>> quarta-feira, 17 de junho de 2009
Quantos anos tinha? Onze, doze? Onze pra doze. Era seu segundo ano naquela escola. Tinha os mesmos e poucos amigos da escola anterior. Não gostava deles. Não como se costuma gostar de um amigo. Não os entendia.
Entendia, isso sim, o que escrevia naquele caderno com um retrato de um moço bonito na capa. Ele tinha um sorriso... que sorriso! Como era bonito! A melhor parte dela estava guardada atrás daquele sorriso. Eram suas palavras, seus segredos, o pouco que conhecia da vida. E o muito que julgava saber da pessoas. "Pessoas", pra ela, era todo mundo que conhecia e que não era da sua família. Pessoas eram as outras crianças da escola.
Depois de fazer a lição de casa, sempre registrava atrás daquele sorriso tudo o que sabia da vida das pessoas, como elas eram, o que gostavam de fazer, as mentiras que contavam, os modos como a magoaram. As pessoas eram más, falsas, interesseiras, orgulhosas, bobas. Mas só ela sabia disso. Só ela podia enxergá-las como realmente eram. E escrevia. E as palavras eram a Verdade.
***
Naquele dia, o moço do sorriso bonito, esquecido sozinho em cima de uma mesa, sorriu para uma das pessoas. O sorriso que guardava seus segredos a traiu.
***
Saiu correndo da sala de aula. Não suportaria por mais tempo os olhares, os risinhos, aquela maldita música! Cruéis, cruéis eram as pessoas! Entrou no banheiro. Chorou. Sozinha estava, e sozinha chorou, como se lágrimas molhassem e embotassem a memória, como se lágrimas pudessem apagar a lembrança, abafar a maldita música!, fazê-la esquecer da zombaria... da crueldade! Queria odiá-los, não podia. Ela os amava. Não viam que ela os amava?! Queria ser como eles, mas não podia... não poderia. Descobrira cedo que as palavras eram a Verdade. Ali, o rosto molhado, a cabeça latejando, o peito oprimido pela densidade das vozes, só e sozinha, soube que uma escolha - como odiava escolhas! - deveria ser feita.
Entre pessoas e palavras, preferiu a Verdade. E aquele sorriso não a traiu novamente.
3 comentários:
véi..vc tem um blog...e eu cliquei nele...
oh, falta do que fazer...
juh
Olá...
óia aí mais um blog para eu me viciar hehehe! Legal hein? Parabéns pelo espaço!!!
Ah vou linkar no meu pode?
Eu já tinha lido esse e esquecido de comentar. Adoro como você fala da infância, me identifico muito. É muito difícil escolher a verdade nessa fase. Parabéns!
Ah, e obrigado pelo comentário e pela recomendação no twitter ;) Na verdade, depois de terminar e postar o texto, eu percebi que se escreve Bubaloo, haha, mas fiquei com preguiça de arrumar tudo.
Beijão
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