Meninas Malvadas

>> sexta-feira, 9 de abril de 2010

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11/04/2001, em uma classe qualquer de 6ª série.


“11 anos de idade e ainda não consigo ser minimamente popular na escola – ou em qualquer lugar. É o fim do mundo! Chega!”
Foi com esse pensamento seguido de decisão que Bianca se aproximou da rodinha da May, abelha-rainha da turma, e escutou a conversa:
- Você está gostando dele, amiga?
- Ah, não sei, Jô! Acho que sim... Ele é gatinho, né? Só tenho que fazer ele saber que eu tô a fim dele! Você podia falar com os meninos e...
- Nem começa, May! Eu nem falo direito com os amigos do Dudu e...
Bianca não teve dúvidas, aquela era a sua chance! Seu caminho rumo ao reconhecimento e à popularidade começava a ser trilhado. Os anos que passara cultivando a amizade dos meninos – e sendo vista por eles como um – serviriam para alguma coisa. Não hesitou em entrar na conversa. “Oi, meninas!", disse, com naturalidade ensaiada na frente do espelho - Vocês estão falando do Dudu? O Carlos Eduardo da sétima? Eu sou amiga dele!
Passados o estranhamento que aquela intromissão repentina da nerd na conversa causou e o pensamento “ela é amiga de um menino?”, May e Jô continuaram a conversa como se aquela fosse uma situação normal. Depois de verificado que a intrometida poderia, afinal, ser útil, terminaram a conversa como amigas de infância, com tudo combinado para que Bianca falasse com o Dudu no dia seguinte.
E foi com dedicação que o fez, destacando as qualidades da agora sua amiga May, que tinha olhos verde-mel, longos cabelos cacheados e uma voz anasalada que o seu talento para descrições fez parecer sexy. Tudo ia bem. Bianca agora não ficava folheando livros didáticos nos intervalos, mas desfilava de braço dado com May e as meninas. 
O encontro entre May e Dudu atrás da caixa d’água já estava combinado, e Bianca nem se lembrava mais da última vez que fora chamada de Bianca, pois suas novas amigas a chamavam carinhosamente de Bia, quando a inocente desconfiança infanto-juvenil colocou uma pulga atrás da orelha de Jô.
Um dia, sem entender por que Bia ainda falava com Dudu mesmo depois de ter terminado o seu trabalho como cupido, Jô só pode chegar a uma conclusão: ela estava apaixonada por ele! É claro! Uma nerd, andando com as populares, começou a ser reparada na escola, pensou que pudesse ser igual a elas e achou, tadinha, que pudesse concorrer com a May e roubar o Dudu! Como as meninas não viram isso antes? Como o Dudu não viu que ela estava se passando por amiga dele pra dar o bote a qualquer momento?
No dia seguinte, Bianca reparou que as coisas haviam mudado – ou melhor, voltado a ser como eram antes. Chegou na classe e ninguém havia guardado o seu lugar perto das meninas, na hora do intervalo, as meninas não a esperaram pra comprar o lanche, ninguém a convidou pra jogar Banco Imobiliário depois das aulas. Nem pode ir andando pra casa com o Dudu, como sempre fazia, por que a Jô – que antes não falava com meninos – antecipou o encontro dele e da May atrás da caixa d’água pr'aquele dia.
Agora não só era ignorada, como era ignorada intencionalmente.


Estava sozinha de novo e a sua primeira experiência como Conselheira Amorosa foi um fracasso.

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