Consciência de quê?

>> terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência de que ser negro - e negro de classe média - é não ser o padrão, é não ser o normal, é ser marcadamente diferente - e ainda inesperado!

Consciência de que "ser" negro - quando não "se precisa" sê-lo é um desafio, é uma escolha, uma posição política.
Consciência de que a ascensão social individual quando se é negro é uma traição ética e étnica. 
Consciência de que sim, é chato, é cansativo, é desgastante voltar sempre nesse assunto - mas é preciso! Porque silenciar sobre o racismo, sobre o preconceito e sobre a violência moral e física de que jovens, crianças, mulheres e homens negros são vítimas no nosso país todos os dias é ser conivente - silenciar é fortalecer os grilhões sociais, culturais e econômicos que oprimem nossos semelhantes. 

Silenciar é uma escolha covarde e egoísta. Silenciar é escolher calar uma consciência. Essa tal "consciência negra" que me permite falar do "meu povo" sem nunca ter sido escravizada, sem ter sido agredida pela polícia, sem ter sido rejeitada numa entrevista de emprego, sem ter sido confundida com uma empregada de loja ou como copeira no meu trabalho (opa, esses dois últimos eu já fui!).

Esse texto é pra vocês, amigos negros, que fizeram uma universidade pública, que têm um bom emprego, que moram em vizinhanças caras - que podem escolher passar despercebidos, serem "normais", serem "padrão".

Não o sejam. Não se tornem invisíveis. Há mais do que a estabilidade e o conforto de vocês em jogo. 
Há uma elite majoritairmanete branca que precisa nos ver aqui em cima - e enxergar a nossa cor, a nossa história, e ouvir o nosso barulho - e desistir de nos pasteurizar. 
Há uma juventude negra e pobre que precisa ouvir de nós "Eu te ajudo". E não um "Se eu consegui, você também consegue". Nós conseguimos porque tivemos famílias estruturadas, porque em algum momento da nossa juventude alguém conseguiu nos convencer de que estudar era a melhor escolha.
Por quantos jovens negros você já fez o mesmo? 
Precisamos parar de querer subir, sozinhos, cada vez mais alto nessa pirâmide capitalista, e começar a pensar coletivamente, para depois agir coletivamente.


Só coletivamente seremos respeitados, só coletivamente teremos voz e dignidade, só coletivamente poderemos fazer com que um dia o racismo deixe de ser discutido como problema social - e passe a ser apenas um dado histórico: precisamos falar sobre o racismo hoje para que ele não exista amanhã. 

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