Quando o amigo do Príncipe Encantado é mais legal

>> terça-feira, 31 de maio de 2011

De repente, gostar já não diz tudo. É preciso amar, apaixonar-se, entregar-se por inteiro a um sentimento que devora e consome. De repente, somos adolescentes.
Mas, pra falar das paixões arrebatadoras da adolescência, trouxe a história de uma que começou com um triângulo amoroso e, bem... é melhor deixar a própria @VampiraPandini contar:

***
Ah, a adolescência. Uma época maravilhosa de descobrimentos, alegrias, tristezas e muitas burradas. Explosões de hormônios e querer provar do mundo de tudo em pouco tempo acaba fazendo com que a gente se meta em muito mais encrencas do que acertos.
Nessa história eu cometi um erro que faz jus ao ditado "Deus escreve certo por linhas tortas" Depois de um longo namoro de 3 anos pela internet (dos 13 aos 16), onde eu só via meu namorado de 6 em 6 meses (quando muito!) e ainda assim era muito inocente, resolvi conhecer novas pessoas e, quem sabe, conseguir meu príncipe encantado. Eu fui em um desses eventos de desenho animado japonês e conheci duas pessoas na fila para a compra do ingresso, um loiro e um negro de cabelos cacheados. Um deles, o de cabelos cacheados, me chamou para ir ao cinema e eu, sem nenhum juízo na cabeça, aceitei.
Depois de sair com eles, reparo que o Loiro (sempre o menino loiro), estava me dando uma atenção redobrada e pediu pra sair novamente. Eu, obviamente no meu juízo, aceitei de novo! XD Então reparo que estamos ficando e, ah, ele era mó gatinho mesmo! Achei que não ia dar problemas futuros e que meu príncipe seria como num conto de fadas.
Mas claro que na vida nem tudo é fácil assim. Em menos de 4 meses de namoro, descubro que o Loiro vai ter que se mudar e não havia nada que podíamos fazer. Resolvemos continuar o namoro (erro 1) e tentar por distância (eu já falei que isso foi meu maior erro?). E claro, eu continuei a vida. Mas então, saindo com os amigos dele, reparo mais do que queria, ou deveria, naquele negro (lembram dele? O que me chamou pra ir ao cinema?) com seus cabelos bem curtinhos sem deixar os cachos a mostra e que dançava BEM PRA CARAMBA NA MÁQUINA DE PUMP.

Reparei que meu coração batia mais forte e que eu estava para fazer uma besteira. E, pra piorar, ele não deixou passar isso e resolveu ficar comigo! E como se não bastasse isso ele acabou se mostrando todo romântico, vinha me pegar no colégio, trazia presentes, se ajoelhava falando que me amava. Eu vi que não resistia mais e resolvi acabar com o Loiro. Claro que não foi nada fácil para nenhum dos envolvidos (especialmente o Loiro que estava sozinho numa cidade do interior de Minas Gerais). Eu mesma fiquei confusa vários dias me perguntando se eu tinha agido corretamente ou se era só mais uma vontade passageira de ficar com alguém.
Bem, após OITO anos juntos com meu cavaleiro negro de cabelos cacheados acho que realmente fiz a escolha certa. 
Ah, o Loiro? Bom, depois de quase um ano do ocorrido, passamos a nos falar novamente. E não é que descobri nele um amigo em quem confiar? Hoje em dia nós conversamos sobre tudo e ajudamos um ao outro! Sei que é muito difícil manter contato com o ex, mas acabou que o transformei num grande amigo. Lições que eu tiro disso:
*Eu gosto mais de caras que sabem dançar.
**Não guarde mágoas e aprenda a superar.
***Se você quer conquistar uma meninas, o clássico sempre funciona.

***
Que história bonitinha! Mas como vocês já devem ter percebido, eu não gosto só do lado bonitinho das coisas.
Primeiro, namorar três anos à distância é se apaixonar por uma promessa, por um ideal. O amor adolescente vive de toque, de cheiro, de sensação, é verdade, mais pode sobreviver muito tempo de lembrança (quando o outro estava aqui) e de expectativa (quando o outro vai estar aqui). Esse amor vive de imagens - do passado ou do futuro - e tem a seu favor a vantagem de não ser enfraquecido pelo desgaste da convivência. É o amor da Princesa que tem UMA noite linda com o Príncipe e vive na lembrança dela e na expectativa da próxima que, acredita, será tão linda quanto a primeira. (aí eles se casam e vem o cotidiano e acaba com o conto de fadas).
Mas nossa amiga Michele não caiu nessa e foi procurar algo mais real.
Acabou se envolvendo num triângulo amoroso - que, se fosse num romance ou numa tragédia teria terminado invariavelmente em traição e morte - mas no caso dela ninguém morreu. Mas foi traído. (Que o diga o loirinho que perdeu a namorada e o amigo, fura-olho, diga-se de passagem, de uma só vez)
Mas, afinal, quando os dois amigos se interessam ao mesmo tempo pela mesma pessoa, como resolver? Tirando a sorte no palitinho?
Essa pergunta me lembra uma série de outras histórias juvenis!
Aguardem cenas do próximo capítulo!
Mas já podemos adiantar que, no caso da nossa amiga Michele que está há oito anos com seu Cavaleiro, o loirinho foi só um erro de percurso. Ele deve ter trapaceado no palitinho.

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gostar, um segredo

>> quinta-feira, 26 de maio de 2011

Depois que a ferida da rejeição do primeiro amor platônico é curada, vem a curiosidade dos amores – ou quase amores – correspondidos.

Acontece o primeiro beijo, que é dado numa rodinha de “caí no poço” ou de "verdade ou conseqüência", ou no meio de uma brincadeira de “esconde-esconde”, ou por um vacilo que te deixou desprotegido no “ABB”.  De marcante só teve o fato de ter sido o seu primeiro - porque, convenhamos, os quartos, quintos e sextos foram bem melhores, menos “molhados” e com menos “imprevistos” provocados por dentes demais e prática de menos.

E, pronto, estamos finalmente iniciados nessa arena de batalha da qual não sairemos nunca mais. E aí a gente começa a conhecer um novo significado da palavra gostar.

****

Havia se mudado de volta praquela vizinhança há pouco tempo, mas já tinha um motivo pra não sair da rua no tempo em que não estava na escola: o vizinho da frente. Passava a tarde toda no sol, jogando queimada ou bandeirinha, só pra esperar o momento – a qualquer hora – em que ele sairia pra brincar também. Aquele era o auge do seu dia. Estava gostando dele.

****
Depois de um ano difícil na escola, decidiu-se a fazer novas amizades, na série superior, onde ninguém sabia sua história. Entre aqueles novos amigos alguns anos mais velhos, um, que morava perto da sua casa, e que ela seguia discretamente no caminho pra escola, era para ela especial. Pra passar mais tempo com ele, entrou na sua turma de basquete – logo ela, que odiava esportes -, e aprendeu alguma coisa sobre saxofone, o instrumento que ele tocava. Estava gostando dele.

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Aula de “Projeto de auto estima”. Cada aluno sorteia o nome de outro aluno, pelo qual ficará “responsável”, enviando mensagens que aumentem sua auto-estima. Ela abre seu papelzinho com curiosidade, não havia pensado em quem queria tirar. Seu coração dispara ao ver um “G”. Sim, tirara ele! O motivo dela não faltar mais a nenhuma aula, dela ter se interessado por rock, o motivo dela ter começado a sentar no fundão. Aquele de quem ela não desviava seu olhar bobo e aéreo nem por um momento. Agora a poderia escrever uma mensagem pra ele, justamente pra ele. Estava gostando dele.

***

Saudade dessa fase em que dizer "eu tô gostando dele" definia exatamente tudo o que a língua dos adultos tem tantas palavras pra expressar - amor, paixão, carinho, apreço, afeto, desejo, atração, "querer se conhecer melhor"
Fase em que essas frases definiam tudo, e tudo era tão simples e sincero quanto essa palavra dita em segredo:
"E aí, você tá gostando dele?"
"Não fala pra ninguém que eu gosto dele!"
"Tô gostando do mesmo menino que a minha amiga!"
"Aquele, tá vendo? aquele ali, é o menino que eu tô gostando."
"Olha pra ela! Ontem ela disse que tá gostando de mim"

Que  palavra de sabor especial! Que poder de sintetizar todo o bem-querer de que somos capazes!
E aqui, o modo do verbo faz toda diferença: eu não só gosto de você, eu estou gostando! um gerúndio que diz: ontem, hoje e amanhã! Um gerúndio que tem em si a eternidade juvenil.
 Quando foi a última vez que você gostou de alguém?

Isso me lembra outro versinho da sabedoria popular infantil (tão tosco
quanto o anterior):

Gosto do
Gostinho
Gostoso de
Gostar de você!

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o primeiro amor (parte 2)

>> terça-feira, 24 de maio de 2011

Falar do amor do outro faz pensar nas nossas memórias, nos nossos desejos, nas nossas frustrações. Deveríamos nos sentir culpados por explorar isso? Hm, não.

Depois da historinha de ontem sobre o primeiro amor dela, trago hoje uma sobre o primeiro amor dele. Meninos também amam aos nove anos de idade!
Ou pelo menos o M. C. amou.

*** 
Foi entre os nove e dez anos de idade (quarta série ou seja lá como se chame hoje em dia).
Eu sempre tive paixões a primeira vista arrebatadores, inclusive antes disso (sim, eu era uma criança precoce e idealizadora). Quando eu cheguei no primeiro dia de aula e vi a garota comecei a tremer e etc. Eu achava que ela era linda (e, de fato, ela era), que eu ia amá-la pra sempre, aquela coisa toda. Só que, como era absurdamente tímido, não tinha coragem nem de conversar com ela. Eu era do tipo que sofria sozinho, dava bandeira que tava gostando e ainda negava quando as pessoas ao redor vinham tirar com minha cara. (oooooouuun)

Acontece que, no decorrer do ano, inventaram um tal de correio dentro da escola, onde bastava primeiro nome, série e turma pra que se pudesse enviar carta a qualquer aluno. Coincidentemente e paralelamente esse foi meu período de maior sucesso com as garotas (nota-se aqui uma vida amorosa meio fail). Várias delas aproveitaram o ensejo pra mandar cartinha se declarando pra mim. (hahaha, garanhão aos nove anos) Se não me engano eram umas seis. Porém, meu coração já estava transbordando de amores pela garota que descrevi incialmente e que sequer me olhava.

Com o passar do tempo e com a aproximação das pessoas da turma, eu acabei conhecendo-a, conversando um pouco com ela e descobri o trauma da minha vida: ela era saidinha (leia-se, piriguete-mirim) e só queria saber dos "mais velhos". Jamais olharia pra mim. Hoje eu rio ao lembrar do tanto que sofri e me maldisse por, simplesmente, ter levado uns três anos a mais do que eu queria (naquela época) pra nascer. Mas, mesmo sabendo que jamais aconteceria nada (até porque eu morria de nervoso com menina, corria de todas que me mandavam cartinha e, provavelmente correria da que eu amava) eu continuei alimentando dentro de mim o que sentia e idealizando.

Houve um episódio fatídico num daqueles eventos escolares que, a professora (que, não sei porque cargas d'água, me adorava, diga-se de passagem) nos vestiu de Colombina e Pierrot para um desfile de carnaval à moda antiga. (...) desfilar de mãos dadas ao lado dela foi um dos momentos mais sublimes da minha (à época, recém-iniciada) vida amorosa.

O trágico final disso tudo foi mais trágico do que eu imaginava. Ela acabou se tornando, no decorrer do ano letivo, uma daquelas garotas populares, que conhecia muita gente pela escola, era bem relacionada com todos da sala, etc. Então, no decorrer do ano, ela foi aos prantos declarar que estava partindo do Distrito Federal pra Campinas/SP. Meu mundo caiu. Demorou meses (aos dez anos de idade, meses me davam a sensação de décadas) pra que eu me recuperasse da grande desilusão amorosa que foi a coisa toda. Tanto que só me apaixonei de novo cerca de três anos depois.
-
Marcelo Castro

***
A história do nosso apaixonado-mirim termina com ele procurando sua colombina na internet para, por um lado, se certificar de que ela não era essa coca cola toda, e, por outro, finalmente descobrir que ela era realmente a mulher da sua vida. Não aconteceu nenhuma coisa nem outra, porque a sua suposta colombina não sabia ao certo se já havia estado com esse pierrot que nos escreve. Mas de dez anos depois, essa é ainda uma das memórias mais marcantes da vida amorosa do nosso amigo! Fofo, né? Não tão depressa...

Quais as lições que essa pequena historinha nos ensina?

Vejamos. Nosso amigo Marcelo deveria ser um super fofinho quando criança (eu com certeza seria uma das seis que escreveram cartinha pra ele). Mas, em vez de olhar pra uma delas, escolher a mais ajeitadinha e ser feliz aceitando o amor de uma mocinha que o adorava, ele preferiu a biscate da Colombina, que já devia estar dando uns amassos atrás da caixa d’água com os meninos da 7ª série enquanto ele tava feliz em segurar na mão dela pra desfilar.

Isso só comprova minha teoria (é, eu tenho várias teorias) de que todos os homens são originalmente legais e bonzinhos, até que vem uma vaca de uma Colombina e os traumatiza, fazendo com que eles achem que nós menininhas somos todas iguais.
Da próxima vez, Sr. Marcelo, peça um conselho pra tia laranjinha e seja feliz ao lado de uma das seis que te mandaram cartinha!
  
Isso me lembra um versinho (meio tosco, é verdade) de sabedoria popular infantil, com o qual termino esse post:

Ama quem te ama,
e não quem te sorri,
pois quem sorri te engana
e quem te ama sofre por ti.

****

P.s.: E vocês, meninas, já tiveram seu dia de colombina na vida de algum rapazinho tímido? Já traumatizaram algum menininho que era inocente até conhecer vocês?
E vocês, meninos, já se apaixonaram por uma biscate dessa que te deixou desiludido com toooodas as mulheres?

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o primeiro amor

>> segunda-feira, 23 de maio de 2011

Rapazes, me desculpem, mas pra falar de amor eu viro mulherzinha mesmo. Mas encare isso como uma oportunidade de entender melhor as mulheres, (você quis dizer: é perda de tempo), ok, só leia.


Mocinhas, depois de anos convivendo com bonecas – somos mães solteiras aos quatro anos -, príncipes e princesas, eis que chega nossa hora de enfrentar a dura realidade da conquista amorosa em tão tenra idade. Damos o nosso melhor desde cedo (duplo sentido não proposital) e os meninos aí só querendo saber de carrinhos!

***

O primeiro amor sempre são vários. Com ela não era diferente. Tinha nove anos e se apaixonava perdidamente a cada semana pelo menino mais bonito da escola. Seus amores eram sempre platônicos – embora não soubesse o que essa palavra significava – e muito, muito mal disfarçados. Um dentre esses amores se destacou. Sabia que não era correspondida e não estava muito certo do que teria que fazer se o fosse. Mas sabia que estava amando, que queria passar o resto de sua vida – fazendo não sabia o que – com aquele loirinho do sorriso bonito, que passava tanto tempo estudando com ela sem desconfiar de nada. Bobinho!
Quando acabasse o ano, eles se separariam pra sempre, mudariam de escola e o seu amado jamais saberia que tinha uma admiradora secreta. Desabafou sua angústia com as amigas. Descobriu que uma delas também estava apaixonada pelo seu loirinho. “Pois que ele fique com a melhor!”, decidiram, sem saber que ele já estava de namorico (namorico nada, eles estavam se pegando atrás da caixa d’água, isso sim!) com uma terceira amiga.

Confiando no seu talento precoce, escreveu as mais belas cartinhas anônimas de amor para o seu querido, julgando que assim o sensibilizaria e o convenceria de que somente o seu amor era puro e verdadeiro. Nunca obteve resposta. Mudou de escola, mas continuou mandando as cartas. Nada. Um segundo amor viria depois apagar aquela primeira rejeição. Mas a marca daquele primeiro amor de escola imprimiu-se na sua memória com a força da luz daquele sorriso e daqueles olhos azuis.

***
Ouun, que bonitinho, né? Não, meninas! Vamos ver as lições valiosas que essa historinha baseada em fatos reais nos ensina:

*Prefira sempre os morenos, os loirinhos não prestam.
**Se está gostando do cara mais gato da escola/facul/trabalho/balada, não conte pra sua amiga. É ÓBVIO que você não foi a única que percebeu que ele é o mais gato.
 ***Enquanto você fica aí escrevendo cartinha, ele tá pegando a amiga mais gostosa.

(é, talvez eu não seja a pessoa mais aconselhada pra falar sobre amor romântico...) Mas e aí, como foi seu primeiro amor? foi correspondido? foi desilusão amorosa? foi bonitinho? você aprendeu alguma coisa com ele? conta aí :)

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pra não dizer que não falei de amor

A pouco mais de duas semanas do dia dos namorados, tô pensando em preparar uma série de posts sobre a temática que mais ocupou letras de músicas e páginas de romances desde que o mundo é mundo: o Amor. Aliás, o “Amor” com letra maiúscula não, mas o amor. Esse amorzinho nosso de cada dia, da minha vida, da sua vida, das inúmeras histórias que eu tenho acompanhado desde a minha (fracassada) primeira experiência como conselheira amorosa.

***

O conceito de “amor” não é universal nem absoluto. É, claro, cultural, e variaTristão e Isolda é a grande história de amor que serviu de molde pras que se seguiram: um amor inesperado e  impossível que enfrenta todos os obstáculos e só se realiza plenamente após a morte. (tentador, hein?) Com o passar do tempo, a galera percebeu que esse negócio de ter que morrer pra poder amar era muito dramático e achou que um "e foram felizes para sempre" seria mais apropriado.

O ideal do amor romântico, que ainda era novíssimo, invadiu umas das instituições mais antigas das sociedades – o casamento – e aí todo mundo achou que tinha que se casar, necessariamente, com a pessoa que amava, ou seja, o ideal de felicidade seria aliar prazer,  manutenção da espécie e posição social. Aí surgiram os primeiros psicólogos e livros de autoajuda da humanidade. (true story)

Enfim, o amor romântico entrou de tal forma na cultura ocidental que virou o único tipo de amor verdadeiro, o amor ideal. Hoje, é impossível pr'aquele que foi criado na cultura ocidental não desejar, sequer por um momento, ser a Isolda de algum Tristão e vice-versa (menos a parte de morrer). O nosso amor romântico é tão "propagandeado" que não vê cor nem credo: todos querem amar e ser amados, todos acreditam mesmo que tem esse direito, que é assim que deve ser - que a realidade que for diferente desse ideal é e sempre será a segunda opção. Mudaram até os protagonistas desse amor - se antes eram exclusivamente homem/mulher, agora podemos encontrar as variações homem/homem e mulher/mulher - mas o tipo de amor que se busca é o mesmo. (até quando?)

***

O review histórico foi só pra dizer que as coisas não foram sempre como a gente as conhece, logo, muito provavelmente, elas não serão sempre assim, mas, por enquanto é isso aí: o amor romântico domina as paradas de sucesso, os blockbusters do cinema, o horário nobre na TV, os nossos sonhos de mocinha e os powerpoints que a gente recebe por email. É ele o paradigma – contra ou favor, acreditando ou não, é em relação a ele que você tem que se posicionar, do qual você pode até falar mal, mas que é impossível simplesmente ignorar.


Já que não tem pra onde fugir, convido vocês a acompanharem os próximos posts com as minhas histórias inventadas, as que eu roubei dos meus amigos, e as minhas próprias (ninguém precisa saber qual é qual, meu amigo, por favor, não se entregue nos comentários). São histórias sobre como a gente idealiza esse Amor e o quanto essa idealização afeta a nossa realidade tão distante dos príncipes e princesas da Idade Média, e sobre como as segundas opções - as alternativas a esse amor ideal, os amores possíveis, são muito mais divertidos.



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Bafafá Linguístico

>> sexta-feira, 20 de maio de 2011

 A pedido da amiga @VampiraPandini.

Que as pessoas sejam contra os princípios da sociolingística, tudo bem, é um direito. Mas que critiquem sem saber quais são esses princípios, é pura e simples ignorância, potencializada pela preguiça de pesquisar. No meio de todo esse falatório, o que mais me impressiona é o fato de que as respostas e críticas dos mais variados especialistas são feitas em cima de afirmações falsas ou exageradas, como no diálogo imaginado:
- O Sol é amarelo.
- Mas é um absurdo que o sol seja azul!
 -E não é, é amarelo.
- Mas ele não pode ser azul!

São algumas dessas afirmações malucas que eu destaco agora.

1 – “O livro didático estimula CRIANÇAS a falar errado” – Mentira! – O livro em questão, “por uma vida melhor”, é usado nas aulas de português da EJA.
EJA é a sigla de Educação de Jovens e Adultos, o antigo Supletivo. Você sabe quem são as pessoas matriculadas na EJA? Com certeza não são crianças. A EJA é a alternativa pra dona de casa que não teve oportunidade de concluir o ensino médio ou fundamental porque estava ocupada cuidando de filho e marido, ou pra doméstica que engana os patrões dizendo que sabe ler, mas sabe a diferença entre uma extrato de tomate e tempero só por causa do desenho e da cor da embalagem. É pro rapaz de 18 anos que teve que abandonar a escola porque precisou trabalhar. É pro pedreiro que precisa deixar de ser analfabeto funcional pra não perder o emprego pra alguém mais qualificado, ou que quer poder escrever um bilhete pro filho. É também praquele carinha e pra mocinha que não tiveram vergonha na cara pra estudar no tempo recomendado, mas que, mesmo assim, merecem uma segunda chance. A EJA é isso: uma chance, talvez a primeira chance de muitos, de conseguir alguma mobilidade social – de subir da classe iletrada pra classe letrada.
A quem interessa que os alunos desistam dessa nova chance?A quem incomoda que as sras e sres deixem de ficar em casa à noite vendo televisão pra ir pra escola, mesmo depois de um dia de trabalho?

2. O livro didático ENSINA a falar errado” - Mentira!. O livro AUTORIZA e LEGITIMA uma fala que o aluno já pratica, uma língua que o aluno já sabe e que não, não é errada no contexto dele. “Claro que você pode falar os livro” O aluno já fala assim, ninguém vai pra escola APRENDER a variante popular da língua portuguesa. Uma das coisas mais difíceis no ensino dessa disciplina é CONVENCER o aluno de que ele já fala português. Trazer a variante dele pro livro didático – numa cultura como a nossa em que “vale mais o que tá escrito” –, é valorizar a língua que o aluno já sabe, é estabelecer uma ligação entre a língua falada e a língua sistematizada do ensino. Essa aproximação, ao contrário do que se fala, torna a aprendizagem da norma padrão MAIS FÁCIL, pois permite uma freqüente comparação, e dá pro aluno confiança, pra que ele NÃO DESISTA.

3. “A escola vai parar de ensinar gramática” MENTIRA. E essa é uma mentira das grandes! Primeiro porque não existe só UMA gramática – ela pode ser normativa ou descritiva. Segundo, porque o objetivo da abordagem sociolingüística na escola não é fazer com que o aluno rejeite as regras da gramática normativa e, sim, com que ele domine essas regras e tenha a liberdade de usá-las quando achar que deve. Novamente: valorizar em sala de aula a variante do aluno não é um OBJETIVO, não é um fim: é um ponto de partida, é um “começo de conversa”. O QUE DIFERECIA SOCIALMENTE OS FALANTES É A QUANTIDADE DE VARIANTES QUE ELES DOMINAM. E o domínio da norma padrão, hoje, só é dado pela escola. Mas o domínio das variantes que “não tem concordância”, a gente aprende em casa, na rua, no dia-a-dia. E você, meu amigo graduado, também fala “os livro”. A diferença é que, quando for preciso, você vai saber falar TAMBÉM “os livros”.

4. Estimular a variação vai acabar com a unidade da língua. Mentira!. Leva anos, séculos, para que as variantes orais tenham reflexo na escrita. A língua escrita é mais rígida, exige, entre outras coisas, as concordâncias (por enquanto) e todos os esses em seus lugares. Mas a oralidade é dinâmica, sempre foi, essa é sua característica – ou você acha mesmo que fala o mesmo português falado no século XIX? Embora os textos do século XIX possam ser lidos e compreendidos por nós tranquilamente. Querer segurar esse movimento em nome de uma “unidade nacional” é inútil. Para que nós, brasileiros deixássemos de nos entender, seriam necessárias barreiras físicas entre uma região e outra, o fim das viagens interestaduais e muito, muito tempo. A função de “preservar” a língua é da escrita. A oralidade está aí para renová-la, transformá-la, experimentá-la, e, o que “pegar” de verdade, entra mais tarde pra escrita e se cristaliza.

 ****

Sinta-se à vontade para defender que o aluno não deve se sentir confortável na sala de aula, que deve existir uma barreira intransponível entre aluno e professor, que o aluno tem que achar mesmo que não fala português, que a escola tem mesmo que  voltar à palmatória. Eu vou entender, mesmo te achando um reacionário babaca.  Mas assuma esse ponto de vista mesquinho e classista, e não tente mascará-lo com um verniz de preocupação com o futuro da educação das crianças desse país. 

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fobia de semiconhecidos

>> quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sabe aquela pessoa que seu amigo/irmão/primo te apresentou rapidamente naquela festa? Sabe aquela pessoa pra quem você perguntou “Já passou a lista?” numa aula do seu primeiro semestre? Sabe aquele vizinho que mora na ponta da rua e você vê de vez em quando lavando o carro?

Então você sabe o que são semiconhecidos. São aquelas pessoas que você sabe que existem. E a interação social parou por aí.
E até aí, tudo bem, os semiconhecidos existem e precisam ser mantidos, afinal, nunca se sabe quando vamos precisar deles, pra apresentar aquela amiga gatinha, pra deixar você furar fila pra assinar a chamada, pra te ajudar a empurrar o carro quando a bateria descarregar na porta de casa (ok, isso não deve acontecer com vocês na mesma freqüência com que acontece comigo). Mas você pode precisar um dia, não é mesmo?


os dois candangos eram semiconhecidos que só
se viram no dia de tirar essa foto

É. Mas você mora em Brasília. Isso significa que, mais cedo ou mais tarde, invariavelmente, você vai encontrar seu semiconhecido fora do seu “contexto” normal: fora do churrasco, fora da sala de aula, fora da sua rua! E nesse contexto, em que todos os outros serão DESconhecidos, o SEMIconhecido será a sua relação mais próxima de amizade. E é aqui que surge o grande dilema do brasiliense: cumprimento ou ignoro? E se eu cumprimentar e ele não se lembrar de mim? E se eu ignorar e ele falar mal de mim depois? Melhor cumprimentar. Mas como? Um sorriso de longe? Um “oi, tudo bem? Jóia!” Dou um a-b-r-a-ç-o? Paro e vou conversar? Mas sobre o que, a gente não tem assunto!


brasilienses são
 mestres em fazer a
egípcia.
 
Enquanto você, caro amigo brasiliense, pensa nisso tudo, a sua chance de fingir que não viu o semiconhecido se foi. É óbvio que ele já te viu também. Agora é torcer pra que a sua decisão seja a mesma da dele (porque, afinal, você também é um semi-conhecido pra ele, né?) e pra que você não pare pra conversar enquanto ele decidiu que você merecia só um sorrisinho de longe.

Cansada de resolver esses exaustivos dilemas internos a cada vez que cruzava com um semiconhecido, eu adotei duas técnicas infalíveis. A primeira é sempre perguntar alguma coisa mais ou menos pessoal na hora que conheço o futuro semiconhecido – algo que faça ele se destacar na minha memória no inevitável encontro futuro. Assim, se eu decidir dar um sorriso de longe, mas ele quiser parar e conversar, eu vou poder perguntar algo do tipo “E aí, já superou a dor de corno daquele churrasco?” É uma alternativa arriscada, que só vale usar se você já tiver o estigma de “extrovertida”, como eu.


A segunda vale pra qualquer situação, nunca falha, eu “super” recomendo – MAS NUNCA USE CONTRA MIM –, é usar o celular. Atender uma ligação imaginária que te impeça de falar com o semi-conhecido mas te permita dar aquele sorriso de longe, ou, em casos mais graves em que nem o sorriso você quer dar, pegar o celular, abaixar a cabeça e digitar aqueeeeeela mensagem de 160 caracteres – ou quantos forem necessários para que o semi-conhecido vá embora e volte para o lugar de onde nunca devia ter saído – o limbo das amizades.

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cdf: o nerd brasileiro

>> sábado, 14 de maio de 2011

Ser nerd (ou nâârrd, com o r retroflexo) tá na moda: na TV, nas roupas, nos aparelhos eletrônicos. TBBT é sucesso, camiseta ‘nerd proud’ é a mais vendida e um iSomething da Apple é o sonho de consumo mesmo de quem foi “criado” no Windows.
Maaaas, eu sei, Sr. nerd "wannabe", que o seu passado te condena, porque o meu passado me condena também.

Aqui em terras tupiniquins, especificamente na escola pública, o mais perto que eu estive dessa “cultura nerd” antes de entrar na universidade foi quando assistia os clássicos “a vingança dos nerds" e afins na sessão da tarde. Porque, na escola, não tinha essa de nerd: quem tirava nota ruim era bagunceiro, quem tirava nota boa era cdf.


E aí, você que talvez não compartilhe do mesmo universo simbólico que eu, me pergunta: o que é cdf? Cdf era o nome pelo qual meus coleguinhas me chamavam por eu fazer dever de casa, ler o livro didático, passar o intervalo na biblioteca e, o mais estranho, interagir com o professor durante as aulas, respondendo ou fazendo perguntas. Minha mãe, querendo me proteger, me explicou que cdf era uma coisa boa, que significava cabeça-de-ferro, ou seja, que eu era “muito inteligente, querida”.


Depois de muito tempo, meu pai, destruindo minhas ilusões, contou a verdade: o “c” de “cdf” não correspondia a cabeça! (É, é isso mesmo que vocês estão pensando, mas eu não vou escrever aqui, porque cu é uma palavra mal vista! Ops, agora já foi!) E significava que eu tinha um *cdf* pra agüentar ficar sentada o dia todo, durante os seis horários de aula, escutando professor e prestando atenção na aula. Ou seja, não porque eu era “muito inteligente”, e sim “muito esforçada”.


Nas nossas escolas não existe essa distinção bem clara que tem na cultura americana do perfil do nerd e do looser, e é todo mundo meio misturado – apesar de cada grupinho ter, sim, seu território marcado dentro da escola. Aqui, os cdf’s geralmente são grupos compostos por meninas (entre inteligentes, esforçadas e parasitas), o gay que ainda não sabe que é gay, e uns poucos meninos que ou são péssimos no futebol e sentem-se melhores perto das meninas por se acharem mais inteligentes que elas, ou são ótimos no futebol, mas pra continuar jogando tem que tirar notas boas pra mostrar pros pais.



Pois então, cresci sendo chamada de cdf, e os óculos e o aparelho - não ao mesmo tempo! - ajudavam a reforçar o estereótipo. Depois me libertei – do rótulo e dos óculos, o aparelho ainda era charmoso – e virei “menina perdida” no Ensino Médio. Já na universidade, peguei o movimento do “nerd proud” ficando pop, e aproveitei o embalo pra apagar minhas origens de cdf e me jogar na onda nerd, totalmente americanizada. Foi na universidade que eu conheci nerds de verdade – que entendem tudo de computadores, são viciados em jogos em rede e tem espadas luminosas, digo, sabres de luz, como os de star wars, e a diferença entre nós é que eles tiveram livre acesso à cultura americana antes de mim – e agora eu já sou grandinha pra me apaixonar por video game e nunca vou entender de computadores.

Ex-cdf, atual pseudo-nerd: eis minha sina! Me jogo tanto na cultura nerd (que vai ficando cada vez mais pop), que daqui a pouco vou passar a acreditar que os fortões da escola roubavam meu dinheiro do lanche.




P.s.: pensando bem, foi até melhor assim, se eu tivesse sido “americanizada” mais cedo, eu não teria virado nerd, eu estaria agora cantando num coral black ou gospel – ou os dois. Se bem que não seria ruim ser uma soul sister que nem essa do lado! (an-ham, oooh yeaaah, baby!

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Poética do Sertanejo Universitário

>> segunda-feira, 9 de maio de 2011

(aviso: como dizia meu lendário professor de ITL, Gilson Sobral: hahaha, isto é apenas uma brincadeira, senhores!)

A primeira complicação que surge quando a gente definir uma poética desse estilo está no seu nome: Sertanejo Universitário. Sertanejo é o adjetivo que se refere a sertão. Universitário é o adjetivo que se refere a Universidade. Tem universidade no sertão? Fica a pergunta no ar antes que me acusem de fazer uma inferência preconceituosa contra os sertanejos de verdade.
Um estilo que já suscita tantas questões só pelo seu nome ainda tem muitas surpresas reservadas! Ou não? Vejamos, qual a temática freqüente dessas letras apaixonadas? Droga, entreguei pelo adjetivo: a paixão! Assim como em seu estilo-pai (o sertanejo romântico, a música de corno que todo mundo conhece e toca em todo churrasco dos seus vizinhos) e no seu estilo-avô (o modão sertanejo mesmo, que só toca no finzinho do churrasco, quando alguém se descuida do som e deixa o vô atacar de DJ), as traições ainda acontecem – o corno ainda tá ali - maaas (e é aí que entra a novidade do “universitário”), mas ele não vai pro bar afogar as mágoas com o velho amigo garçom, não. Ele (ou ela, vivemos em tempos de igualdade de gêneros!) vai pra farra, vai pro bar, vai afogar as mágoas no mundão veio sem porteira, regado a cerveja, vodka e energético!

O nosso universitário-sertanejo canta a libertação da dor-de-corno: fui traído? Fui! Mas não fiquei chorando pelos cantos, fui pra balada, enchi a cara e peguei todas, SUA VACA! E talvez seja essa bebida toda que dê a certeza pro recém-traído de que amanhã vai encontrar o ex arrependido pedindo pra voltar e vai poder dizer com todo gosto: não!

Vai ver é essa vontade universal de vingar que une fãs enlouquecidas das letras e dos cantores - que coloca no mesmo show lotado a sua prima de 15 anos que ainda está no Ensino Médio e a sua amiga (universitária de verdade) que poucos minutos antes da dupla do momento começar a tocar, era uma pessoa equilibrada.

Claro que isso não é tão inovador e a fórmula já tá até batida (tá aí o hit de 2001 baba baby que não me deixa mentir), mas agora é repetida à exaustão, tomando o lugar das luas e dos mares que antes eram oferecidos (e ainda podem ser, no início da relação), que são agora substituídos pelos gritos exaltados de chora, me liga, todo pranto que vc chorar pra mim é pouco, etc, etc. As mocinhas romantiquinhas e os rapazes enamorados ainda estão aí, mas o que movimenta essa paixão pela música, e o que define essa poética, é a força da vingança, da revanche sentimental, da vontade dela (ou dele, vivemos em tempos... ah, vocês já sabem) de gritar “EU SUPEREI, BABACA!", e partir pra outra conquista, agora desiludida com o seu primeiro amor romântico frustrado, decidida a “pegar sem se apegar”, e a viver com paixão o romance que sabe que só vai durar até a última música de  Jorge e Mateus ser repetida na balada country.

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#MinhaMãeÉDessas

>> sábado, 7 de maio de 2011

Nem anjo, nem flor, nem modelo, dessas que aparecem na tv e nessas mensagens com flores que piscam no Orkut. Mamãe é mulher mesmo, de carne e osso.

Lembro da presença dela na infância reclamando sempre das brigas e picuinhas dos filhos, da preguiça pra tomar banho, da má vontade pra lavar um copo que fosse, de como a gente não ajudava em casa – Tudo eu nessa casa! Apaga a luz, vocês são donos da Light? Tá procurando por quê, você guardou aí? Você calada tá errada! Fica andando descalço, quando ficar doente não vou comprar remédio!-, mãe-sem-senso-de-humor, mãe chata mesmo, mas que tava lá, sempre, e comprava remédio sim, e ficava no quarto, e fazia compressa, e rezava pra febre baixar, e fazia sopa pra gente ficar forte.  Mãe tá em todas as memórias da infância. 

Mais tarde, lembro de ficar amiga da mãe, ouvir a história da sua vida, como eram meu avós, como ela cresceu, que brincava com boneca feita de espiga de milho - Quando eu tinha a idade de vocês eu cuidava dos meus irmãos mais novos, sabia arrumar casa, fazia tudo sem dar um pio - histórias de minha mãe, povoando uma memória de quando eu não-era, de um mundo sem mim.

Adolescente, eu descobria o mundo, a casa era aborrecida, e a mãe aparece na memória de novo reclamando – Quem é fulano de tal? Quem é o pai? Deixo vir buscar só se vier com a mãe, não anda com o pai dela sozinha! Vai fazer o que pra quem? Quem muito abaixa mostra a bunda! Devagar com o andor, minha filha, não me faça pegar nojo, não vai com muita sede ao pote, você só tem 15 anos, pelo-amor-de-deus! Seja mais cuidadosa, filha, tenha zelo pelas suas coisas! Não filha, não vai, não deixo. Vou chamar seu pai. – Briguei com a mãe, com o não da mãe, com a chateação dos irmãos, com a autoridade do pai. Mãe falou “não vai, não anda, não faz”. Fui fugida, andei escondida, fiz mentindo. 

Voltei pra mãe chorando, pedindo perdão, reconciliei, fomos mãe e filha uma da outra. Mãe e filha, amigas.

Mãe agora junta os amigos de todos os filhos em casa – Oferece um café pra visita! Ele é bonzinho, né? É gay? A mãe dele sabe? Essa menina é muito bobinha. Sujeito folgado! Sua mãe não tá te chamando não, meu bem? - Mãe agora ri, faz piada, zoa a gente e aprendeu a rir de si mesma também.

Mãe só quer trabalhar, ficar perto dos filhos, seus bebês, seu orgulho, mãe é toda amor, toda riso, companheira mesmo, briga, zoa, mas tem uma ternura que parece não conhecer limites... tô aqui, meu bem, tô aqui, filhinha, não chora, vai dar tudo certo, eu tô com você, deus há de cuidar de tudo...

Mãe... com quem eu divido minha rotina, pra quem eu peço a benção antes de sair de casa e pra quem eu digo eu te amo antes de dormir, todos os dias. Mãe que não é anjo, não é flor, mas é mulher de carne e osso como eu, melhorada pelo mistério da maternidade, mãe que eu nasci amando por que é minha mãe e aprendi a amar por que é maravilhosa.

Feliz "dia de dizer eu te amo" pra sua mãe! Pra minha mãe, isso é todos os dias.

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Revolução!

 via @malvados

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pisca-baile-pisca-seta

>> quinta-feira, 5 de maio de 2011

Outro dia ouvi numa rodinha de não-brasilienses que comentavam a sua (falta de) adaptação à cidade:
- Uma das coisas chatas de dirigir em Brasília é que você tem que dar seta e esperar um tempão antes de entrar, como se tivesse pedindo licença pra usar a rua. Em outras cidades isso não acontece: piscou, entrou.

Eu já tinha em mente minha teoria sobre o grande baile de setas que é o nosso trânsito, mas não vira isso como defeito. Até agora. Ah, esses forasteiros...

***

Nas nossas largas e espaçosas vias, reina a paz e a harmonia até que um motorista distraído se dá conta de que precisa fazer a próxima curva. 
O desafio é atravessar as seis faixas em poucos metros. Sabe que não pode simplesmente dar seta e sair fechando os outros carros – que falta de educação!, ouviria buzinas e um grito dizendo “goiaaaaano!” atrás de si, duas coisas que ofenderiam profundamente seu orgulho brasiliense. Precisa então, dar início a um cortejo, um flerte com os outros carros, que envolve dissimulação e dominação. Puro fetiche.
Primeiro, diminui sua velocidade, mostrando humildemente que não deveria estar ali, logo não pode nem deve avançar – seu lugar é do outro lado da via. Depois, pisca.
"Oi-pisca-me-deixa-pisca-entrar-pisca-por-favor-pisca."
Seu movimento está feito, agora é hora de esperar o carro cortejado dar um sinal de “sim, pode passar”, ou de “não, colega, agora é tarde”.
Na feliz primeira hipótese, o segundo carro também reduz, e o carro-seta entra/penetra/se introduz (insira a palavra com conotação sexual de sua preferência, afinal você já percebeu onde isso vai dar) no espaço deixado pelo outro, com gratidão – naquele momento uma cumplicidade foi selada entre dois aqueles veículos desconhecidos, uma intimidade entre dois carros, atraídos pelo brilho intermitente da seta.
Intimidade que logo se encerra, pois o carro-seta precisa ainda conquistar quatro ou cinco faixas, usando da mesma estratégia humilde e sedutora - promíscuo!
Se o carro cortejado fica na defensiva, sente seu espaço ameaçado, em vez de reduzir, acelera, como quem grita “Comigo não, safado, já conheço seus truques! Você vem, entra/penetra/se introduz aqui e depois vai atrás de outro!” e vai-se embora satisfeito por não ter cedido ao charme de uma seta leviana.

Mas nem tudo está perdido. Brasília é o salão perfeito pra esses bailes que se repetem em cada horário de pico no nosso trânsito: se esse apressadinho escapou, você pode tentar de novo, e de novo, sem se preocupar em ficar muito longe daquela curva que iniciou sua dança. O próximo retorno fica a 100 metros.

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coerente contradição

>> terça-feira, 3 de maio de 2011

Sou dessas que classifica os outros à primeira vista e a partir dessa classificação adivinha gostos, decisões futuras e traumas passados– e acerto muitas vezes. Culpa do hábito de ler romances e ver novelas, analiso as pessoas como se fossem personagens.

Mas os problemas dessa relação direta entre ficção e realidade aparecem na definição de mim mesma. Como assim eu sou uma ultrajovem revolucionária mas não aguento mais o discurso pseudo-marxista da faculdade e não vejo mal nenhum em dar um pulo em Miami pra fazer umas comprinhas? Como assim eu apoio a luta pela igualdade de gênero e liberação da mulher, mas faço sacrifícios de vaidade pra receber um elogio masculino? Como assim eu vou ver a Orquestra Sinfônica escutando funk no caminho?

Falha de caráter? Falta de personalidade? Vai saber. A resposta consoladora que eu encontrei pra esses impulsos tão conflitantes é que, quem diria, eu não sou um personagem! Sou vários. Só que, diferente dos romances, onde cada um desses personagens tem sua cena, seu palco – em mim, somos todos um, encenando a vida real ao mesmo tempo, com falas não muito claramente separadas. E foi aí que eu, tão amiga das definições, tão apegada às coisas práticas e objetivas, tão sedenta de respostas e explicações, tive que aceitar que é isso mesmo, que não tem pra onde correr: somos seres contraditórios.

Essa resposta fácil, desculpa de quem não quer explicar o que não sabe, a cada dia se impõe mais como sendo a que tá valendo mesmo: a contradição é a essência humana.
Mas longe de solucionar, essa resposta trouxe mais perguntas! Se somos mesmo contraditórios pra que me cobraram por tanto tempo coerência, lógica, fidelidade, constância? Contradição quer dizer que tudo pode? Que tudo vale? Que se hoje sou estrela amanhã já se apagou? Se hoje te odeio amanhã lhe tenho amor? É bagunçado mesmo e a responsabilidade que se dane?

Não vejo dessa forma. Ainda não consegui pegar muito bem o que essa tal de contradição é e como ela afeta essa necessidade de ordenamento e etiquetamento que eu tenho das coisas. Sei que é fruto do cotidiano, do dia-a-dia, das pequenas decisões diárias, dessas coisas miúdas de que é feita a rotina e a vida. É nesse cotidiano que as grandes contradições de mostram, nesse desgaste da convivência que as certezas falham  e os personagens embaralham suas falas. 

Deve ser por causa desse caos que os homens fugiram para a  ficção – ela exige uma verossimilhança, uma coerência interna que a vida não tem, uma fuga pra um mundo com regras – regras criadas por um autor-ditador, é verdade, mas, ainda assim, regras.

Foi com essas reflexões também que eu entendi – FINALMENTE! – a base da dialética de que tanto falam durante o curso de Letras – avançar e retroceder – perguntar, questionar, avançar com cautela e  com alguma segurança, desconfiando do que é óbvio e das respostas fáceis. O segredo da crítica literária é também a grande dica pra vida: pra entender é preciso duvidar, questionar. Enxergar a contradição, aceitá-la sem juízo de valor: quanto mais contraditório, mais humano, mais real, mais verdadeiro.

Debaixo do manto protetor e conciliador da contradição, me dou o direito de escrever sobre o que eu quiser, desde as grandes questões da humanidade até o capítulo da novela das seis de ontem. Sobre o que me encanta mesmo escrever é sobre o dia-a-dia do cotidiano diário e isso me angustiava, porque aspirações   à grandeza de uma alma criadora não deixavam eu me ocupar com essas miudezas. Mas me convenço mais e mais de que em cada uma dessas miudezas há uma chave pros grandes problemas da humanidade.

Sou dessas que classifica os outros à primeira vista e a partir dessa classificação adivinha gostos, decisões futuras e traumas passados – e acerto muitas vezes.


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Opiniões inopinadas

>> segunda-feira, 2 de maio de 2011

No meio de um mar de ‘eu achos’ onde  uma classe média ociosa tem todos os meios pra sair por aí divulgando sua opinião sobre tudo e sobre todos, me pergunto de que vale, afinal de contas, a minha humilde opinião sobre o que quer que seja.
Sem obter resposta convincente pra essa pergunta, fala mais alto a vaidade da escrita, a vaidade de escrever e ser lido, de falar pra todos em geral e pra ninguém especificamente.

Não podendo resistir a essa vaidade, uso dela como desculpa pra continuar escrevendo, opinando, dando pitaco mesmo. Começo por identificar de onde exatamente partem as opiniões que partem de mim.

Sou uma mulher negra que cresceu pensando que era homem branco – e por isso tem os sonhos desse – cresci com pai e mãe presentes, com todo tempo do mundo pra estudar, não precisei trabalhar, não precisei ser mãe dos meus irmãos, não tive que suprir qualquer tipo de carência com vícios. Pude contar com o ócio necessário para estudar, para pensar e até pra ser filha rebelde. Tive tempo e espaço pra ser criança, tempo pra ser adolescente, e agora tenho tempo pra ensaiar os primeiros passos na vida adulta.

É daí que vem minha opinião. Vem da periferia, mas que eu só descobri que era periferia quando conheci o centro.  Tenho consciência de que hoje posso falar, opinar, por que mulheres, negros, latino americanos, um sem número de pessoas lutaram, brigaram antes de mim. Sei também do que fui privada, pelo simples fato de nascer onde e como nasci, mas que tive também inúmeros privilégios com os quais muitos estão sonhando agora. O privilégio de (saber) escrever em um computador (que eu tenho) é só um de uma lista sem fim...

Outros conquistaram o direito de falar por mim, essa não é uma luta minha. A minha luta é contra mim mesma: não esquecer de onde eu falo, não me perder na vaidade de falar só de mim, da minha vida, da minha história, do que eu sinto, mas olhar em volta, ver o outro, contar ao mundo o que o meu olhar pode alcançar de onde estou.

Dei azar e calhou que toda essa densidade e profundidade interior que eu julgo ter conseguido produzir graças ao meu ócio e à inquietude de uma alma curiosa, encontrar melhor expressão no riso. O riso, logo o riso, tão descabido pra falar de coisas sérias. Dei azar de ser engraçadinha. O humor, útil pra socializar, pra tirar o estigma de nerd tímida, me vem também na hora de falar de angústia, de dor, do desconcerto que essa sociedade contraditória me impõe.
Não nego minha sina, que venha o riso, então.

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