Depois de um hiato

>> domingo, 11 de julho de 2010

Desisti do lance das indicações literárias! vou fazer algo prático... se tudo der certo, vou começar a partir de agosto um projeto de grupo de leitura com os alunos do segundo ano de uma escola pública da cidade... se tudo der certo.

Vou usar o retorno desse hiato na atualização do blog pra me motivar-me a mim mesma a terminar a monografia nesse semestre. com licença.

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma.
O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
(...)
Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. "
Fernando Pessoa como Bernardo Soares, no Livro do Desassossego

Planos, projetos, metas, objetivos, são sonhos burocratizados. Sonhos divididos em prateleiras, etiquetados, catalografados.

Já não acho isso ruim. sonhar é bom. mas viver sonhando significa não realizar coisa alguma. realizar é também acabar com o sonho. que seja.

Me pergunto por que continuar fazendo coisas chatas, difíceis, nem um pouco divertidas. o que impede você de jogar tudo pro alto?
é, assusta. mas é só isso, medo? as coisas mais significativas da sua vida foram feitas só por que você não sabia que podia fazer diferente?

ah, isso é deprimente.

mas deve haver algo mais, sabe?

projetos, objetivos, planos, metas.. trabalhar pra que eles aconteçam pode não ser divertido, nem tão empolgante quanto sonhar alto e mais alto.

Mas também não é para medrosos, sabe?

é algo corajoso "abrir mão", ser paciente, amar o caminho. dói.

acho que encontrei, está tudo aí: amar o caminho. a única forma de não deixar que as conquistas sejam amarguradas. amar agora. amar o difícil, o chato, o cansativo, a rotina.  loucura!

"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu" R.R.

***
ou se pode ser artista e fazer do sonho mais onírico (rs) o seu trabalho mais trabalhoso.

***
é, eu sei, é auto ajuda. mas pelo menos eu faço a minha própria auto ajuda, ok?

***
de volta pra monografia...

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(Em que abro um parêntese)

>> quarta-feira, 28 de abril de 2010

Apanhei uma página solta do diário dela que brincava com o vento antes de ser agarrada por minhas curiosas mãos. Ela dizia:


***

Há tempos tenho acompanhado de perto os relacionamentos amorosos de amigos - e não tão amigos assim, e os meus próprios, que faço questão de registrar aqui para revisitá-los quando se tornarem passado. Cada história poderia ser matéria de um romance inteirinho, se alguém se dispusesse a escrevê-los. Ora, não sou dada a escrever romances, coisa já velha e em desuso no nosso tempo, mas também não deixo inteiramente de lado as reflexionices características dos ociosos. Vamos a elas.
No que mais penso, é nisso: como se prolongam por tanto tempo histórias que, não fossem pelo fato de existirem, não existiriam? Concluo que é por puro hábito que algumas pessoas continuam se suportando, depois de passado o encantamento da novidade do começo de namoro, sem que tenha sido construído nenhum sentimento de admiração mútua que o substituísse.
Enganam-se os que acreditam ser o amor a argamassa dos namoros e namoricos: insisto que o que os mantém é o hábito, o costume, o fastio que a ideia de mudança e ruptura causa nos espíritos médios.

Formulada essa hipótese, vejo que ela talvez estenda-se às demais relações entre pessoas que são características da vivência humana.... talvez não... e se...?

Mas voltemos aos namoros e namoricos. Melhor, voltemos às reflexionices.

"Sendo o amor idealizado apenas e tão somente isto - uma ideia, o que será mais proveitoso: um sonho perfeito ou uma realidade repleta de pequenas e insistentes fissuras? O senso comum condena devaneios e ilusões, eu por cá não dou a questão por respondida..."

"Se te pergunto 'Por que tu o amas?' e me repondes 'por que ele é bom pra mim', o que devo eu pensar? Que esse é o único motivo, afinal, pelo qual se ama alguém, que tu és egoísta e o teu amor serve às conveniências? Se, por outro lado, tu o amas mesmo que ele seja um traste, que devo eu pensar? Que és uma tola que não ama a si própria, que perdes tua vida em função de um inútil,? Ora, se ele é bom e tu o amas, pensa só no que é bom para si, se ele é bom e tu não o amas, estás desprezando a felicidade. Se ele é mau e tu o amas, és uma tola que se desgasta em um amor infértil, se ele é mau e não o amas, és uma impaciente, uma egoísta que só pensa na tua própria felicidade."

Colocadas estas questões, no que consiste, então, o Amor? é definível? é racional? é escolhido? 
Se o podemos controlar, então não é forte o suficiente, não se trata do Verdadeiro Amor; se não o controlamos, é passageira e ardente paixão, também aí não estamos tratando do Verdeiro Amor.

Oh, não, espere! Do que estou eu a falar? Isto tudo são bobagens, creio que já ter achado a resposta há tempos! A verdade é 

***

E então acabava aquela solitária página. E nós ficamos aqui sem saber, talvez nunca saibamos. A minha sugestão é: escreva você também as suas reflexionices. Quem sabe elas não cheguem por acaso aos blogs do  futuro também?

Fecho parêntese.

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Coisas que os Romances nos ensinam

>> sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mulheres safadas morrem.


Bem, pelo menos na Literatura é isso que costuma acontecer.
Adúltera?  Prostituta? Não importa se ao longo do romance elas ficaram boazinhas, arrependidas ou encontraram o verdadeiro amor. Elas morrem. Vide Lúcia (Lucíola, José de Alencar), Amélia (O crime do Padre Amaro, Eça de Queirós), Luísa, (Primo Basílo, Eça de Queirós) Capitu (Dom Casmurro, Machado de Assis), Madame Bovary, (Idem, Gustave Flaubert),  Margueritte (A Dama das Camélias, Alexandre Dumas Filho), Anna Karenina (Idem, Tolstoy), pra citar alguns exemplos.


Todas essas mulheres hoje são vistas pelos leitores como mulheres fortes e destemidas que enfrentaram a sociedade em nome de um grande amor, mulheres que são símbolo de que o Amor transforma e pelo qual vale a pena até morrer. Mas muitas delas foram idealizadas por seus autores como forma de crítica a essas mulheres depravadas que saem do aconchego do seu lar, onde tem um marido que bondoso, que coloca comida dentro de casa pela primeira aventura romântica que veem pela frente! Por AMOR! Ora, vejam só, o absurdo! 
É por isso que elas tem que morrer. Você quer viver um grande amor? Quer largar a vida de dona de casa ou a de prostituta por um homem que te ama? Ok. Se joga! E morra, que é pra não dar mal exemplo pra leitora-classe-média-burguesinha-que-lê-romances-enquanto-o-marido-está-com-outra.


Mas, a despeito da tese sustentada pelos seus autores, algumas dessas personagens são, hoje, heroinas, mulheres a serem estudadas por nós letristas que vivemos de estudar personagens. Algumas mais nobres, outras mais bobinhas, todas com característica que encontramos nas mulheres de carne e osso, na senhorita que agora me lê. A indicação Literária de hoje é de Primo Basílio (Mas se não puder ler, pelo menos veja o filme!)


Eu defendo a tese de que existem entre nós muitas mulheres-Luisa - a protagonista do romance - e eu mesma já tive minha fase Luísa na vida. (ok, eu sou estranha por comparar as fases da minha vida com personagens literários?). Mas disso eu falo no próximo post. Por ora, fiquemos com uma das passagens mais gostosas do livro:


"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "


Sim, é exatamente isso que o Nando Reis Arnaldo Antunes recita em "Amor I Love You:


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Meninas Malvadas

*


11/04/2001, em uma classe qualquer de 6ª série.


“11 anos de idade e ainda não consigo ser minimamente popular na escola – ou em qualquer lugar. É o fim do mundo! Chega!”
Foi com esse pensamento seguido de decisão que Bianca se aproximou da rodinha da May, abelha-rainha da turma, e escutou a conversa:
- Você está gostando dele, amiga?
- Ah, não sei, Jô! Acho que sim... Ele é gatinho, né? Só tenho que fazer ele saber que eu tô a fim dele! Você podia falar com os meninos e...
- Nem começa, May! Eu nem falo direito com os amigos do Dudu e...
Bianca não teve dúvidas, aquela era a sua chance! Seu caminho rumo ao reconhecimento e à popularidade começava a ser trilhado. Os anos que passara cultivando a amizade dos meninos – e sendo vista por eles como um – serviriam para alguma coisa. Não hesitou em entrar na conversa. “Oi, meninas!", disse, com naturalidade ensaiada na frente do espelho - Vocês estão falando do Dudu? O Carlos Eduardo da sétima? Eu sou amiga dele!
Passados o estranhamento que aquela intromissão repentina da nerd na conversa causou e o pensamento “ela é amiga de um menino?”, May e Jô continuaram a conversa como se aquela fosse uma situação normal. Depois de verificado que a intrometida poderia, afinal, ser útil, terminaram a conversa como amigas de infância, com tudo combinado para que Bianca falasse com o Dudu no dia seguinte.
E foi com dedicação que o fez, destacando as qualidades da agora sua amiga May, que tinha olhos verde-mel, longos cabelos cacheados e uma voz anasalada que o seu talento para descrições fez parecer sexy. Tudo ia bem. Bianca agora não ficava folheando livros didáticos nos intervalos, mas desfilava de braço dado com May e as meninas. 
O encontro entre May e Dudu atrás da caixa d’água já estava combinado, e Bianca nem se lembrava mais da última vez que fora chamada de Bianca, pois suas novas amigas a chamavam carinhosamente de Bia, quando a inocente desconfiança infanto-juvenil colocou uma pulga atrás da orelha de Jô.
Um dia, sem entender por que Bia ainda falava com Dudu mesmo depois de ter terminado o seu trabalho como cupido, Jô só pode chegar a uma conclusão: ela estava apaixonada por ele! É claro! Uma nerd, andando com as populares, começou a ser reparada na escola, pensou que pudesse ser igual a elas e achou, tadinha, que pudesse concorrer com a May e roubar o Dudu! Como as meninas não viram isso antes? Como o Dudu não viu que ela estava se passando por amiga dele pra dar o bote a qualquer momento?
No dia seguinte, Bianca reparou que as coisas haviam mudado – ou melhor, voltado a ser como eram antes. Chegou na classe e ninguém havia guardado o seu lugar perto das meninas, na hora do intervalo, as meninas não a esperaram pra comprar o lanche, ninguém a convidou pra jogar Banco Imobiliário depois das aulas. Nem pode ir andando pra casa com o Dudu, como sempre fazia, por que a Jô – que antes não falava com meninos – antecipou o encontro dele e da May atrás da caixa d’água pr'aquele dia.
Agora não só era ignorada, como era ignorada intencionalmente.


Estava sozinha de novo e a sua primeira experiência como Conselheira Amorosa foi um fracasso.

*

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O retrato de Dorian Gray

>> sábado, 3 de abril de 2010

"Bem... Não sei explicar. Quando gosto imenso de uma pessoa, nunca digo a ninguém o seu nome. Seria como que entregar uma parte dela. Habituei-me a manter o segredo. Parece ser a única coisa que nos pode tornar a vida moderna misteriosa, ou maravilhosa. A coisa mais banal adquire encanto simplesmente quando não revelada. Quando me ausento da cidade, nunca digo aos da casa para onde vou. Perdia todo o prazer, se o fizesse. É um hábito tolo, confesso, mas, de certo modo, traz algum romantismo à nosa vida. Você deve achar tudo isto um disparate."

***
O nome desse segredo é O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado em sua versão definitiva em 1891.

Este é um livro-teste. Rápido e delicioso de ler, ele revela o nosso grau de sensibilidade pra arte e pra vida. Ele tira o leitor por alguns instantes da sua rotina preto-e-cinza, e o leva para um mundo cheio de cores, cheiros, toques, vaidades, segredos e desejos, a que este assiste entorpecido, saboreando o gosto de cada palavra.

Depois de ler, se você voltar pra rotina preto-e-cinza sem ter ao menos considerado a hipótese de viver um minutinho na pele do jovem Dorian Gray, esqueça! Você está imune ao fascínio que a Beleza exerce sobre os mortais - e imortais - e é melhor desistir da Literatura, da Arte, de qualquer forma de prazer contemplativo. (é, qualquer forma!)

Não vou agora falar sobre a história do livro (google it), nem sobre a crítica à sociedade vitoriana hipócrita e hedonista que faz o Wilde (oops, falei!), porque minha a dica é: saboreie a leitura e depois pense um instante no que, pra mim, é o grande barato da literatura e o grande mérito do bom autor: Oscar Wilde vai te fazer refletir criticamente sobre a arte, o prazer, a literatura, a beleza, através... através de uma obra de arte, com as descrições mais belas e deliciosas que você já teve o prazer de ler!


Ficha:

O retrato de Dorian Gray (The picture of Dorian Gray), 1890 (1ª versão). 1891 (2ª versão, acrescida de um prólogo e seis capítulos)
Autor: Oscar Wilde, escritor irlandês, biografia aqui (em inglês) http://www.cmgww.com/historic/wilde/
Média nas edições brasileiras de 200 páginas.

"Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil,
contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa
inútil é que ela seja profundamente admirada.
Toda a arte é completamente inútil." - Prefácio de O retrato de Dorian Gray


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Motivações

>> quinta-feira, 1 de abril de 2010


Fechou o livro de repente e apertou os olhos com toda a força que tinha. Não era possível! Alguém que nasceu há muitos anos havia estado dentro da sua cabeça, lera seus pensamentos e os escrevera como se fossem criação sua! Ladrão! Como ele conseguiu? Todas as dúvidas, as grandes ideias, as angústias e curiosidades dela estavam ali, reunidas naquele monte de letrinhas, escritas por um completo estranho, de outro Tempo, outro lugar, e ele nem era menina! Como ele sabia? E como podia explicar tudo tão bem, com tanta beleza? Mágico, era o que ele era! E ela, espectadora encantada, deslumbrada, apaixonava-se mais e mais por si mesma a cada vez que se via nas palavras daquele estranho.


***

Pretendo agora fazer indicações literárias. Mas antes, algumas indicações preparatórias:

Por que ler um livro inteiro (meeu deus, são 250 páginas!) se eu posso ler o resumo, ver o filme, assistir a mesma história (mocinho, amor, mocinha, vilão) na novela das oito...?
É claro que se eu soubesse essa resposta, tava trabalhando pro MEC e ganhando dinheiro com o livro "Torne-se um leitor com as dicas de Bruna Laranjinha".
Não, eu não tenho uma boa razão pra te convencer a sair dessa preguiça e se aventurar a se conhecer através das palavras de um estranho. Mas tem alguns motivos que são bons:

1. Ler te deixa mais rico: Seja pra passar num concurso público, seja pra ser advogado e passar a perna em quem não lê o contrato, seja pra lançar um livro depois que sair do Big Brother, lembre-se que quem lê bem sempre está um passo à frente de quem não tem essa competência.

2. Ler te faz ter assunto: E o melhor dessa vantagem não é fazer sucesso com as garotas, e sim, sair de situações embaraçosas com muito mais facilidade: "Que gemidos são esses saindo do seu computador, Carlos Alberto?" "É.. você sabe, né? É como disse o grande Machado: Ao vencedor, as batatas!" "Aaah, meu filho é tão instruído!" (lembra? sempre um passo à frente!)

3 Ler não gasta seu tempo: Tá chovendo e você desliga a internet com medo do seu modem queimar; seu ônibus tá preso num engarramento a anos-luz do destino, você tá deitado há duas horas e nada do sono chegar, levou um toco e não consegue pensar em outra coisa... essas e outras situações são ótimas pra você terminar de ler aquele livro que começou há dois anos ou aquele que a Laranjinha indicou no blog...


Tá, ok. Vou ler. Mas ler o quê? Rótulo de shampoo? Bula de remédio? Augusto Cury?

Opção pessoal sua. Mas aqui eu defendo a boa e velha Literatura, o Cânone Literário (aqueles livros de que todo mundo fala bem mas pouca gente leu mesmo). Claro que é porque eu sou tiazinha professora de Português e... not!
Mas simplesmente por que eles são a fonte, eles são a referência, os caras copiados, os fodões \m/ Eles estão um passo à frente, dois, três, kilômetros! E é com eles que você vai aprender a ler de verdade, não com resuminho e adaptação. Seja o cara que resume e explica pros outros. Seja o cara que é referência, no futuro quem sabe até o cara resumido. Seja o estranho, o mágico, o cara que através de personagens vai descobrir que pode conhecer as pessoas.

Sempre um passo à frente.


E agora, vamos às indicações!


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A poesia tem folhas verdes

>> quarta-feira, 31 de março de 2010


Nunca me dei muito bem com poesia. Poesia contemporânea, então! Blablabla metido a moderninho. Esse post conta minha subida ao Parnaso.


Aula de Leitura Crítica de Textos, a professora passa o trabalho: Fazer uma análise crítica do texto "O Crepúsculo tem folhas verdes", de um tal de Fabrício Carpinejar. CarpineQuem? Poeta contemporâneo, é do Sul. Ah, tá. Vamos lá, precisamos de nota. O texto vc vai ler aqui: http://wwwrespingosadelia.blogspot.com/2010/01/nas-primeiras-horas-o-crepusculo-tem.html
E descobrir quem é o autor aqui: http://www.carpinejar.com.br/

E aqui, minhas pazes com a poesia. Obrigada, @CARPINEJAR.

Quando li o texto, pensei que tivesse sido escrito por uma mulher. Quando falamos desses temas – o amor, a liberdade -, o gênero de quem escreve faz diferença, e parece estar presente no sentido que cada palavra possa vir a ter. Por isso, acredito que apesar de ter sido escrito por um homem, o eu-lírico seja uma mulher. Uma mulher segura e independente – tanto que as amigas a veem como referência e pedem conselhos. Conselho sobre Liberdade. Como exercitar a liberdade! A que tipo de pessoa perguntaríamos como exercitar a liberdade? A alguém que julgássemos livre, em primeiro lugar. E que desconcertante seria descobrir que, para essa pessoa a quem julgamos livre, a liberdade não é necessária! E que, talvez, nem exista de fato, já que “a única liberdade”, “é o amor”. O amor, que subjuga vontades, que nos faz “estreitos, rentes, estreitos”, alienados. O amor, que nos inspira pensamentos tão “repetitivos" que mais lembram um "confinamento de boca”: o silêncio, a repressão das palavras! O amor seria, então, e a um só tempo, uma “atitude intuitiva, involuntária”, como buscar o colo da mãe, e não o do pai, quando se é criança e tem-se medo, e um sentimento inexplicavelmente desejado. Mesmo tendo a opção de “exercitar a liberdade”, o único ato realmente livre, é a escolha da prisão do amor. Escolhemos “algo que nos arranque de nossa independência. Algo que a gente não explique e aumente a queimadura”. Algo que intensifique o fogo abrasador que queima, ao mesmo em tempo que fascina, escolhemos o amor.

Mas, que o leitor não se engane e acredite que a “Idéia” desse amor é suficiente. Assim como se é dominado por esse amor, exige-se algo em troca, a posse também é importante, talvez até fundamental: “Prefiro perder a cabeça para ganhar o corpo.”

Contraditoriamente, o que nos deixa dependentes de outro, aprisionados por outro, que nos torna frutos com medo da solidão – “O pássaro é um fruto que voa. Ele voa para não apodrecer sozinho.” –, é também um sentimento que nos deixa profundamente egoístas – “Só se escuta a própria voz ou os outros quando repetem o que pretendemos escutar.” -, em que o sentido da Palavra, dessas “mãos” que “chovem nas calhas dos lábios”, é transformado a gosto do que julga que é livre, que é amante, que é egoísta.







Enquanto a finalidade da vida da amiga possa ser alcançar a Liberdade, a do eu-lírico é não ser só “Um asilo de ventos”. É envelhecer ardendo, sem nada entre ele e o sol, entre ele e aquilo que “aumenta a queimadura”. O solo, a terra, não corrói, não deteriora: completa. O crepúsculo tem folhas verdes. O fim é um novo começo.

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I'm Back in Orange


Religião, qual é a sua? Sim, é a Semana Santa que me leva a falar disso. Motivo de guerras sangrentas, dos maiores atos de amor, de deboche e de instantânea identificação, essa busca do sobrenatural, do além do natural, me fascina, pela sua força, pela sua insistência, pelas suas nuances.

Ígor se dizia ateu, mas na verdade sabia que deus existia. Existia e não gostava dele, o fizera nascer gay, em uma família e sociedade que não o compreendiam. Tudo era culpa de deus, que se divertia em ver seu sofrimento, quando não era indiferente. Deus, um sádico, ele, uma vítima do seu sadismo. Mas sua fé em Deus era imensa pois, pior que viver sob o peso do ódio de deus, era viver sem um. Viver sozinho? Sem ninguém pra gritar, culpar, a quem desobedecer, de quem se vingar? Nunca! "Deus existe, me odeia e eu me vingo".

Chris acreditava muito em deus. Muito mesmo! Em todos eles. Mudava de deus de vez em quando, para que todas as suas ações fossem justificadas por algum deles, assim, sempre tinha razão e a consciência tranquila. Às vezes desconfiava de que, na verdade, seu deus era ele mesmo, que pulava de crença em crença para satisfazer as suas necessidades. Mas isso faria dele um egoísta, um tolo incapaz de assumir seu ateísmo, de reconhecer sua mesquinhez e falta de espiritualidade. Mas isso ele não era, com certeza! Então, sempre deixava pra lá essas ideias estranhas.

Jorge! Homem de fé, de convicções, de atos extremados de caridade! Esse conhecia deus, eram amigos íntimos. Até algo dar errado em sua vida. "Aba Pai, Por que me abandonastes?" Pegou a sua fé, enfiou numa caixinha, e a guarda pro seu último suspiro, prum momento de reconciliação. Agora está ocupado, fazendo tudo o que a culpa religiosa o impediu de fazer nos últimos anos, culpa essa de que agora está livre pois, tendo deus não cumprido a sua parte no "trato", este estava desfeito. Trocara a sua juventude, dedicação e amor (amor?) por garantias de proteção e sucesso. Chantageou seu deus? Não, um negócio que era lucrativo pras duas partes. Agora não é mais.


Onde está o seu deus agora? Te espera num Paraíso ao lado de 73 virgens? Ou num jardim, ao lado de espíritos elevados? Preparando o envio do verdadeiro Messias? Crucificado pelo seu pecado, ressuscitado pelo amor de um pai? Está em queda na Bolsa de Valores? Expulsando os demônios responsáveis pela sua maldade? Está esperando pelo seu momento de conversão minutos antes da morte? Brincando ao acaso com o seu destino?


São tantos os lugares onde deus, onde deuses são postos, e tantas as formas que se dispõe deles!


Religiões são, sim, fascinantes. Mas as pessoas, ah, as pessoas e como elas pensam, agem, sentem. creem, ou não... existe coisa mais fantástica? São elas que me fazem voltar a escrever.

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