Último

>> segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Último. 
Plano para 2013 é fazer trabalho voluntário no blog – trabalhar de escrever aqui de graça. 
Agora, sem a dissertação, preciso me disciplinar a escrever em outro espaço – sob o risco de, se não o fizer, perder a habilidade naquilo que faço melhor, habilidade que só vem e é mantida com a prática: pensar por meio da escrita. Pensar é difícil, escrever também. Fazer os dois simultaneamente, então... ai de mim, se não praticar.

No último do ano, claro, penso nos doze meses que se passaram. Um dos anos mais marcantes da minha vida – mas na verdade todos os meus anos têm sido marcantes. Desde que eu posso me lembrar não há um ano que tenha passado em branco, que não tenha tido sua grande conquista, realização, começo ou conclusão. Ainda não sei o que vou conquistar no próximo ano: talvez conquiste justamente a serenidade de ser feliz sem ter conquistado nada de pretensamente especial. Ou talvez eu invista em uma realização ainda maior do que as que eu já tive. Ceder à ambição de dominar o mundo ou descansar, não sei. Sei que nada está “arranjado”, engatado, pronto. 
2013 talvez seja minha primeira página totalmente em branco, sem um caminho tracejado sobre o qual eu precise apenas firmar uma linha contínua. (metáfora que só quem foi alfabetizado no mimeógrafo deve entender).

Fiz o primeiro dever de casa: escrevi o post da segunda-feira. A ideia é escrever um por dia últil, até quando der. 

2012 vai ser arquivado no meu gaveteiro verde-metálico da memória como o ano em que eu terminei um namoro de quatro anos pela primeira vez. O ano em que eu “formei” minha primeira turma de crisma como catequista. O ano em que eu fiquei estável no serviço público. O ano em que (até então) eu mais viajei. O ano em que eu fiz meu primeiro mochilão sozinha. O ano em que eu quase peguei um cara de cada continente do mundo (droga, faltou África! Ainda tenho 12h pra encontrar um egípcio ou um angolano dando mole por aí!). O ano em que eu terminei meu (primeiro) mestrado. O ano em que eu mais fui "young, wild and free": saí, bebi, beijei,  viajei, procrastinei, me apaixonei e fiz loucuras irresponsáveis das quais a maioria das pessoas nunca vai saber nem a metade, rs. 

Pronto, 2012 já vai ser tagueado em muitas categorias importantes, de dar inveja aos anos passados ou futuros – se bem que, como eu disse, não há um ano nos últimos, sei lá, quinze, que não seja marcado por um acontecimento importante, desde a separação dos meus pais, em 98, a partir de quando começam minhas memórias mais nítidas. Taí, talvez o desafio de 2013 seja ser um ano não-marcante. Sem grandes acontecimentos. Em que eu assista meus filmes, leia meus livros e escreva sobre eles no blog (yeah, right, como se eu conseguisse!). Depois de tanto tempo correndo atrás da cenourinha à minha frente, será que eu me acostumaria a um ano assim? Bom, sonhar não custa. Afinal, a magia do ano novo gira toda em volta disso. Da crença mística de que a partir da meia noite do dia primeiro tudo pode virar realidade. E o meu maior desejo nessa meia noite será não ter desejos. Não criar as grandes expectativas e cobranças sobre mim mesma que vêm alimentando minha ansiedade crônica a vida toda. Tá bom. Chega. Já provei pra mim tudo o que eu tinha que provar.

E percebi de repente – agora – que passei muito tempo me esforçando pra ser amável, respeitável, admirável e desejável sem me dar conta de que quem tem mesmo que me amar, respeitar, admirar e desejar vai fazer e sempre fez isso de qualquer jeito, independentemente do meu esforço (e muitas vezes apesar dele). Todo mundo, menos eu. Ralei muito tentando me conquistar. E como eu fui difícil pra mim mesma! Pra só então, depois de oferecer à minha vaidade o fruto do meu melhor trabalho, descobrir que não precisava de nada disso. Que do mesmo jeito que eu amo, admiro e respeito a menina mestre, servidora, amiga disponível, engraçada e espontânea de 2012, eu vou amar, admirar e respeitar a blogueira gordinha que escreve sobre os filmes e livros dela em 2013.

Saber disso há uns dez anos atrás teria me evitado muita ansiedade e me dado mais tempo pra ler meus livros e ver meus filmes, rs.

Que venha o novo ano! 
Para mim, que seja leve, doce e tranquilo. Que as quatro estações sejam primavera, que o amor me encontre de coração aberto e sem defesas. E que o calor dos meus queridos mais queridos não se afaste de mim.

Pra vocês, que seja como a imaginação e a vontade de cada um desejar! (Por favor, imaginem e desejem coisas boas, valem os clássicos: paz, saúde, dinheiro e um cadim de amor verdadeiro)
Feliz Ano Novo,

Equipe LaranjaSumus (eu!)

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Eu, mestre!

>> quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Aaaaah, como eu esperei pra escrever esse post!

Sei que já deve ter gente de saco cheio desse mimimi, querendo falar pra mim "Ok, ok, todo mundo já sabe, você é mestre com 22 anos, parabéns, agora senta lá!", e eu não ligo, rs.

Acompanhe a saga do eu, mestranda aqui, aqui, aqui e aqui.

Terminei a monografia no 1/2010, fiz a seleção do mestrado e mais vinte créditos da graduação durante o 2/2010. Em 2011 fiz as quatro matérias do mestrado e comecei a escrever o texto final. Em 2012 finalizei o texto e defendi. Tudo isso trabalhando numa área totalmente diferente (ministério da saúde), 40 horas semanais. Foi difícil! Tenho meus motivos pra comemorar por muito tempo!

Mas isso já está dito na série mestranda, rs. Vamos ao capítulo final dessa novela: a defesa. Terminei o texto no final de setembro, mas a banca só foi marcada para o dia 28 de novembro, por um motivo: o professor, crítico e tradutor Paulo Bezerra foi convidado a participar - aproveitando a sua vinda para um Seminário do meu departamento, dias 29 e 30.

Ok, passei o mês de outubro na flauta, livre, leve e solta, feliz e contente, de férias. Entrou novembro e eu ganhei de presente do meu trabalho a missão de representar o Ministério em Porto Alegre (!!!), terra do Verissimo.

Voltei a uma semana da defesa. E então caí na real: Eu seria a primeira orientanda do meu professor a defender! Paulo Bezerra estava lendo meu trabalho! O cara que traduziu Dostoiévski, o cara que traduziu e interpretou o pensamento bakhtiniano, o cara que eu citei e parafraseei pra falar de Incidente em Antares!

Daí surtei. Imunidade caiu, fiquei resfriada, perdi a voz, fiquei numa tpm eterna de ansiedade e medo: medo mesmo, de não conseguir falar na hora - travar - de "apanhar" muito na banca, de ter errado muito, de não saber responder... medo, medo, medo. 

Por quê? Porque o nível de exposição era muito alto... num trabalho desses estão horas da sua vida, todo o seu melhor, todo o seu potencial, tudo o que você podia oferecer... ali, sujeito à livre avaliação de outras pessoas, a mercê da boa vontade de outras pessoas - pessoas que têm mais autoridade, conhecimento e experiência que você.

E, pessoalmente, quem me conhece sabe que a minha exposição excessiva é fake. Eu evito ao máximo me expor em situações que realmente me atingem. Então, sinceramente, eu não ligo pro que possam pensar do meu jeito, dos meus gostos, das minhas escolhas, da minha aparência - nada disso me atinge negativamente. 
Mas o meu texto é o meu ponto fraco. É o meu orgulho, é a minha vaidade, é onde eu apresento o melhor de mim. E pensar que esse melhor de mim pode ser considerado não tão bom me deixa insegura, ansiosa, faz com que eu me sinta frágil, vulnerável, exposta: me faz ser de novo aquela menina tímida de onze anos que eu era na escola.

Mas ok, não tinha pra onde correr: me arrisquei. E eis que o fatídico e chuvoso 28 de novembro,  aniversário de 37 anos da morte de Verissimo, chegou. Reunida a banca, por pouco mais de meia hora eu falei sobre o meu trabalho, nervosa, engasgando um pouco, mas sem travar. E terminei esperando o pior. Mas veio o melhor: O prof Paulo Bezerra elogiou meu trabalho, logo de saída! Me comparou a Graciliano Ramos, definiu dois parágrafos como brilhantes, elogiou a escrita, a leitura, a análise. Naquele momento coloquei minhas mãos no título de mestre! 

As "batidas" que vieram depois, eu nem senti. Respondi às críticas como pude, e esperei pela fala do prof. Vianney, o segundo membro da banca, que também elogiou meu trabalho antes de tudo: a fluência, a pertinência, a boa escrita - para depois fazer as críticas e observações - sempre de forma gentil e profissional, assim como o prof. Paulo.

A banca deliberou o resultado: APROVADA - com a sugestão de transformar o trabalho em ensaio a ser publicado ou em livro! APROVADA, uma palavra que me libertou de uma tensão acumulada por dois anos! Acabou! Passei! Sou mestre (ou mestra, mas eu não tenho preconceito contra o comum de dois gêneros)! Um dos maiores críticos literários desse país leu - leu de verdade! - e gostou do meu trabalho! Tudo, tudo, tudo valeu a pena!

Então, eu tenho mais é que comemorar, né? Foi difícil, deu trabalho, me comprometi de verdade - e ainda tive que rebolar pra não parar o convívio social, as viagens, enfim, a vida "normal"  por causa disso.

Agradeço a todos que torceram, vibraram, se orgulharam - os agradecimentos oficiais que foram pra dissertação estão aqui. Agradeço aos coleguinhas mestrandos - eu sou vocês amanhã! - e ao meu orientador - agora meu amigo! Agradeço à TL do tuíter e do facebook que presenciou involuntariamente meus surtos a cada prazo, a cada madrugada, a cada véspera.

Agradeço de novo também - e nunca vai ser o suficiente - à minha família, aos meus pais, meus grandes amores, queridos, parceiros, lindos! É tudo pra vocês!

Enfim, chega de racionalizar! Tou feliz, e só quero deixar essa felicidade fluir enquanto ela durar! Só tenho a agradecer! Agradecer, agradecer e agradecer! Obrigada! Essa conquista não valeria nada pra mim se eu não tivesse pessoas tão especiais com quem dividi-la!

Pra quem tiver interesse, assim que eu terminar os trâmites burocráticos pro depósito da dissertação no departamento, converto em pdf e coloco em alguma biblioteca digital. Até lá, fica a dica: leiam O prisioneiro do Erico Verissimo, é curtinho. A minha análise desse romance foi a parte mais elogiada do trabalho :)

E agora, qual será a próxima saga? Eu, concurseira? Eu, doutoranda? Eu, atriz, modelo e apresentadora de TV? Aguardemos!

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Consciência de quê?

>> terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência de que ser negro - e negro de classe média - é não ser o padrão, é não ser o normal, é ser marcadamente diferente - e ainda inesperado!

Consciência de que "ser" negro - quando não "se precisa" sê-lo é um desafio, é uma escolha, uma posição política.
Consciência de que a ascensão social individual quando se é negro é uma traição ética e étnica. 
Consciência de que sim, é chato, é cansativo, é desgastante voltar sempre nesse assunto - mas é preciso! Porque silenciar sobre o racismo, sobre o preconceito e sobre a violência moral e física de que jovens, crianças, mulheres e homens negros são vítimas no nosso país todos os dias é ser conivente - silenciar é fortalecer os grilhões sociais, culturais e econômicos que oprimem nossos semelhantes. 

Silenciar é uma escolha covarde e egoísta. Silenciar é escolher calar uma consciência. Essa tal "consciência negra" que me permite falar do "meu povo" sem nunca ter sido escravizada, sem ter sido agredida pela polícia, sem ter sido rejeitada numa entrevista de emprego, sem ter sido confundida com uma empregada de loja ou como copeira no meu trabalho (opa, esses dois últimos eu já fui!).

Esse texto é pra vocês, amigos negros, que fizeram uma universidade pública, que têm um bom emprego, que moram em vizinhanças caras - que podem escolher passar despercebidos, serem "normais", serem "padrão".

Não o sejam. Não se tornem invisíveis. Há mais do que a estabilidade e o conforto de vocês em jogo. 
Há uma elite majoritairmanete branca que precisa nos ver aqui em cima - e enxergar a nossa cor, a nossa história, e ouvir o nosso barulho - e desistir de nos pasteurizar. 
Há uma juventude negra e pobre que precisa ouvir de nós "Eu te ajudo". E não um "Se eu consegui, você também consegue". Nós conseguimos porque tivemos famílias estruturadas, porque em algum momento da nossa juventude alguém conseguiu nos convencer de que estudar era a melhor escolha.
Por quantos jovens negros você já fez o mesmo? 
Precisamos parar de querer subir, sozinhos, cada vez mais alto nessa pirâmide capitalista, e começar a pensar coletivamente, para depois agir coletivamente.


Só coletivamente seremos respeitados, só coletivamente teremos voz e dignidade, só coletivamente poderemos fazer com que um dia o racismo deixe de ser discutido como problema social - e passe a ser apenas um dado histórico: precisamos falar sobre o racismo hoje para que ele não exista amanhã. 

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#RLL - Do desassossego que é viver

>> terça-feira, 16 de outubro de 2012

Depois que terminei a dissertação, e enquanto ainda não a defendo, estou num hiato da vida. 
Me atormenta aquela pergunta: e agora? o que fazer? em pouco mais de um mês provavelmente serei mestre. E depois? Quero descansar - mas descansar como? Com o ócio vem a vontade de pensar, e com os pensamentos vem um cansaço da vida, uma preguiça do futuro, de ter que começar tudo de novo, fazer novas escolhas, novas renúncias, mais do mesmo... o mesmo que é nada...

Resolvi ler. (Ler e viajar são sempre a solução - mas fazer compras também ajuda!) Fernando Pessoa foi o escolhido - se é pra ficar deprimida, vamos ficar com estilo. 

Estou lendo o Livro do Desassossego, do heterônimo Bernardo Soares. O Livro é composto por uma série de fragmentos em prosa, escritos por esse guardador de livros solitário da imaginação de Pessoa.

Não poderia ter escolhido melhor obra - a cada frase que leio ouço reverberar o meu mais profundo sentimento de tédio e preguiça de viver - nada que flerte com o suicídio, é algo mais próximo de uma atitude bem marcada diante da vida: a de não vivê-la. Não vivê-la por não ver sentido em despender tanto esforço em algo tão passageiro e fútil - não vivê-la para passar os dias se ocupando do que é verdadeiramente real: nosso mundo interior de sonhos e sensações. 

Esse Pessoa fala diretamente pra Bruna de 13 anos que ainda mora aqui dentro - a que compartilhava a vida com um diário, e ninguém mais. Ler esse Pessoa metafísico é uma provocação: hoje eu estou longe de abdicar da vida, pelo contrário, quero vivê-la em plenitude,  com força e paixão, com o coração irracional e inconsciente: "O coração, se pudesse pensar, pararia. A inconsciência é o princípio da vida."
Se é assim, então porque me deixo cair nesses momentos de apatia e fuga pro eu que há dentro de mim?

Esse Pessoa me obriga a repudiá-lo, respondê-lo, contradizê-lo, mesmo que por alguns momentos eu desejasse somente que tivesse sido eu a que escreveu essas palavras de repúdio a qualquer forma de ação. 

Mas o fantástico da literatura é essa provocação - essa intimação a um posicionamento de cada leitor. Em muitas linhas quero me deixar levar pela vertigem desse sentimento do negar toda e qualquer verdade possível na existência. Como não se deixar seduzir pelas palavras do poeta?

O sonhador não é superior ao homem ativo porque o sonho seja superior à realidade. A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de ação. Em melhores e mais diretas palavras, o sonhador é que é o homem de ação.
Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.



Leio até o fim para me lembrar de que não, eu não sou dessas. Não mais. Escolhi me comprometer com a vida e com as pessoas a meu redor. E se isso quer dizer que eu vou ter, sim, que superar o tédio e a preguiça, e fazer planos, e tomar decisões, e fazer compromissos, e passar por aborrecimentos mil, que assim seja. Mas não agora. Para agir e realizar, preciso antes sonhar. E é isso que esse desassossegado e desassossegante livro tem me ensinado. A sonhar.

MANEIRA DE BEM SONHAR

- Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã! Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje.
- Nunca penses no que vais fazer. Não o faça.
- Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal-estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real, a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o de nascer até ao de morrer, tu não ages: és agido; tu não viver: és vivido apenas.
Torna-te, para os outros uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio. 
E se alguém te disser que isto é falto e absurdo não o acredites. Mas não acredites também no que eu te digo, porque se não deve acreditar em nada.
- Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.

E então compreendo o porquê dessa apatia repentina. Não há razão para desespero: ela é passageira e necessária. Vou, então, escolher uma janela qualquer para olhar a imensidão do mundo - que ao mesmo tempo é tão insignificante; e aproveitar meu momento Bernardo Soares. E se ele não passar, alguém por favor me dê uns tapas e me mande fazer algum trabalho braçal pra esquecer da metafísica. 

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Eu, mestranda #4

>> quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Acabou! Acabou! Acabooou!

- Como assim, Bruna, já podemos te chamar de Mestre Laranjinha?

Não, ainda não, ainda não defendi a dissertação na banca pra ganhar oficialmente o grau. Mas, fiz o mais difícil: encontrei o ponto final do meu texto!

(Confira os outros posts da saga "eu, mestranda": partes um, dois e três.)

No último post, nos idos do mês de março, estava eu choramingando sobre a pressão de ter que escrever - só isso. Seis longos meses depois, aqui estou eu, livre leve e solta, feliz da vida de ter achado o bendito ponto final! 

De março pra cá eu passei por todos os bloqueios criativos possíveis. A ideia inicial seria terminar de escrever em maio ou junho, mas eu não consegui. Planejei pra mim mesma um mês de férias quando tudo passasse - um mês longe de tudo e de todos, completamente away! Foi daí que surgiu a ideia do mochilão que eu fiz mês passado. 

Combinei isso com meu orientador: tiraria o mês de agosto inteiro de férias. Então, o meu prazo pra terminar o texto ficou sendo dia 31 de julho. Antes disso terminei, enviei pra ele - e fui embora, fui viajar, com a consciência tranquila e pronta pra esquecer de todas as minhas obrigações por aqui. 

Quando voltei, meu orientador já havia lido tudo, e me devolveu o texto com algumas poucas modificações que eu deveria fazer: as últimas, pelo menos em questão de conteúdo. Nesse último fim de semana trabalhei nelas, tive minha última madrugada dissertativa, depois minha última reunião com orientador, e ontem, num fatídico onze de setembro, eu entreguei minha dissertação, impressa e pronta pra ir pra banca.

E agora?

Agora eu devo providenciar alguns trâmites burocráticos: pedir autorização pro departamento pra montar minha banca, convidar oficialmente os professores, e marcar a data da defesa, que deve ser daqui a pouco mais de dois meses, durante um evento do meu departamento sobre o "meu" teórico, Bakhtin.

Morte e Liberdade na obra de Erico Verissimo:
O prisioneiro e Incidente em Antares
em perspectiva bakhtiniana
E por que que eu já tou comemorando se eu ainda nem defendi? Porque eu não tou comemorando o título de mestre, que ainda não veio - e pode nem vir, vai que a dissertação não é aprovada? Tou comemorando o fim das noites em claro, de ir dormir de madrugada e acordar cedo no outro dia pra trabalhar, de ter que dizer pros amigos "não, não posso sair, tenho que escrever nessa noite, tenho reunião com o orientador, tenho livro pra fichar"! 
Tou comemorando o fim da angústia de pensar "será que eu vou conseguir achar meu ponto final? será que vai ficar bom? será que eu vou conseguir concluir minha ideia?" 
Tou comemorando o fim de um trabalho que deu muito trabalho, mas que ficou bom! Do qual eu me orgulho! (e espero que a banca concorde com isso, rs). Que gerou em mim muita ansiedade, mas que eu fiz com prazer - afinal, é de literatura que eu gosto!

Enfim, tou comemorando minha liberdaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaade! - mesmo que ela dure pouco, porque logo, logo eu vou acabar achando outro compromisso, como estudar prum concurso, aprender uma língua, estudar pra seleção do doutor... ér, não, isso não!

Por isso quero aproveitar bem esse momento de leveza, satisfação e alegria! Porque ele é muito gostoso e não dura muito! 

Desde já fica todo mundo convidado pra defesa, que ainda não tem data, depende da data do Seminário de Literatura e Cultura do TEL.

Essa seria a hora em que eu agradeceria pessoas, mas já fiz isso na própria dissertação.
Seguem eles, os agradecimentos, logo depois da dedicatória (e não poderia ser diferente!) aos meus pais:

Para Célia e Jair,
com amor e gratidão.

AGRADECIMENTOS

Esta dissertação é a conclusão de um percurso crítico-literário iniciado ainda na minha graduação, na disciplina de Literatura Brasileira Contemporânea, então ministrada pelo Prof. Dr. Augusto Rodrigues. Não agradecer nominalmente a cada consciência em parte responsável pelo resultado desses dois anos de muito trabalho seria silenciar monologicamente as vozes que reverberam a cada linha desta dissertação. Assim, agradeço:
A Célia, minha mãe e maior entusiasta, pela dedicação amorosa que nunca me faltou, pela torcida que jamais duvidou do meu sucesso, pela companhia nas minhas noites insones.
A Jair, meu pai e primeiro professor, pelo conselho amoroso de pai e criterioso de mestre em literatura, pela leitura atenta e valiosas sugestões ao meu trabalho.
A Marília e Vinícius, meus irmãos, pela infância compartilhada, pela admiração e respeito ao meu trabalho.
Aos amigos de infância, especialmente Gabriela e Diego, pela presença de sempre.
Às amigas e aos veteranos do curso de Letras, especialmente Ana Clara, Juliana, Hayane, Laís, Marcos Vinícius, Newton e Amanda, pelo companheirismo durante a graduação, e pela amizade que dura depois dela.
Aos amigos da Salsa-UnB, especialmente Rayanne, Jhonathan, Priscilla, Danilo, Leonardo, Thayana e Ana Maria, pela descontração física e espiritual que há anos me ajuda a manter o equilíbrio emocional nos momentos de maior tensão.
Aos amigos da igreja, especialmente Susane, Thiago, Jamara e João, pela torcida e preces àquele que é a Consciência de todas as consciências.
Aos colegas de trabalho do Ministério da Saúde, especialmente Paula Kareny, Antônio, Conceição, Fabiana, Viviane, Tatiana e Natália, por compreenderem e apoiarem as demandas de tempo e dedicação dos meus estudos desde a seleção do mestrado.
Aos professores do Curso de Letras-UnB, especialmente Gilson Sobral, Ana Laura Correa, e Raquel do Valle Dettoni, pelas lições de compromisso com o ensino, com a linguagem e com a literatura.
Aos colegas e amigos da Pós-Graduação, do grupo de pesquisa Literatura e Cultura e do Grupo Literatura e Inacabamento, especialmente Stephanie, Ariadne, Pedro, Lara, Luisa, e Ana Clara, pelas enriquecedoras discussões sobre o pensamento bakhtiniano e pelas conversas sobre este trabalho.
Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação do TEL, especialmente os professores Sara Almarza, João Vianney e Elga Laborde, pelas orientações na feitura dos artigos das disciplinas que facilitaram a escrita da dissertação.
Ao mestre Augusto Rodrigues, por me apresentar Erico Verissimo, Bakhtin e os diálogos dos mortos. Pela partilha generosa de suas leituras, por ser meu primeiro leitor dedicado, pelo companheirismo e pela franca amizade que construímos ao longo desses quatro anos de convivência e parceria.
Aos membros da banca examinadora, pela disponibilidade em ler meu trabalho e pela atenção dispensada a esse exercício dialógico em que nossas leituras se cruzaram.
Aos mortos tagarelas que me acompanharam nesses quase quatro anos, e hão de sempre me acompanhar: Erico Verissimo, Mikhail Bakhtin e Machado de Assis, por me apresentarem o mundo no qual viveram e agiram, por seus discursos que modificaram e ampliaram meu modo pessoal de conceber a realidade e a literatura, enfim, por estarem, para mim e para os que pensam literariamente, vivos, irremediavelmente vivos.




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depois de um hiato #2

>> segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um mês em viagem, um mês sem atualizar o blog. Contra as previsões mais pessimistas, cá estou eu, sã e salva - e com mais histórias para escrever do que nunca!

São tantos os assuntos sobre os quais eu quero escrever, que nem sei por onde começar. Chego a pensar que o melhor é guardar todas as minhas reflexões comigo, no meu silêncio, pra que elas não percam força ao serem transpostas para palavras que, agora me parece, serão insuficientes. Talvez eu faça mesmo isso. Talvez eu publique o meu diário de viagem na íntegra. Mas por enquanto, a ideia do silêncio é a que me atrai mais. Primeiro sinal de mudança.

***


Na solidão do deserto não há pra onde fugir: ganham força todas as vozes que os ruídos constantes da cidade sufocam dentro da gente.

***

A partir de amanhã, volto pra rotina de trabalho e mestrado. A rotina é a mesma - eu não. Mas eu sei que muitos dos pensamentos que germinaram durante a viagem precisam do terreno tranquilo da rotina para florescer. Os próximos meses serão de colheita. E de mais trabalho. Trabalho para lapidar as ideias, enformar as palavras, quebrar a cabeça pra achar a expressão exata de tudo o que eu senti e passei fugindo dos clichês - pelo menos dos mais óbvios.

Mas - preciso escrever isso - estou feliz! Me sinto bem, me sinto forte, me sinto corajosa! Sinto que já não há nada que eu não possa fazer (droga! fugir dos clichês mais óbvios vai ser mais difícil do que eu pensava!)
Tenho uma esperança e uma fé no futuro que são quase palpáveis. E isso é bom! Quero transformar isso em texto, em alimento pro blog, mas ainda não sei como. 
Convido meus queridos leitores - se é que os há - a ver nos próximos dias como eu me saio nessa tarefa.





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Travel On!

>> sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Um mês sem atualizações por aqui, mas quando eu voltar tem Diário de Viagem!
Pra ver o meu roteiro é só clilcar na bandeira do triplline aí do lado!
Queria escrever mais, mas preciso terminar de arrumar a mochila!
Fui!

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Eu, mochileira - #FAQ

>> terça-feira, 31 de julho de 2012

Quem me tem adicionada no facebook ou me segue no twitter já sabe que estamos em ritmo (ritmo de festaaaa) de férias! Embarco dia 04 de agosto, no próximo sábado, rumo aos Andes, e volto Deus sabe quando (brincadeira, volto dia 02 de setembro). É claro que eu vou blogar essa aventura quando eu voltar (assumindo que eu volte). Por enquanto ficam as frequently asked questions quando eu conto a novidade prozamigo.


Bruna, você é louca?
Não, minha mãe me testou (#sheldonfeelings).

Mas você vai com quem?
Vamos eu e Deus.

Mas você vai sozinha?
Eu e Deus, moço, já disse. Já combinei tudo com Ele.

E quanto tempo você vai ficar?
30 dias.


Pra onde você vai mesmo (sozinha!)?
Vou fazer um mochilão pela América do Sul. Desço de avião em Sta Cruz de la Sierra, na Bolívia, e de lá passo por cidades de Bolívia, Chile, Peru, tudo de ônibus ou 4x4, e depois volto pra Sta Cruz e venho embora (se o Pablo Juan Martín deixar).

Mas você vai sozinha?
Afffff!

E sua mãe deixou?
Eu sou de maior, e (agora) vacinada e estou custeando a viagem com meu rico dinheirinho - ok, com um trocado do banco também - ! Mas sim, acho que ela deixou... ou vai deixar quando eu contar pra ela, no aeroporto.


E você não podia ter ido pra Miami comprar muamba? Porque você escolheu esse destino? O que tem pra fazer lá?


Eu já tinha decidido viajar um mês inteiro, quando terminasse a dissertação. Marquei as férias ano passado ainda. Pensei que por agosto eu já teria defendido, já seria mestre, yey, e tal. Mas acabou que o ano foi passando e nada de defesa marcada. Daí conversei com meu orientador que eu ia tirar um mês de férias. Ele disse "ok", você termina o texto, e a gente agita a banca quando você voltar. Ok. Eu precisava colocar um ponto final no texto. Só consegui fazer isso dia 15 de julho, vinte dias antes das minhas férias. Daí pensei, "lascou, como eu vou planejar um mochilão em vinte dias?". De link em link, achei um roteiro mega detalhado no site mochileiros.com, do tipo "mochilão para newbies" e pensei: "isso até eu consigo fazer! Vou fazer!" 
As principais atrações do roteiro são o Salar de Uyuni, o Deserto de Atacama, as linhas de Nazca, Machu Picchu e o  Lago Titicaca, mas tem muito, muito mais coisas. E, fala sério, se eu for pra Miami vai ser pra conhecer a casa do Dexter, não pra comprar muamba!

Você não tem medo de morrer de malária? Cólera? Tétano? Raiva - e todas essas doenças infecciosas que matam milhares de turistas todos os dias nesses países?

Bitch, please. Pra entrar nesses países é exigida apenas a vacina contra a febre-amarela. Em algum momento da minha vida eu já devo ter tomado antitetânica e antirrábica. A recomendação de todo mundo é só tomar água mineral, de garrafinha - tranquilo de ser feito. O que eu posso ter, no máximo, são efeitos colaterais da diferença de altitude (enjôo, dor de barriga, tontura), uma infecção alimentar de leve ou ter o azar de montar em uma mula suicida. Tenho medo? Tenho. Mas pra morrer basta estar vivo, né não? Pelo menos vou me livrar de voltar e encarar a banca da dissertação (#humornegrodetected). Enfim, parem de me agourar! Acho de verdade que eu tenho muito mais a ganhar - em amigos, experiências, histórias e visuais incríveis; do que a perder - uns quilinhos que vão embora com a desidratação, rs.


Mas você vai sozinha? Você é mulher! E vai sozinha?


Cara, juro que se me perguntar isso mais uma vez eu paro de brincar. Quer ir comigo? Tem férias junto com as minhas? Tem dinheiro pra ir? Então pronto! Mais fácil fazer de um mochileiro no caminho um amigo do que fazer de um amigo um mochileiro. (e obrigada por notar que eu sou mulher, se você não diz eu nunca iria saber.)


Okkkk! Easy, girl! Traz um pife de bambu e uma blusa de alpaca pra mim, então?

Se couber na mochila, e se o Juan Pablo Martín deixar eu voltar, trago sim!

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é impossível ser feliz sozinho

>> sexta-feira, 20 de julho de 2012


O ano tem bem uns cinco "dias do amigo", e eu nunca sei qual é o de verdade. Mas digamos que hoje, 20 de julho, seja um dia especial pra nós celebrarmos a presença de pessoas que interferem de forma tão marcante na nossa vida. Então, Feliz do amigo =D

Minhas relações com essa coisa de amizade sempre foram muito apaixonadas. Quando eu criança, os amigos - os "melhores amigos" eram a coisa que eu mais prezava no mundo. Eu sempre fui uma amiga apaixonada, dedicada, sempre quis ser a melhor amiga que alguém pudesse ter. Sempre quis fazer parte "das meninas": "As meninas vão pro cinema amanhã, as meninas já montaram o grupo, as meninas vão dormir na casa de fulana". Mas eu não era "das meninas", era das cdf's. Então eu só participava quando era do interesse "das meninas". E assim eu fui crescendo meio sozinha, no meio dos meninos, bem mais fáceis de lidar, e dos livros, companhias bem mais presentes. 
Depois daquele fatídico dia em que a escola inteira zombou de mim, as coisas mudaram um pouco. Parei de querer fazer parte "das meninas" e fui criar o meu próprio grupo de "meninas". 
Acho que nesse ano, na sétima série, foi a primeira vez que eu me senti segura e confortável entre amigos, sem o sentimento de inferioridade [vindo sabe freud da onde] que sempre me acompanhou nos anos anteriores (e me assombrou nos anos seguintes também).
O fato é que, até entrar na UnB, meus amigos sempre foram feitos na escola. Era onde eu passava a maior parte do meu tempo, era onde toda a minha vida acontecia. Era onde eu mais gostava de estar. A UnB mudou tudo. [Mas isso é assunto para outro post.]

Ter amigos como os que eu tenho hoje é uma das coisas que mais me dão momentos felizes na vida. E eu nunca achei que seria assim. Sempre quis. Desde sempre, sem motivo aparente, eu valorizei muito a amizade na minha vida. Por esperar muito dela, tive grandes decepções e frustrações. Foi só quando parei de cobrar tanto e de oferecer mais, quando eu parei de apostar todas as minhas fichas num "Melhor Amigo", que eu pude ter amizades realmente desinteressadas, leves, livres. 




O "mito" do melhor amigo - a necessidade de ter um, e de ter que acreditar que aquela pessoa, e SÓ aquela pessoa vai e precisa estar presente em todos os momentos da sua vida, sempre pronto pra te ajudar, é uma das coisas mais enganosas e egoístas que a gente aprende na infância. Só quando eu me livrei dele é que pude ser amiga de verdade, não de UMA só pessoa, mas de quem estivesse disposto a se comunicar comigo. Amizade precisa ser compartilhada, multiplicada, elevada à décima potência! Só quando entendi que uma amizade sincera é baseada em franqueza (e não em "vou concordar com você em tudo"), em boas conversas, (e não em "relatórios da vida"), em se sentir confortável com a outra pessoa (e não em cobrança), é que passei a ter bons amigos, antigos e novos, mas, principalmente, muitos! Amizade é sinônimo também de intimidade, que às vezes você demora muito tempo pra conquistar, às vezes não. Às vezes você consegue manter, às vezes não. Mas que você só consegue se estiver aberto. (Na verdade eu sempre estou disposta a abrir as pessoas, caso você precise de uma ajudinha, hahaha)
Hoje em dia eu praticamente coajo as pessoas as serem minhas amigas, porque acredito de verdade que elas sempre podem me mostrar mais do que estão mostrando. Algumas não gostam mesmo e acabam se fechando mais - mas a maioria só estava esperando esse empurrãozinho pra se sentir confortável pra se expor um pouco mais. 

Há amigos pra vida toda, e amigos pra bons momentos - e eu quero todos eles! 

Para os meus caríssimos amigos hoje, digo: preciso de vocês! [Mas não tenham dúvidas de que quando vocês não me quiserem mais, eu vou arranjar novos amigos, porque, fala sério, eu sou muito legal, hahaha]
Gosto sinceramente de vocês, vibro de alegria quando seus planos dão certo, sinto a tristeza de vocês quando eles dão errado. Estou quase sempre pronta pra ouvir e discutir o assunto mais aleatório, suporto os defeitos de vocês com a mesma paciência com que vocês suportam os meus, e com o tempo vou até aprender a gostar deles. Sejam os de muito ou de pouco tempo, os de uma vida ou de uma tarde qualquer: contem comigo! Contem com a minha sincera disposição de amar vocês como vocês são! 

Aos brothers mais especiais, íntimos e gostosos: Obrigada por esse amor, por esse carinho, por essa preocupação com as minhas maluquices e total falta de juízo! Obrigada por compartilharem a vida de vocês comigo, por me deixarem fazer parte dos momentos mais importantes dela! Obrigada por ouvirem minhas novelas, presenciarem meus surtos, entrarem na minha loucura particular! [Vocês sabem quem são vocês, né?] 







Ultimamente sempre tenho ido dormir com a sensação - a certeza - de que tenho os melhores amigos do mundo, dentro e fora de casa. Espero que esse sentimento não vá embora, e que eu possa retribuir esse amor, com mais amor, mais amor, mais amor, mais amor...com amor [porque amizade é só mais um nome pra ele!]



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O Sumo da Laranja

>> domingo, 15 de julho de 2012

(sim, eu adoro esse meme)
O Sumo da Laranja existe desde 2008 e é filho de dois blogs que eu tinha antes, e neto dos diários que eu mantenho desde os 11 anos. Os diários nasceram da minha necessidade de me explicar pra mim mesma, e de exercitar esse meu prazer de escrever, de lidar com as palavras, montá-las, desmontá-las, ver como elas se encaixam e transformam umas às outras. (aquele prazer de criança de desmontar brinquedo, de ver como o carrinho é por dentro, sabe?) Secretamente eu esperava que alguém lesse meu diário e, magicamente, sem que eu tivesse que passar por todo o constrangimento de me expor de propósito, descobrisse de repente a pessoa profunda, inteligente e cheia de desejos que eu era - e os realizasse por iniciativa própria. Pro meu azar, quando finalmente alguém pegou um dos meus diários, não havia nenhuma profundeza nele, só o registro do meu maior e primeiro surto de vaidade e necessidade de autoafirmação que eu já tive até hoje. (ah, os meus quinze anos que não voltam mais...)
Felizmente o surto passou e logo as páginas voltaram a ser preenchidas com as minhas angustiazinhas, ansiedades e imperfeições. Mas nessa altura eu já sabia que ser ouvida e entendida pelas pessoas não dependeria só de guardar tudo o que eu pensava sobre eles no fundo do meu armário. Eu teria que me mostrar, me expor. Chamar atenção, pedir por ela, admitir que eu precisava dela, que eu precisava me comunicar, que eu tinha cansado de viver acompanhada pela minha solidão. 
Nessa época, quando eu já tava também entrando na UnB eu fiz o primeiro blog, que tem um valor, digamos, histórico: neles estão os textos que eu recuperei dos meus diários mais antigos. Na minha primeira greve da UnB, fiz o segundo, que durou só dois posts. O laranjassumus foi a terceira tentativa, e, bem ou mal, tá aqui até hoje, já há quatro anos. Pra ele eu até pedi prum coleguinha fazer um layout personalizado, vi tutorial de html pra aprender a colocar as opções de facebookar e tuitar e essas frescuras todas. Mas tou bem longe de ser blogueira de verdade.

***

Daí agora tou me perguntando o que eu quero com esse blog, por que eu tou aqui num sábado, uma da manhã falando da minha vida pra gente que eu nem conheço? Um blog que nem tem o tema definido: tem as crônicas engraçadinhas, as lembranças da infância, as séries nunca terminadas (preciso terminar a dos populares anônimos!), a tentativa frustrada de convencer o povo a ler mais literatura (vamo ler, gente, ler é bom!), que traz os alunos de ensino médio querendo copiar trabalho na internet todos pro meu blog, hehehe, os textos de opinião nas polêmicas, os de reflexão sobre a vida... tudo misturado! - e agora me ocorreu que isso não é o que me irrita no blog, é o que me irrita em mim mesma... se o blog é o sumo da laranja... se a laranja sou eu... oh, wait!
Quer dizer então que essa mistura toda, sem método, sem foco, sem disciplina, sem constância... sou eu? agora entendi porque é uma hora da manhã de sábado e eu tou aqui! isso é melhor que terapia, gente. E é de graça!

***

Voltando pro "estar longe de ser blogueira de verdade", eu acho que eu quero me tornar uma. Talvez seja bom eu deixar que escrever seja um pouco mais que um hobby, e seja quase uma obrigação. Talvez.

O que eu sei é que eu sinto cada vez mais gosto em me comunicar! Trocar experiência de vida, dividir a minha loucura, receber um pouco da loucura do coleguinha - me impressionar com ela, me surpreender com ela! Eu acho que esse é um pouco (quanta indeterminação!) o meu sonho de vida, no fim das contas. Aquilo que, citando Fernando Pessoa, eu tenho de realmente meu, de impenetravelmente e inexpugnavelmente meu.

(Por aqui no blog, eu falo bem mais  do que escuto, porque vocês são muito preguiçosos pra comentar, mas eu sei que vocês leem porque mais cedo ou mais tarde vocês acabam falando comigo. Mas falem mais, falem mais! Vamos dialogizar até o chão!)

Eu escrevo aqui em muito pra satisfazer a vaidade da poetisa eleita, mas a vontade de comunicação com as outras ilhas do arquipélago é genuína! (e é um problema também, porque tudo seria bem mais fácil se eu fosse autossuficiente - ou se pelo menos eu pudesse mentir pra mim mesma que sou!). 
Então, se o que tá me irritando no blog é essa falta de foco de assunto, isso só vai mudar nele se mudar antes em mim. E no fim das contas talvez eu só precise arranjar um jeito de conciliar a escritora irônica e engraçadinha com a colunista social, com a imitadora de Paulo Coelho, com a crítica literária, com a comentarista de  headline, com a porta-voz dos oprimidos. E talvez disso saia uma escritora boa.

(Acabamos - eu e todas as escritoras dessa redação esquizofrênica que tem sede na minha cabeça - de fazer reunião de pauta e decidimos: vamos tentar! Aguardemos o resultado disso)


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Em definitivo

>> quarta-feira, 11 de julho de 2012


Esse é o terceiro post diretamente motivado pelo fim do meu namoro.  E também o último. Talvez ele não seja de todo necessário, mas eu preciso desse marco simbólico antes de abandonar as metáforas e as meias palavras, os "leitores" e as "conchinhas". Há tempos quero falar abertamente das minhas novas histórias, da minha nova rotina, das minhas novas experiências. Mas sempre que tentava fazer isso, uma voz aqui dentro me recriminava, me segurava: Calma, ainda não! Vai que...?
Hoje eu calo essa voz. Sim, demorou, porque, clichê dos clichês, pras coisas do coração só mesmo o Tempo. É o tempo que deixa a gente usar com segurança o pretérito perfeito: amei, acabou, sofri, falei, passou; e abandonar de vez os esperançosos subjuntivo do pretérito imperfeito e futuro do pretérito: e se... ( falasse, descobrisse, sentisse),  será que (seria, voltaria, amaria)?
Os nossos tempos verbais falam mais do que a gente conscientemente deixa e deseja.


Nesse post definitivo coloquei os verbos no tempo do fim da relação. 
Vivi todas as fases, que agora - só agora -  relembro sinceramente de coração leve e sem pesar:


  
Been there, done that.
A fossa com sorvete, cortinas fechadas, Adele (nevermind é o caramba!), Chico Buarque (quando você me deixooou..) e Leoni (sim, porque o pé que ele levou da Paula Toller rendeu as músicas de fossa mais fossa da mpb! Pra quem quiser passo as dicas depois!). 
As conversas chorosas com os amigos e o desespero do nunca mais: nunca mais vou amar, nunca mais vou ser amada, nunca mais cinema, nunca mais romance, nunca mais feliz
O "não quero te ver nunca mais", que na verdade quer dizer "eu só queria que você me amasse" e o "vamos ser bons amigos", que na verdade quer dizer "tou aqui por perto, se mudasse de ideia". 
A sensação estranha e inesperadamente boa de experimentar outros cheiros, outros beijos, outros abraços. 

Saaaai, biscate!
O ciúme irracional e retroativo de saber que a outra parte também faz isso, e com todo o direito, claro, o que mesmo assim não faz doer menos. 
A vontade de partir a cara da(s) biscate(s), e a força pra  recuperar a lucidez e o autodomínio (proeza que nem todas conseguem, vide caso Yoki). 
O momento doloroso e difícil de explicar pro seu ego e pra sua autoestima que não, você não é inesquecível, irresistível e insubstituível. 

Efetivo!:)
A inesperada confusão de pensar, de ver que está apaixonada de novo (mas como? Mas como? Eu não amava esse?), e de não saber se está mesmo apaixonada de novo, ou se é a mesma paixão de antes apenas realizada em outra pessoa (olha o nível da loucura!). 
A coragem de dar uma última oportunidade pro velho amor antes de se lançar no novo - e nesse "se lançar" admitir pra si mesmo que o novo pode um dia ser velho também, e depois ter outro novo, e outro, e outro. 







A surpresa de ver que enquanto você hesitava e media as palavras e os sentimentos a outra parte já tinha resolvido tudo na cabeça dela e esquecido de te contar.
A ousadia de se deixar levar de novo e sem medo pelo encanto inebriante da expectativa da nova paixão, da nova personalidade a ser aos poucos descoberta, da nova pessoa a fazer parte da sua vida - por pouco ou muito tempo, pra ser ou não feliz, não importa! Importa a alegria, mesmo que pueril ou passageira, que jazia quase esquecida, da novidade, do desconhecido, do inesperado, do vir a ser do tempo futuro. (e nesse quesito tenho ainda a teoria de que essa paixão pode ser igual àquele café usado pra "limpar" o olfato e o paladar durante uma degustação, hahaha. Eu sei, eu sou louca).

E por fim, a última fase, a que eu concluo hoje: a franqueza de falar do que passou sem mágoa, sem rancor, sem vergonha de admitir que sofreu, mas também sem cair na armadilha da memória que quer fazer parecer que só o passado é que foi bom. De falar com saudade, mas sem saudosismo. De conseguir lembrar com carinho, mas sem nostalgia. De enxergar no outro o "outro" que hoje ele é: exterior, independente, fora de mim.
Acho que essa recapitulação sentimental a gente só consegue fazer quando passa pela última fase mesmo. É claro que o processo todo é doído, é confuso, é cheio de ansiedade. Mas (mais um clichê aqui, porque afinal não tem clichê maior que a fossa) sou da teoria que diz que a gente tem mesmo é que passar por todas elas, com muita paixãão, com muita dor de cooorno mesmo, se for o caso, com  muita Adele e "We could've had it all", pra quando passar, passar de verdade, e quem sabe virar uma reflexão honesta pra gente mesmo e direta com quem tem que ser, como a que eu acho que fiz agora.

Com essa humilde vaidade me despeço e despeço do blog essa história, todo esse mimimi de pós-término que vocês - e eu - já cansaram de ler e ouvir, enfim, esse amor. Que foi bom, foi bonito, foi de verdade. Mas é isso, em definitivo, no pretérito perfeito: foi.

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Sobre (re)começos

>> domingo, 1 de julho de 2012

Dou o primeiro passo todo domingo,
todo dia 1º, todo ano novo
e em todos os meus aniversários.
Na nossa forma ocidental (linear) de marcar o tempo nós estamos sempre entre intervalos de começo e fim. Temos vários começos, bem definidos, e criamos todo um apego supersticioso a eles: precisamos dessas pausas definidas para pensarmos, prepararmos, organizarmos um futuro: tudo o que virá depois desse começo. Mas, é claro, apostar tudo num começo só seria muito arriscado. Daí o maior consolo que fracionar o tempo pode nos dar: infinitos recomeços, pontos de partida, chances de planejar e tentar de novo, a depender da nossa ansiedade: assim, pensamos na próxima hora, no próximo mês, no próximo ano ou, até mesmo, para os que nela acreditam, na próxima vida.

Confesso que apesar de admirar teoricamente o tratamento oriental (circular) do tempo, onde fim e começo não existem de maneira concreta, na prática, sou uma grande refém dessas quebras temporais, e da capacidade magnética que elas têm de atrair todas as minhas grandes decisões. Sou do tipo de pessoa que nunca começará um projeto numa quarta-feira, no meio de um mês de maio ou outubro ou às quatro da tarde. O princípio procrastinador que rege a minha vida me leva a jogar tudo para o começo da próxima fração de tempo marcada no calendário ou no relógio.

Número de viagens, de risadas,
de paqueras e de
caracteres na minha dissertação
Por isso, hoje, dia 1° de julho, primeiro dia do primeiro mês do segundo semestre do ano, domingo, primeiro dia da semana, é quase um dia cabalístico para pessoas como eu. Representa um recomeço parcial dentro de uma fração de tempo maior, um ano, e, tal qual fazem os avaliadores de desempenho empresariais, dentro de mim uma equipe avaliadora mostra gráficos e apresentações  de power point que indicam as metas cumpridas, os déficits nos ganhos, a ineficácia das minhas estratégias de marketing e as variações perigosas do mercado. Tudo isso pra me mostrar os caminhos e desafios para cumprir a meta final do ano.

Mas, como vocês devem se lembrar, esse é um ano atípico nas minhas Organizações com metas e expectativas muito reduzidas. Só o que posso avaliar são os resultados do plano (louco) de não ter planos.

Contra todas as previsões dos economistas mais balizados, a avaliação geral é de que o plano de não ter planos deu bons resultados organizacionais. Tudo o que eu teimei em planejar revelou-se como mau investimento, e as coisas mais inusitadas foram de longe as mais lucrativas!

O resultado dessa onda de otimismo é que nesse momento de reavaliar e repensar metas - porque apesar dessa "vibe relax" eu ainda não dispenso (e talvez nunca dispense) meu método e minha maneira quadradinha, cartesiana de pensar na vida - eu encaro com menos medo, e mantenho, a decisão de não planejar os próximos seis meses e ficar à deriva nesse ano apocalíptico com ares de fim de mundo.


Com a aura mística desse "começo do fim" de 2012, faço esse balanço parcial, vejo o peso das coisas que deixei pelo caminho e das quais abri mão (me libertei?) até aqui e penso que se por um lado não posso ter grandes expectativas, por outro também não penso com medo e ansiedade no futuro que na minha linha do tempo começa amanhã.

Vivo bem nesse nosso tempo divididinho e cheio de frações e suspensões atemporais, embora pense que talvez essa não seja a melhor forma de tratar o tempo. 
Mas foi nela que me criei, superestimando datas, aniversários, passagens de ano e grandes acontecimentos em geral em torno dos quais muitas vezes organizei minhas decisões na vida. Sei que os superestimo (o primeiro passo é admitir, o segundo eu nunca dei) e que isso é e foi para mim causa de ansiedades, angústias e, principalmente, de muita procrastinação - sempre deixo as grandes decisões para a próxima data importante. 


Mas na próxima data cabalística, no próximo balanço parcial, enfim, no próximo (re)começo eu lido com isso.

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avulsas #5

Da terceira parte de O tempo e o vento, O arquipélago, vol. 1 (Verissimo, 2005, p. 264)


- Estive pensando... - continuou Floriano - Nenhum homem é uma ilha... O diabo é que cada um de nós é mesmo uma ilha, e nessa solidão, nessa separação, na dificuldade de comunicação e verdadeira comunhão com os outros, reside quase toda a angústia de existir. [...]
E a comunicação entre as ilhas é das mais precárias, por mais que as aparências sugiram o contrário. São pontes que o vento leva, às vezes apenas sinais semafóricos, mensagens truncadas  escritas num código cuja chave ninguém possui. [...] Tenho a impressão de que as ilhas do arquipélago humano sentem dum modo ou de outro a nostalgia do Continente, ao qual anseiam por se unirem. Muitos pensam resolver o problema aderindo a um grupo social, refugiando-se e dissolvendo-se nele, mesmo com o sacrifício da própria personalidade. E se o grupo tem o caráter agressivo e imperialista, lá estão suas ilhas a se prepararem, a se armarem para a guerra, a fim de conquistarem outros arquipélagos. Porque dominar e destruir também é uma maneira de integração, de comunhão, pois não é esse o espírito da antropofagia ritual? [...]
O que importa para cada ilha é vencer a solidão, o estado de alienação, o tédio ou o medo que o isolamento lhe provoca [...] 
Estou chegando à conclusão de que um dos principais objetivos do romancista é o de criar, na medida de suas possibilidades,  meios de comunicação entre as ilhas de seu arquipélago... construir pontes... inventar uma linguagem, tudo isto sem esquecer que é um artista, e não um propagandista político, um profeta religioso ou um mero amanuense...

Da terceira parte de O tempo e o vento, O arquipélago, vol. 2 (Verissimo, 2005, p.114)

- Sim, concluí eu, ao cabo de sérias leituras e cogitações: posso ser um porcaria e a Big Cadela me espreita, pronta a saltar sobre mim a qualquer instante... Mas acontece (e é isto que deixa os psicólogos loucos da vida) que há um abismo entre as coisas que são abstratamente verdadeiras e as coisas que são existencialmente reais. Ora, acontece que, queira ou não queira, eu existo nesta hora e neste lugar. Que fazer então com a minha vida? Por que não opor à minha insignificância na ordem universal, à minha mortalidade, à minha impotência diante do Desconhecido uma espécie de... de atitude arrogante... erguer meu penacho, lançar um desafio meio desesperado a isso que convencionamos chamar Destino? A vida não tem sentido... mas vamos fazer de conta que tem. E daí? Bom, aí eu transformo minha necessidade em fonte de liberação e passo a ser, eu mesmo, a minha existência, a minha verdade e a minha liberdade.
Floriano encara o amigo.
- Mas essa ideia de que somos livres e os únicos responsáveis por nossa vida e destino não será uma fonte permanente de angústia?
- Claro que é.
- E não é a angústia o nosso grande problema?
- Homem, há um tipo de angústia do qual jamais nos livraremos, porque ele é inerente à nossa existência. É o preço que pagamos por nos darmos o luxo caríssimo de termos uma consciência, por sabermos que vamos morrer, e por termos um futuro. Assim sendo, o mais sábio é a gente habituar-se a uma coexistência pacífica com esse tipo de ansiedade existencial, fazendo o possível para que ele não tome nunca um caráter neurótico. [...]
- E tu achas que essa atitude é uma solução?
- Que solução? Não há solução. Como disse um desses berda-merdas europeus, estamos condenados a ser heróis.

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do diário dela - Dia dos namorados

>> terça-feira, 12 de junho de 2012

Terça-feira, 12 de junho de 2012
Dia dos namorados
Maceió- AL                   

Diante do quebrar das ondas que a tantos poetas já inspirou amorosos versos, peno nesse dia marcado no calendário do consumo para que a gente se lembre que o que a gente quer mesmo na vida é amar e ser amado – de preferência pela mesma pessoa.

Porque a mais independente das pessoas pode fugir dessa reflexão todos os outros dias – menos hoje. O dia dos namorados está aí onde há comércio – em todo lugar – e te pede – pede não, exige – uma posição: um lamento, um “nem ligo”, um “sou paciente”, um “encontrei o (ou um) amor da minha vida”.
Desde que me lembro, eu sempre passei o dia dos namorados apaixonada. Sempre pensei que um dia alguém o passaria apaixonado por mim.
Esse era o sonho da adolescente de 13 anos que já pensava nas lindas e românticas surpresas que faria e receberia de seu amado. Para o azar dela, as datas demoraram a coincidir. Aos 14 anos namorou, mas lá estava solteira de novo antes do início do funesto mês de junho – “Cheguei tão perto!” Às vésperas do dia dos namorados implorou à mãe que comprasse um aparelho de DVD –2004, coisa moderna e cara! – para que ela pudesse fugir da programação açucarada e quase ditatorial da TV.
Quatro anos mais tarde, em 2008, e já desadolescendo, mal pode conter – não quis conter! – a alegria antecipada – um mês antecipada! – de passar um primeiro dia dos namorados acompanhada e feliz. Na cabeça dela, 24 horas seriam muito pouco pra realizar 18 anos de fantasia romântica.
O azar da heroína foi namorar alguém para quem aquele 12 de junho de 2008 era aparentemente mais um dia comum: dia de faculdade, estágio e casa.

Que azar! Que azar! A jovem mais fantasiosamente romântica estava namorando o ser mais desapegado de datas que ela poderia encontrar! Mas quem era ele pra contradizer 18 anos de expectativa?
Ente aquele “faculdade, estágio e casa”, ela encaixou um almoço e um balão heart shaped. (Os presentes vieram depois, fora do dia mágico, do dia esperado, do dia sonhado, do dia místico!)

Não foi o helicóptero jogando pétalas de rosas vermelhas puxando uma faixa escrita EU TE AMO, BUNZUNGUINHA que ela sempre imaginou, mas foi bom. Foi real.
Nos anos seguintes, quanto mais eu me esforçava para mostrar pro cara desapegado o quanto datas eram significativas, mas eu começava a duvidar de que eram mesmo. Por preguiça, talvez por uma pontinha de frustração de nunca ter tido o meu helicóptero com pétalas – essas mulheres! Nunca estão satisfeitas! -, mas principalmente por entender – e acreditar, finalmente – que as grandes provas de amor – e não as orkúticas e superestimadas “demonstrações públicas de afeto” – são discretas mesmo, do dia-a-dia mesmo, desse dia a dia cinza sem corações, sem música e sem velas – e essas eu tive, muitas.
Nesse primeiro dia dos namorados sozinha, depois de quatro anos, a já (pretensamente) adulta que vos escreve relembra, ao som do quebrar das ondas, nos vários e variados amores “eternos” que teve e se acabaram, nas saudades que sente e nas paixões que vive e viverá – se é que as viverá.
Reflete que, namorando ou não, essencial é estar enamorado. Ela, talvez mais agora do que em qualquer momento anterior, está enamorada da vida, que, apesar de ter lhe tirado aquele grão de areia que a muito custo se transformou em pérola, na sua preciosa pérola (para ficarmos nas metáforas marítimas) tem lhe oferecido conchinhas das mais variadas cores e tamanhos (e nacionalidades!) que, sendo frágeis e sem valor, ainda podem, juntas, formar um belo colar! (é, uma vibe roots!)
 ***

Vivo do amor que sinto e das paixões que alimento: pela literatura, por viajar, pelas pessoas em geral e por pessoas em particular. Nesse dia dos namorados mando saudações a todos que se permitem viver suas paixões – lembrando que paixão e sofrimento são semanticamente inseparáveis!
Quanto a mim, para os dias dos namorados que virão – se é que virão –, não sonho mais helicópteros ou pétalas. O que quero é a sorte de um amor tranquilo, a alegria de ter um companheiro com quem multiplicar a vida. Estar sozinha é bom, mas o desejo desse meu coração ambicioso é ser dois.

Feliz dia dos namorados aos casais queridos e aos solteiros que quero!

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avulsas #4

>> segunda-feira, 4 de junho de 2012

De Erico Verissimo: O tempo e o vento, Parte 3, Vol. 1 - O arquipélago, 2005, p.246

Qualquer dia por vingança o velho sino da Matriz estará dobrando para anunciar a Santa Fé a morte do Dr. Rodrigo Terra Cambará.

Num misto de auto-sarcasmo e autopiedade imagina o próprio funeral. Luto no Sobrado. A rua apinhada de gente. Decidem levar o caixão a pulso, até a metade do caminho.Depois metem-no naquele repulsivo carro fúnebre do Pitombo, com figuras douradas em relevo nos quatro ângulos (uns anjos com cara de tarados sexuais) e aqueles matungos com plumas pretas nas cabeças. Tráfego interrompido nas ruas por onde passa o cortejo. Uma fileira interminável de automóveis... Santa Fé em peso no enterro. O comandante da Guarnição Federal. O Prefeito. O Juiz de Direito, enfim, todas essas personalidades que A Voz da Serra classifica como "pessoas gradas". O cafajeste do Amintas também lá está, com uma fingida tristeza no rosto escrofuloso. Mas quem é a moça que vai sozinha ali naquele auto, com cara de forasteira, toda vestida de preto e com óculos escuros? Então não sabem? É a amante do Dr. Rodrigo. Verdade? Mas que jovem! Pois é, podia ser filha dele. O patife tinha bem-gosto.

Agora o cortejo está no cemitério à frente do mausoléu dos Cambarás. (Rodrigo remexe distraído a canja, com a colher.) O falecido pediu antes de morrer que não deixassem sua cara exposta à curiosidade pública. É por isso que não abrem o caixão. Fala o primeiro orador. Quem é? Pouco importa: Mas como diz besteiras! Fala o segundo: vomita também um amontoado de lugares-comuns. Nunca, ninguém, nem os filhos do morto, nem sua mulher, nem seus melhores amigos poderão fazer-lhe justiça. Porque ninguém na verdade o conhece. Viram dele apenas uma superfície, um verniz externo. Ninguém chegou a compreendê-lo na sua inteireza, na sua profundeza. E depois que o deixarem entaipado no cemitério, a cidade continuará os seus mexericos, as suas maledicências, lembrando-se apenas daquilo que se convencionou chamar de de defeitos do dr. Rodrigo Cambará. E ele morrerá desconhecido como viveu. Desconhecido e caluniado, o que é pior. Mesmo os elogios dos oradores serão insultos. Ah! como gostaria de fazer um discurso ao pé do próprio cadáver! Não seria uma oração de provocar lágrimas, não. Ia contar verdades, lançá-las como pedradas na cara de todos aqueles hipócritas.Porque, com a exceção dos que realmente o amavam - alguns parentes, poucos amigos -, os outros lá estavam por obrigação social ou por puro prazer sádico. Eram uns invejosos, uns despeitados. uns covardes, uns impotentes! Não podiam encontrar um homem autêntico que não sentissem logo desejo de vê-lo destruído e humilhado. Era-lhes insuportável o espetáculo dum macho que tem a coragem de agarrar a vida nos braços, ser o que é, dizer o que pensa, fazer o que deseja, comer o que lhe apetece. Foram quase todos ao enterro para assistirem ao fim daquele monstro, para terem a certeza de que ele ia ficar para sempre encerrado no jazigo, a apodrecer... Tiveste a coragem de viver? Agora paga! E todos aqueles necrófilos, todos aqueles moluscos podiam voltar tranquilos para suas casas, para suas vidinhas apagadas, para as esposas que detestavam mas com as quais eram obrigados a viver e a dormir, para seus probleminhas sem beleza, para as dificuldades financeiras do fim do mês, para a azeda rotina cotidiana, para seus odiozinhos, suas birrinhas, suas mesquinhas invejas, para seus achaques - em suma - para todas aquelas coisas pequenas e melancólicas de seu mundinho de castrados!

Canalha! Só de pensar nestas coisas Rodrigo sente que tem a obrigação de não morrer.

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avulsas #3 (especial França)

>> segunda-feira, 28 de maio de 2012

Nesse fim de semana hospedei um mochileiro Francês, de nome Antoine. Pedi pra ele ler pra mim um dos meus poemas favoritos de Les Fleurs du Mal, de Baudelaire (que agora eu tenho gravado em francês, ê!).

Fica a dica poética - e musical - pra começar a semana. 

À une Dame créole

Au pays parfumé que le soleil caresse,
J'ai connu, sous un dais d'arbres tout empourprés
Et de palmiers d'où pleut sur les yeux la paresse,
Une dame créole aux charmes ignorés.

Son teint est pâle et chaud; la brune enchanteresse
A dans le cou des airs noblement maniérés;
Grande et svelte en marchant comme une chasseresse,
Son sourire est tranquille et ses yeux assurés.

Si vous alliez, Madame, au vrai pays de gloire,
Sur les bords de la Seine ou de la verte Loire,
Belle digne d'orner les antiques manoirs,

Vous feriez, à l'abri des ombreuses retraites
Germer mille sonnets dans le coeur des poètes,
Que vos grands yeux rendraient plus soumis que vos noirs.

Charles Baudelaire, 1814

To a Creole Lady

In the perfumed country which the sun caresses,
I knew, under a canopy of crimson trees
And palms from which indolence rains into your eyes,
A Creole lady whose charms were unknown.

Her complexion is pale and warm; the dark enchantress
Affects a noble air with the movements of her neck.
Tall and slender, she walks like a huntress;
Her smile is calm and her eye confident.

If you went, Madame, to the true land of glory,
On the banks of the Seine or along the green Loire,
Beauty fit to ornament those ancient manors,

You'd make, in the shelter of those shady retreats,
A thousand sonnets grow in the hearts of poets,
Whom your large eyes would make more subject than your slaves.

A uma dama crioula 

Conheci uma crioula de encanto ignorado.
E cuja sombra nosso olhar se delicia,
Sob um dossel de agreste púrpura bordado,
No inebriante país que o sol acaricia,

A graciosa morena, cálida e arredia,
Tem na postura um ar nobremente afetado;
Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,
Seu sorriso é tranqüilo e seu olhar ousado.

Tu que és digna de ornar os solares altivos,
Junto às margens do Sena ou onde o Loire se lança,
Caso viesses, Senhora, à heróica e eterna França,

Farias, ao abrigo das sombras discretas,
Mil sonetos brotar no coração dos poetas,
Que de teus olhos, mais que os negros, são cativos.


Ass.:"la brune enchanteresse"


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