar presente em todos os momentos da sua vida, sempre pronto pra te ajudar, é uma das coisas mais enganosas e egoístas que a gente aprende na infância. Só quando eu me livrei dele é que pude ser amiga de verdade, não de UMA só pessoa, mas de quem estivesse disposto a se comunicar comigo. Amizade precisa ser compartilhada, multiplicada, elevada à décima potência! Só quando entendi que uma amizade sincera é baseada em franqueza (e não em "vou concordar com você em tudo"), em boas conversas, (e não em "relatórios da vida"), em se sentir confortável com a outra pessoa (e não em cobrança), é que passei a ter bons amigos, antigos e novos, mas, principalmente, muitos! Amizade é sinônimo também de intimidade, que às vezes você demora muito tempo pra conquistar, às vezes não. Às vezes você consegue manter, às vezes não. Mas que você só consegue se estiver aberto. (Na verdade eu sempre estou disposta a abrir as pessoas, caso você precise de uma ajudinha, hahaha)
Hoje em dia eu praticamente coajo as pessoas as serem minhas amigas, porque acredito de verdade que elas sempre podem me mostrar mais do que estão mostrando. Algumas não gostam mesmo e acabam se fechando mais - mas a maioria só estava esperando esse empurrãozinho pra se sentir confortável pra se expor um pouco mais. 

Há amigos pra vida toda, e amigos pra bons momentos - e eu quero todos eles! 

Para os meus caríssimos amigos hoje, digo: preciso de vocês! [Mas não tenham dúvidas de que quando vocês não me quiserem mais, eu vou arranjar novos amigos, porque, fala sério, eu sou muito legal, hahaha]
Gosto sinceramente de vocês, vibro de alegria quando seus planos dão certo, sinto a tristeza de vocês quando eles dão errado. Estou quase sempre pronta pra ouvir e discutir o assunto mais aleatório, suporto os defeitos de vocês com a mesma paciência com que vocês suportam os meus, e com o tempo vou até aprender a gostar deles. Sejam os de muito ou de pouco tempo, os de uma vida ou de uma tarde qualquer: contem comigo! Contem com a minha sincera disposição de amar vocês como vocês são! 

Aos brothers mais especiais, íntimos e gostosos: Obrigada por esse amor, por esse carinho, por essa preocupação com as minhas maluquices e total falta de juízo! Obrigada por compartilharem a vida de vocês comigo, por me deixarem fazer parte dos momentos mais importantes dela! Obrigada por ouvirem minhas novelas, presenciarem meus surtos, entrarem na minha loucura particular! [Vocês sabem quem são vocês, né?] 







Ultimamente sempre tenho ido dormir com a sensação - a certeza - de que tenho os melhores amigos do mundo, dentro e fora de casa. Espero que esse sentimento não vá embora, e que eu possa retribuir esse amor, com mais amor, mais amor, mais amor, mais amor...com amor [porque amizade é só mais um nome pra ele!]



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O Sumo da Laranja

>> domingo, 15 de julho de 2012

(sim, eu adoro esse meme)
O Sumo da Laranja existe desde 2008 e é filho de dois blogs que eu tinha antes, e neto dos diários que eu mantenho desde os 11 anos. Os diários nasceram da minha necessidade de me explicar pra mim mesma, e de exercitar esse meu prazer de escrever, de lidar com as palavras, montá-las, desmontá-las, ver como elas se encaixam e transformam umas às outras. (aquele prazer de criança de desmontar brinquedo, de ver como o carrinho é por dentro, sabe?) Secretamente eu esperava que alguém lesse meu diário e, magicamente, sem que eu tivesse que passar por todo o constrangimento de me expor de propósito, descobrisse de repente a pessoa profunda, inteligente e cheia de desejos que eu era - e os realizasse por iniciativa própria. Pro meu azar, quando finalmente alguém pegou um dos meus diários, não havia nenhuma profundeza nele, só o registro do meu maior e primeiro surto de vaidade e necessidade de autoafirmação que eu já tive até hoje. (ah, os meus quinze anos que não voltam mais...)
Felizmente o surto passou e logo as páginas voltaram a ser preenchidas com as minhas angustiazinhas, ansiedades e imperfeições. Mas nessa altura eu já sabia que ser ouvida e entendida pelas pessoas não dependeria só de guardar tudo o que eu pensava sobre eles no fundo do meu armário. Eu teria que me mostrar, me expor. Chamar atenção, pedir por ela, admitir que eu precisava dela, que eu precisava me comunicar, que eu tinha cansado de viver acompanhada pela minha solidão. 
Nessa época, quando eu já tava também entrando na UnB eu fiz o primeiro blog, que tem um valor, digamos, histórico: neles estão os textos que eu recuperei dos meus diários mais antigos. Na minha primeira greve da UnB, fiz o segundo, que durou só dois posts. O laranjassumus foi a terceira tentativa, e, bem ou mal, tá aqui até hoje, já há quatro anos. Pra ele eu até pedi prum coleguinha fazer um layout personalizado, vi tutorial de html pra aprender a colocar as opções de facebookar e tuitar e essas frescuras todas. Mas tou bem longe de ser blogueira de verdade.

***

Daí agora tou me perguntando o que eu quero com esse blog, por que eu tou aqui num sábado, uma da manhã falando da minha vida pra gente que eu nem conheço? Um blog que nem tem o tema definido: tem as crônicas engraçadinhas, as lembranças da infância, as séries nunca terminadas (preciso terminar a dos populares anônimos!), a tentativa frustrada de convencer o povo a ler mais literatura (vamo ler, gente, ler é bom!), que traz os alunos de ensino médio querendo copiar trabalho na internet todos pro meu blog, hehehe, os textos de opinião nas polêmicas, os de reflexão sobre a vida... tudo misturado! - e agora me ocorreu que isso não é o que me irrita no blog, é o que me irrita em mim mesma... se o blog é o sumo da laranja... se a laranja sou eu... oh, wait!
Quer dizer então que essa mistura toda, sem método, sem foco, sem disciplina, sem constância... sou eu? agora entendi porque é uma hora da manhã de sábado e eu tou aqui! isso é melhor que terapia, gente. E é de graça!

***

Voltando pro "estar longe de ser blogueira de verdade", eu acho que eu quero me tornar uma. Talvez seja bom eu deixar que escrever seja um pouco mais que um hobby, e seja quase uma obrigação. Talvez.

O que eu sei é que eu sinto cada vez mais gosto em me comunicar! Trocar experiência de vida, dividir a minha loucura, receber um pouco da loucura do coleguinha - me impressionar com ela, me surpreender com ela! Eu acho que esse é um pouco (quanta indeterminação!) o meu sonho de vida, no fim das contas. Aquilo que, citando Fernando Pessoa, eu tenho de realmente meu, de impenetravelmente e inexpugnavelmente meu.

(Por aqui no blog, eu falo bem mais  do que escuto, porque vocês são muito preguiçosos pra comentar, mas eu sei que vocês leem porque mais cedo ou mais tarde vocês acabam falando comigo. Mas falem mais, falem mais! Vamos dialogizar até o chão!)

Eu escrevo aqui em muito pra satisfazer a vaidade da poetisa eleita, mas a vontade de comunicação com as outras ilhas do arquipélago é genuína! (e é um problema também, porque tudo seria bem mais fácil se eu fosse autossuficiente - ou se pelo menos eu pudesse mentir pra mim mesma que sou!). 
Então, se o que tá me irritando no blog é essa falta de foco de assunto, isso só vai mudar nele se mudar antes em mim. E no fim das contas talvez eu só precise arranjar um jeito de conciliar a escritora irônica e engraçadinha com a colunista social, com a imitadora de Paulo Coelho, com a crítica literária, com a comentarista de  headline, com a porta-voz dos oprimidos. E talvez disso saia uma escritora boa.

(Acabamos - eu e todas as escritoras dessa redação esquizofrênica que tem sede na minha cabeça - de fazer reunião de pauta e decidimos: vamos tentar! Aguardemos o resultado disso)


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Em definitivo

>> quarta-feira, 11 de julho de 2012


Esse é o terceiro post diretamente motivado pelo fim do meu namoro.  E também o último. Talvez ele não seja de todo necessário, mas eu preciso desse marco simbólico antes de abandonar as metáforas e as meias palavras, os "leitores" e as "conchinhas". Há tempos quero falar abertamente das minhas novas histórias, da minha nova rotina, das minhas novas experiências. Mas sempre que tentava fazer isso, uma voz aqui dentro me recriminava, me segurava: Calma, ainda não! Vai que...?
Hoje eu calo essa voz. Sim, demorou, porque, clichê dos clichês, pras coisas do coração só mesmo o Tempo. É o tempo que deixa a gente usar com segurança o pretérito perfeito: amei, acabou, sofri, falei, passou; e abandonar de vez os esperançosos subjuntivo do pretérito imperfeito e futuro do pretérito: e se... ( falasse, descobrisse, sentisse),  será que (seria, voltaria, amaria)?
Os nossos tempos verbais falam mais do que a gente conscientemente deixa e deseja.


Nesse post definitivo coloquei os verbos no tempo do fim da relação. 
Vivi todas as fases, que agora - só agora -  relembro sinceramente de coração leve e sem pesar:


  
Been there, done that.
A fossa com sorvete, cortinas fechadas, Adele (nevermind é o caramba!), Chico Buarque (quando você me deixooou..) e Leoni (sim, porque o pé que ele levou da Paula Toller rendeu as músicas de fossa mais fossa da mpb! Pra quem quiser passo as dicas depois!). 
As conversas chorosas com os amigos e o desespero do nunca mais: nunca mais vou amar, nunca mais vou ser amada, nunca mais cinema, nunca mais romance, nunca mais feliz
O "não quero te ver nunca mais", que na verdade quer dizer "eu só queria que você me amasse" e o "vamos ser bons amigos", que na verdade quer dizer "tou aqui por perto, se mudasse de ideia". 
A sensação estranha e inesperadamente boa de experimentar outros cheiros, outros beijos, outros abraços. 

Saaaai, biscate!
O ciúme irracional e retroativo de saber que a outra parte também faz isso, e com todo o direito, claro, o que mesmo assim não faz doer menos. 
A vontade de partir a cara da(s) biscate(s), e a força pra  recuperar a lucidez e o autodomínio (proeza que nem todas conseguem, vide caso Yoki). 
O momento doloroso e difícil de explicar pro seu ego e pra sua autoestima que não, você não é inesquecível, irresistível e insubstituível. 

Efetivo!:)
A inesperada confusão de pensar, de ver que está apaixonada de novo (mas como? Mas como? Eu não amava esse?), e de não saber se está mesmo apaixonada de novo, ou se é a mesma paixão de antes apenas realizada em outra pessoa (olha o nível da loucura!). 
A coragem de dar uma última oportunidade pro velho amor antes de se lançar no novo - e nesse "se lançar" admitir pra si mesmo que o novo pode um dia ser velho também, e depois ter outro novo, e outro, e outro. 







A surpresa de ver que enquanto você hesitava e media as palavras e os sentimentos a outra parte já tinha resolvido tudo na cabeça dela e esquecido de te contar.
A ousadia de se deixar levar de novo e sem medo pelo encanto inebriante da expectativa da nova paixão, da nova personalidade a ser aos poucos descoberta, da nova pessoa a fazer parte da sua vida - por pouco ou muito tempo, pra ser ou não feliz, não importa! Importa a alegria, mesmo que pueril ou passageira, que jazia quase esquecida, da novidade, do desconhecido, do inesperado, do vir a ser do tempo futuro. (e nesse quesito tenho ainda a teoria de que essa paixão pode ser igual àquele café usado pra "limpar" o olfato e o paladar durante uma degustação, hahaha. Eu sei, eu sou louca).

E por fim, a última fase, a que eu concluo hoje: a franqueza de falar do que passou sem mágoa, sem rancor, sem vergonha de admitir que sofreu, mas também sem cair na armadilha da memória que quer fazer parecer que só o passado é que foi bom. De falar com saudade, mas sem saudosismo. De conseguir lembrar com carinho, mas sem nostalgia. De enxergar no outro o "outro" que hoje ele é: exterior, independente, fora de mim.
Acho que essa recapitulação sentimental a gente só consegue fazer quando passa pela última fase mesmo. É claro que o processo todo é doído, é confuso, é cheio de ansiedade. Mas (mais um clichê aqui, porque afinal não tem clichê maior que a fossa) sou da teoria que diz que a gente tem mesmo é que passar por todas elas, com muita paixãão, com muita dor de cooorno mesmo, se for o caso, com  muita Adele e "We could've had it all", pra quando passar, passar de verdade, e quem sabe virar uma reflexão honesta pra gente mesmo e direta com quem tem que ser, como a que eu acho que fiz agora.

Com essa humilde vaidade me despeço e despeço do blog essa história, todo esse mimimi de pós-término que vocês - e eu - já cansaram de ler e ouvir, enfim, esse amor. Que foi bom, foi bonito, foi de verdade. Mas é isso, em definitivo, no pretérito perfeito: foi.

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Sobre (re)começos

>> domingo, 1 de julho de 2012

Dou o primeiro passo todo domingo,
todo dia 1º, todo ano novo
e em todos os meus aniversários.
Na nossa forma ocidental (linear) de marcar o tempo nós estamos sempre entre intervalos de começo e fim. Temos vários começos, bem definidos, e criamos todo um apego supersticioso a eles: precisamos dessas pausas definidas para pensarmos, prepararmos, organizarmos um futuro: tudo o que virá depois desse começo. Mas, é claro, apostar tudo num começo só seria muito arriscado. Daí o maior consolo que fracionar o tempo pode nos dar: infinitos recomeços, pontos de partida, chances de planejar e tentar de novo, a depender da nossa ansiedade: assim, pensamos na próxima hora, no próximo mês, no próximo ano ou, até mesmo, para os que nela acreditam, na próxima vida.

Confesso que apesar de admirar teoricamente o tratamento oriental (circular) do tempo, onde fim e começo não existem de maneira concreta, na prática, sou uma grande refém dessas quebras temporais, e da capacidade magnética que elas têm de atrair todas as minhas grandes decisões. Sou do tipo de pessoa que nunca começará um projeto numa quarta-feira, no meio de um mês de maio ou outubro ou às quatro da tarde. O princípio procrastinador que rege a minha vida me leva a jogar tudo para o começo da próxima fração de tempo marcada no calendário ou no relógio.

Número de viagens, de risadas,
de paqueras e de
caracteres na minha dissertação
Por isso, hoje, dia 1° de julho, primeiro dia do primeiro mês do segundo semestre do ano, domingo, primeiro dia da semana, é quase um dia cabalístico para pessoas como eu. Representa um recomeço parcial dentro de uma fração de tempo maior, um ano, e, tal qual fazem os avaliadores de desempenho empresariais, dentro de mim uma equipe avaliadora mostra gráficos e apresentações  de power point que indicam as metas cumpridas, os déficits nos ganhos, a ineficácia das minhas estratégias de marketing e as variações perigosas do mercado. Tudo isso pra me mostrar os caminhos e desafios para cumprir a meta final do ano.

Mas, como vocês devem se lembrar, esse é um ano atípico nas minhas Organizações com metas e expectativas muito reduzidas. Só o que posso avaliar são os resultados do plano (louco) de não ter planos.

Contra todas as previsões dos economistas mais balizados, a avaliação geral é de que o plano de não ter planos deu bons resultados organizacionais. Tudo o que eu teimei em planejar revelou-se como mau investimento, e as coisas mais inusitadas foram de longe as mais lucrativas!

O resultado dessa onda de otimismo é que nesse momento de reavaliar e repensar metas - porque apesar dessa "vibe relax" eu ainda não dispenso (e talvez nunca dispense) meu método e minha maneira quadradinha, cartesiana de pensar na vida - eu encaro com menos medo, e mantenho, a decisão de não planejar os próximos seis meses e ficar à deriva nesse ano apocalíptico com ares de fim de mundo.


Com a aura mística desse "começo do fim" de 2012, faço esse balanço parcial, vejo o peso das coisas que deixei pelo caminho e das quais abri mão (me libertei?) até aqui e penso que se por um lado não posso ter grandes expectativas, por outro também não penso com medo e ansiedade no futuro que na minha linha do tempo começa amanhã.

Vivo bem nesse nosso tempo divididinho e cheio de frações e suspensões atemporais, embora pense que talvez essa não seja a melhor forma de tratar o tempo. 
Mas foi nela que me criei, superestimando datas, aniversários, passagens de ano e grandes acontecimentos em geral em torno dos quais muitas vezes organizei minhas decisões na vida. Sei que os superestimo (o primeiro passo é admitir, o segundo eu nunca dei) e que isso é e foi para mim causa de ansiedades, angústias e, principalmente, de muita procrastinação - sempre deixo as grandes decisões para a próxima data importante. 


Mas na próxima data cabalística, no próximo balanço parcial, enfim, no próximo (re)começo eu lido com isso.

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avulsas #5

Da terceira parte de O tempo e o vento, O arquipélago, vol. 1 (Verissimo, 2005, p. 264)


- Estive pensando... - continuou Floriano - Nenhum homem é uma ilha... O diabo é que cada um de nós é mesmo uma ilha, e nessa solidão, nessa separação, na dificuldade de comunicação e verdadeira comunhão com os outros, reside quase toda a angústia de existir. [...]
E a comunicação entre as ilhas é das mais precárias, por mais que as aparências sugiram o contrário. São pontes que o vento leva, às vezes apenas sinais semafóricos, mensagens truncadas  escritas num código cuja chave ninguém possui. [...] Tenho a impressão de que as ilhas do arquipélago humano sentem dum modo ou de outro a nostalgia do Continente, ao qual anseiam por se unirem. Muitos pensam resolver o problema aderindo a um grupo social, refugiando-se e dissolvendo-se nele, mesmo com o sacrifício da própria personalidade. E se o grupo tem o caráter agressivo e imperialista, lá estão suas ilhas a se prepararem, a se armarem para a guerra, a fim de conquistarem outros arquipélagos. Porque dominar e destruir também é uma maneira de integração, de comunhão, pois não é esse o espírito da antropofagia ritual? [...]
O que importa para cada ilha é vencer a solidão, o estado de alienação, o tédio ou o medo que o isolamento lhe provoca [...] 
Estou chegando à conclusão de que um dos principais objetivos do romancista é o de criar, na medida de suas possibilidades,  meios de comunicação entre as ilhas de seu arquipélago... construir pontes... inventar uma linguagem, tudo isto sem esquecer que é um artista, e não um propagandista político, um profeta religioso ou um mero amanuense...

Da terceira parte de O tempo e o vento, O arquipélago, vol. 2 (Verissimo, 2005, p.114)

- Sim, concluí eu, ao cabo de sérias leituras e cogitações: posso ser um porcaria e a Big Cadela me espreita, pronta a saltar sobre mim a qualquer instante... Mas acontece (e é isto que deixa os psicólogos loucos da vida) que há um abismo entre as coisas que são abstratamente verdadeiras e as coisas que são existencialmente reais. Ora, acontece que, queira ou não queira, eu existo nesta hora e neste lugar. Que fazer então com a minha vida? Por que não opor à minha insignificância na ordem universal, à minha mortalidade, à minha impotência diante do Desconhecido uma espécie de... de atitude arrogante... erguer meu penacho, lançar um desafio meio desesperado a isso que convencionamos chamar Destino? A vida não tem sentido... mas vamos fazer de conta que tem. E daí? Bom, aí eu transformo minha necessidade em fonte de liberação e passo a ser, eu mesmo, a minha existência, a minha verdade e a minha liberdade.
Floriano encara o amigo.
- Mas essa ideia de que somos livres e os únicos responsáveis por nossa vida e destino não será uma fonte permanente de angústia?
- Claro que é.
- E não é a angústia o nosso grande problema?
- Homem, há um tipo de angústia do qual jamais nos livraremos, porque ele é inerente à nossa existência. É o preço que pagamos por nos darmos o luxo caríssimo de termos uma consciência, por sabermos que vamos morrer, e por termos um futuro. Assim sendo, o mais sábio é a gente habituar-se a uma coexistência pacífica com esse tipo de ansiedade existencial, fazendo o possível para que ele não tome nunca um caráter neurótico. [...]
- E tu achas que essa atitude é uma solução?
- Que solução? Não há solução. Como disse um desses berda-merdas europeus, estamos condenados a ser heróis.

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