Escrever ou não escrever? tudo são questões!

>> sábado, 16 de março de 2013

Comecei a escrever quando tinha uns 12 anos. Os diários eram meus companheiros quando eu não estava na escola. Escrevi sempre sobre mim, para me fazer companhia, para me entender melhor, para criar uma memória. Eram escritos muito mais de reflexão do que relatórios objetivos. 

Fiz Letras, depois Literatura, sempre escrevendo. Quando não falo de mim, faço análise do que quer que seja, e escrevo textos de opinião. Estendi os textos do diário pro blog (não substitui, ainda escrevo diário!), e de tempos em tempos exponho um pedacinho de mim aqui pra vocês.

Penso no que falta pra que eu saia daqui e ganhe o mundo. Penso no que alguém precisa fazer para ser um bom escritor nesse caótico início de século vinte e um.

Há tempos eu não leio nenhum autor que ainda esteja vivo. 

É possível ainda escrever romances?

Sempre se diz que o bom escritor escreve sobre aquilo que vive, sobre aquilo que sente. O bom escritor representa sua realidade e a realidade do seu tempo. 

Minhas realidades são tantas que eu não saberia por onde começar. 

Até aqui, tive uma vida normal e sem muitos traumas. Todo o sofrimento da minha vida se resume a um bullying na infância e um histórico de vida amorosa meio desastroso, rs. Nada que se compare a uma esposa tuberculosa, a uma adolescência no campo de concentração, a um casamento não aceito pela sociedade, a ser do partido comunista quando ele era ilegal, enfim, a esses grandes sofrimentos e tribulações que estão na biografia dos nossos melhores escritores. 

Por outro lado, vivo num mundo completamente perdido. Vivo numa sociedade telemática que sofre de solidão e depressão coletivas, adoecida por um sistema econômico perverso e desigual. Uma Babel que disfarça sua incapacidade de se comunicar em liberdade de expressão. Temos todos os grandes problemas do passado - mas com muito mais pessoas, muitas novas e eficientes formas de nos matarmos uns aos outros.

Como isso me afeta? Apenas no plano das ideias. Não sou engajada em nada. Ou melhor, sou engajada em tudo. Sou uma cristã-socialista-liberal-feminista-ecochata-carnívora que só quer ter uma casa grande com cerquinha branca, um golden retriever e uma família de propaganda de margarina quando crescer. 

Me perco no relativismo e ser dogmática é cada vez mais difícil. Sou uma cética que tem fé. Tudo isso protegida protegida pelo conforto de poder criar essas imagens apenas com palavras - e não precisar provar nada.

Um bom escritor representa seu tempo, do lugar em que ele pode observá-lo. Meu tempo é superficial. No meu tempo, o aprofundamento do que quer que seja nunca sai do plano do discurso. No meu tempo, as grandes questões da humanidade são discutidas no tempo entre intervalos comerciais por apresentadores egocêntricos e convidados ignorantes.

Que boa literatura pode resultar disso? E se resultar, quem vai ler? Os que já pensam como eu, claro. Lerão, aplaudirão, dirão: é isso aí! Falou e disse! Serão Cinco pseudocults hipsters que (mas eles não perceberam) encarnam todo tipo de arrogância e prepotência intelectual que eu detesto e também critico.

Melhor seria me manter no superficial e agradar aqueles que ficam hipnotizados por qualquer um que verbalize o que eles querem ouvir como si mesmos.

A pessoa que lê autoajuda é como a que vai na cartomante: ela só quer ouvir outro dizer o que ele já sabe sobre si mesmo. É tudo sobre a vaidade de se saber objeto de observação do outro.

Mas é claro que meu espírito intelectual (e o seu círculo social) desenvolvido para separar a boa arte da arte ruim nunca me deixaria em paz, se essa fosse a minha escolha: ser a próxima Marta Medeiros. A próxima Tati Bernardi. O próximo Carpinejar. O próximo Paulo Coelho! 

Não, jamais! Nunca me venderia! (mas eu sou boa nisso, poxa! Sou boa observadora, sei conquistar pelas palavras - eu sei o que as pessoas querem ouvir! E não sou boa na "boa arte!" Nunca serei um gênio da "grande" literatura!)

E ainda tenho meus pudores, meus falsos moralismos, meus tabus. Dar minha opinião sobre o mundo e falar sobre as inquietações da minha alma humana e mesquinha são as coisas que eu faço melhor. Mas são sempre limitadas por uma série muito bem determinada de valores morais bem tradicionais. Faço a moderninha, mas sei muito bem onde guardo meus muitos, feios, medievais preconceitos. 

Elevar a escrita a profissão na minha vida significaria me despojar de tudo isso: expor minhas vísceras, romper com família, sociedade, status: me derramar em discurso e poesia. E ouvir o que as pessoas têm a dizer de volta. Inclusive críticas. Descobrir que eu não sou perfeita! 

Meu tempo não faz isso. Meu tempo supervaloriza a privacidade - e, por isso, vendê-la é um negócio cada vez mais lucrativo!

Eu sou apaixonada pela palavra escrita. Eu quero escrever. Mas não sei como fazer disso profissão. 
A liberdade e a tecnologia do meu tempo me permite (ou me obriga?) a ser escritora, editora, publicitária e vendedora dos meus textos. 
Mas a minha única habilidade é escrever. 
E eu não sei sequer sobre o quê.

4 comentários:

Michele Pandini 16 de março de 2013 às 13:13  

Acho que está na hora de você parar de ler um pouco do nacional e partir prum autor japonês chamado Haruki Murakami. Mais especificamente seu livro "Dance dance dance". Acho que você se encontrará lá. Ele é um autor que simplesmente escreve. Não é bem sobre o quê, mas ele vai escrevendo uma história sem se apegar que ela faça sentido ou que ela tenha algum significado.
O engraçado é que o personagem do livro diz que é um "limpador de neve cultural". Ele é um crítico de comidas e o faz isso porque alguém tem que fazê-lo. Talvez seja isso. Talvez você tenha que escrever porque alguém tenha que fazê-lo.

Unknown 16 de março de 2013 às 13:57  

ecochata nada vc já me mandou enfiar uma ecobag no cu uma vez

Unknown 16 de março de 2013 às 13:58  

se bem que isso foi super ecochato

Anônimo,  16 de março de 2013 às 16:17  

Busque a verdade. Não pense em quem vai ler. Gente escrevendo bobagem já tem demais.

Leandro

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