gente que não me entende

>> terça-feira, 19 de novembro de 2013

Tenho esses quatro caras que passaram na minha vida - e espero que dela nunca saiam - que nunca foram muito bons em me entender. Sempre que eu estava triste, cansada, deprimida ou zangada com alguma coisa, eles simplesmente não entendiam.
Você tá triste?, diziam, mas triste por quê? Você tem tudo!

E eu teimava em dizer que não, que ainda me faltava mais - mais beleza, mais inteligência, mais amor, mais sombra e água fresca - e me afastava, mais triste e um pouco pior, porque incompreendida por pessoas de quem eu tanto gostava.

Mas passava um tempo e, de tanto eles insistirem que eu não tinha motivos pra estar triste, e me darem algum trabalho pra eu me ocupar - a tal da tristeza ia embora mesmo.

E, agora, que consegui ser eu mesma essa pessoa que não me entende, consigo enxergar o que eles enxergavam em mim e o porquê deles nunca terem me entendido.

Eu reclamava como alguém com quem a vida era muito injusta, pra quem o fardo era muito pesado, como quem recebeu mais tarefas do que podia realizar, como uma donzela frágil e desprotegida, desprovida de talento, habilidade e beleza, diante de um mundo cruel que a perseguia.

E eles nunca entenderam essas reclamações, porque, pra eles, elas vinham de uma mulher inteligente, forte, bonita, agradável e simpática, com talento e habilidade pra compreender e modificar qualquer coisa no mundo.

Obrigada, meus queridos, por terem enxergado em mim qualidades que por muitos tempo eu não pude ver. Através dos seus olhos eu comecei a acreditar que talvez, bem talvez, eu não fosse tão frágil assim.

Por outro lado, a quem entende a pobre de mim, coitadinha do mundo, vem cá que eu te dou colo, que você precisa mesmo, que sem isso você não dura nada, nada, que ah, se não fosse eu no mundo pra te dar força, digo: não entenda! Essa mocinha é mimada, e se a gente não der uns sacode nela de vez em quando, ela senta no meio-fio, fica choramingando e não sai do lugar.

JJAT, obrigada por todas as vezes que vocês não me entenderam. Agora eu entendo vocês.

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agora eu entendo o uísque

>> segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Estou às portas do inverno no norte da península ibérica, o termômetro marca 8 graus. À minha cabeça vêm milhares de ideias mirabolantes, epifanias, a solução de todos os problemas do mundo... só tenho que sentar em frente ao computador e escrever para divulgar a boa nova, mas, puta que o pariu, oito graus, uma da manhã, meus dedos estão congelando... O texto sensacional fica pra amanhã.

Chega amanhã, não vale a pena sair da cama antes do meio dia - Jesus, tá frio! Saio da cama, arrumo os lençóis que vou desarrumar de novo em doze horas, e penso em preparar algo pra comer. Passo horas na cozinha, descobrindo o prazer de cozinhar - quando dá certo - e saboreando o fruto do meu próprio esforço. 

Cai a tarde, chega a noite, leio as notícias do público, do g1 e do correio. Hm, já é hora de comer de novo, e de tomar chá, que, quando bem quentinho, faz tudo parecer melhor. Espero por elas, as ideias. Mas elas tardam a chegar. Vão chegando aos poucos, e se fazem de complexas: exigem muitos parágrafos para se explicar, e querem subordinadas, ou elipses, ou sintaxe de exceção para que se deixem expor. E pra quem? E pra quê? 

Nem, estou às portas do inverno no norte da península ibérica, o termômetro marca 8 graus. O texto sensacional fica pra amanhã.

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Coisas que fazem a gente pensar

>> segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Quando eu era uma pseudo-cult mirim da periferia – alguém chata pra caramba -, eu gostava de dizer, naqueles caderninhos de perguntas e respostas (avô do facebook) que eu “gostava de coisas que me fazem pensar”. Na verdade, “gosto de coisas que me fazem pensar” era uma das frases que eu mais dizia quando me descrevia pra qualquer um. Pobre mini-eu.

Mas, bem, eu cresci e deixei de ser babaca (bom, julgo que sou menos agora), maaas, aposto que como castigo pelo pedantismo precoce, volta e meia esbarro com alguém que “gosta de coisas que a fazem pensar”. 

Nada contra pensar – pensar é bom, em doses controladas -, mas, sim, contra tudo o que está contido nessa frase nada inocente.

A pessoa pseudointelectocult que profere essa generalidade vaidosa está dizendo muito mais do que o tamanho da frase sugere. Primeiro, ela coloca em oposição “coisas que não me fazem pensar”, (das quais não gosta, porque não têm qualidade), e “coisas que me fazem pensar”, (das quais gosta, porque têm qualidade). Segundo, nessa segunda categoria, ela coloca tudo o que é pré-rotulado e pré-vendido como intelectual, cult, “inteligentoso”: filmes, livros, assuntos etc. Produtos que ganharam seu status de cult às custas de não serem “compreendidos” por “qualquer pessoa”, ou seja, produtos que selecionam por si mesmos “seu” público.

Mea culpa, eu era dessas. Escrevia lá no caderninho na perguntas “Qual seu programa de TV favorito?” que gostava de ver documentários interessantes ou jornal, enfim, “coisas que me fazem pensar” (não é difícil entender porque fui uma garotinha sem amigos até os 15 anos, né?). Era mentira, claro, eu a-do-ra-va novela (e ainda adoro), assistia todas com papai, que também é noveleiro (desculpa, pai, te entreguei), mas eu não podia trair a pose intelecto-chatinha.

Eis que, num dia qualquer, reparei que sempre surgiam discussões calorosas a partir de temas aleatórios nas novelas, ou de ações aleatórias dos personagens. Reparei que, sim, novela me fazia pensar. E um mundo novo se abriu: quem escolhe pensar ou não (assumindo o termo “pensar” aqui como “refletir”, ou “dedicar algum esforço de abstração na compreensão do quer que seja”) sou eu. Não dependo da “qualidade” do input. Descobri um novo sentido pra “pensar”, diferente do que é tão superficialmente valorizado pelas pessoas que se consideram cultas. A partir daí, posso construir teses elaboradíssimas sobre big brother, facebook e filmes com explosões. 

[Isso porque tudo o que conhecemos do mundo é feito de discurso, e todo discurso é produto da prática humana, que é construída pelo discurso, e assim pra sempre, num ciclo sem fim. Tudo o que fazemos para explicar e ordenar o mundo – desde nomear os seres até elaborar fórmulas, passando por mimetizar as experiências vividas e imaginadas por meio da arte – é uma forma de interagir com o mundo externo – é cultura. E toda cultura é passível de análise, reflexão, toda cultura pode estimular pensamentos mais ou menos elaborados.

Quem escolhe sou eu, a pessoa pensante. E a partir daí, não faz mais sentido dividir as coisas em categorias como “me fazem pensar/não me fazem pensar”.

É claro que o “entendimento” de algumas coisas requer um poder de abstração maior que o de outras, mas isso também pode depender da perspectiva de quem analisa. Uma novela pode ser uma historinha água-com-açúcar com um final previsível. Mas pensar no porquê ela atrai a atenção de tanta gente, e que comportamentos da sociedade que a assiste ela reproduz, e em que medida as reproduz, e como a relação patrocinador-arte funciona nesse tipo de produto, e claro, porque a gente assiste mesmo sabendo o final – que é uma pergunta meio boba, e também fundamental, parente daquela existencial “por que a gente vive se sabe que vai morrer?” – rende reflexões interessantes, consistentes e, na minha não tão humilde opinião, é melhor do que consumir outro tipo de produto simplesmente porque tem um rótulo de “produto de qualidade”.

Em outras palavras, não adianta assistir um filme iraniano só porque filmes iranianos estão na crista da onda do cool. Assistir Thor me diz muito mais sobre a minha cultura, meu tempo, meu espaço, desde que eu faça as perguntas certas.

(com o plus a mais de ter o gatíssimo do Chris Hemsworth – e daí já podemos questionar os padrões de beleza e força e masculinadade da sociedade pós-moderna capitalista nos tempos da indústria do entretenimento e suas franquias milionár- enfim, vocês entenderam).

Gosto de pessoas que sabem pensar sobre as coisas de que gostam.

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Não existe amor em BsB II

>> domingo, 3 de novembro de 2013

Brasília é feia. É concreto mal acabado. O que faz do seu coração - coração cívico e burocrático - deslumbrante é o que o emoldura e o que o ilumina. De dia, o céu azul pontilhado do branco das nuvens esparsas do inverno. De noite, as luzes que cobrem com uma aura de vida o mármore branco.

Nuble-se o céu, apaguem-se as luzes, e você é só uma tentativa de cidade, Brasília. Um esqueleto opaco e vazio.

Você não tem encanto natural, você não tem história. Sua forma não é obra do tempo - nem do geográfico nem do humano. Você é forjada, eu sei.


Eu sei porque sou como você: inventei meu céu e minhas luzes. De palavras me cubro, como elas me disfarço, num eficaz jogo de luz e sombras.

Somos, Brasília, filhas da nossa vontade. A despeito desse concreto mal acabado, desse mármore empoeirado, dessa aridez desértica, dessa carência de atrativos naturais, dessa falta de talento meu e de umidade sua, quisemos ser, artista eu, cidade você.

E nos servimos de palavras e céu azul, de sintaxe e refletores, naturalizamos o artificial, resistimos ao tempo e às comparações, insistimos em ser, artista eu, cidade você.

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