Palhaço por vocação
>> sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Assisti na última terça-feira o filme O palhaço, do Selton Mello. Fui pega de surpresa por um filme que veio falar diretamente com as minhas crises e neuras desse ano complicado de 2011.
Se você não conhece o filme, antes de ler o comentário que segue de uma expectadora comovida, sugiro que você clique aqui e volte daqui uns 10 minutos e alguns cliques.
Meus aspectos são puramente emotivos. A história de Benjamin é também a minha história - ou uma história que poderia ser minha.
(a partir daqui o texto tem informações sobre o desenrolar e o final do filme)
A história de Benjamin é a história de alguém que está saturado do seu trabalho - saturado de viver o circo dentro e fora do picadeiro, como palhaço e como administrador. Saturado de ter que ser "o" responsável por tudo o que acontece, de ser o balcão de reclamações dos outros integrantes do circo, de ter tanta coisa pra resolver.

Enquanto essa alucinação que está fora chama nosso amigo Benjamin, por dentro, a confusão só aumenta: "Eu faço todo mundo rir... mas quem é que vai me fazer rir?". Benjamin não sabe mais qual é sua vocação. Não sabe mais ser palhaço, e parece não saber mais interagir com as pessoas, porque está ocupado num tremendo esforço interno de descobrir quem ele é. Quem o vê de fora acha isso "engraçado" (quantas vezes você já esteve na preseça de uma pessoa internamente confusa ou em contradição e disse "você é engraçado?)
Quando o convite daquilo que é externo torna-se irresistível, Benjamin decide partir. Entrega-se ao novo com coragem e determinação, na busca ansiosa de descobrir se esse novo preencherá o vazio que ele sente.
Não preenche. Num ato ainda mais corajoso, Benjamin volta. Volta porque, longe, descobriu novamente a alegria de fazer alguém rir. No final feliz do filme de Selton Mello, Benjamim tem a coragem de voltar para o que abandonou - não porque estivesse arrependido, se não tivesse partido nunca reconheceria sua vocação, mas porque só a distância de tudo o que ele conhecia e amava pôde reconciliá-lo com sua própria identidade.
***
Conhecemos outros finais não tão felizes em que a distância só aumenta a angústia e a solidão, e a frustração e vergonha de ter ser se venturado no novo e não ter dado certo impede tantos palhaços de voltar pra casa; ou em que falta a coragem de largar tudo, e o palhaço termina encerra seus dias fazendo os outros rirem de sua própria tristeza. Em outro tipo de final feliz, Benjamin poderia ter descoberto que o Aldo da Aldo Auto Peças era na verdade pai de Ana, poderia ter se casado com ela e mandado um cartão de natal com uma foto de sua família para o circo, ou visitado o circo com a sua prole.

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- O gado bebe leite, o rato come queijo, e eu? Eu pergunto.
2 comentários:
Acho que você gostou desse filme só porque pareceu ser o filme certo na hora certa pra ti! XD
eu gostei
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