Dança das Cadeiras - por Marília Ferreira

>> terça-feira, 19 de março de 2013


Segunda-feira, meio dia, finalmente o horário de almoço! É incrível como as manhãs de segunda parecem nunca passar... Aliviada por estar saindo do trabalho, decido ir ao shopping almoçar.

Ao terminar de subir a escada rolante que dá acesso à praça de alimentação me arrependi amargamente de minha decisão. Como pude me esquecer disso? Praça de alimentação de shopping na hora do almoço é a porta do inferno! Uma cadeira para cada dez pessoas, pior que concorrência de concurso público!

Mas o erro já havia sido cometido. A fome já estava apertando, e, após o que me pareceu ser uma eternidade na fila para fazer o pedido, entrei na dança segurando minha bandeja. Como eu temia: nenhum lugar vago. Então comecei minha busca por uma mesa que parecesse estar prestes a ser desocupada.

A primeira mesa que olhei estava ocupada uma mulher e quem julguei serem seus três filhos pequenos. A mãe parecia estar em mais apuros que eu: a menina mais nova chorava inconsolavelmente e os dois meninos brigavam pelas batatinhas que sobravam. Definitivamente, aquela não seria minha mesa. Mais adiante, avistei uma mesa com cinco adolescentes que aparentemente já haviam terminado sua refeição, mas continuavam ali tirando fotos e brincado de “eu nunca” com refrigerante. Pelo jeito, não sairiam de lá tão cedo...

Em outra mesa havia um casal. A garota já tinha terminado seu prato e olhava encantada para seu amado, que, ocasionalmente parava de mastigar pra lhe mandar beijos. Ele também já estava terminando e checou as horas em seu relógio. Eu já estava me preparando para pegar a mesa bem na hora em que uma mulher vestindo um farto decote passou ali ao lado. Por um segundo o olhar do rapaz se desviou para ela, e, pela expressão da namorada, percebi que uma briga tenebrosa estava para começar. Disse adeus para aquela mesa e segui em frente.

Meu próximo alvo foi a mesa de um velhinho que estava desacompanhado, mas desisti desta momentos depois quando uma moça se juntou à ele com sua bandeja na mão. A principio, achei que eram pai e filha, mas o beijo que trocaram em seguida me fez pensar que ele estava melhor que muito garotão por aí!

Cansada e faminta, decidi mudar de estratégia. Encontrei uma mesa ocupada apenas por uma senhora, três cadeiras vagas.

- Desculpe, mas a praça está cheia, posso me sentar aqui?

-Sem problemas. Respondeu.

Finalmente sentada, comecei a comer meu almoço já quase frio. A senhora com que dividi a mesa usava duas alianças no dedo anelar, o que me levou a concluir que era prematuramente viúva. Pouco tempo depois ela deixou a mesa. Não demorou muito e eu a liberei para um trio de amigas que a rondavam feito abutres. Compreensível.

Voltei para o trabalho pensando que talvez se almoçar no shopping não fosse, para muitos, uma atividade coletiva e social eu teria conseguido comer meu almoço ainda quente e tampouco teria que explicar meu atraso ao meu chefe. Afinal, quem come sozinho, termina mais rápido.

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