Sobre (re)começos

>> domingo, 1 de julho de 2012

Dou o primeiro passo todo domingo,
todo dia 1º, todo ano novo
e em todos os meus aniversários.
Na nossa forma ocidental (linear) de marcar o tempo nós estamos sempre entre intervalos de começo e fim. Temos vários começos, bem definidos, e criamos todo um apego supersticioso a eles: precisamos dessas pausas definidas para pensarmos, prepararmos, organizarmos um futuro: tudo o que virá depois desse começo. Mas, é claro, apostar tudo num começo só seria muito arriscado. Daí o maior consolo que fracionar o tempo pode nos dar: infinitos recomeços, pontos de partida, chances de planejar e tentar de novo, a depender da nossa ansiedade: assim, pensamos na próxima hora, no próximo mês, no próximo ano ou, até mesmo, para os que nela acreditam, na próxima vida.

Confesso que apesar de admirar teoricamente o tratamento oriental (circular) do tempo, onde fim e começo não existem de maneira concreta, na prática, sou uma grande refém dessas quebras temporais, e da capacidade magnética que elas têm de atrair todas as minhas grandes decisões. Sou do tipo de pessoa que nunca começará um projeto numa quarta-feira, no meio de um mês de maio ou outubro ou às quatro da tarde. O princípio procrastinador que rege a minha vida me leva a jogar tudo para o começo da próxima fração de tempo marcada no calendário ou no relógio.

Número de viagens, de risadas,
de paqueras e de
caracteres na minha dissertação
Por isso, hoje, dia 1° de julho, primeiro dia do primeiro mês do segundo semestre do ano, domingo, primeiro dia da semana, é quase um dia cabalístico para pessoas como eu. Representa um recomeço parcial dentro de uma fração de tempo maior, um ano, e, tal qual fazem os avaliadores de desempenho empresariais, dentro de mim uma equipe avaliadora mostra gráficos e apresentações  de power point que indicam as metas cumpridas, os déficits nos ganhos, a ineficácia das minhas estratégias de marketing e as variações perigosas do mercado. Tudo isso pra me mostrar os caminhos e desafios para cumprir a meta final do ano.

Mas, como vocês devem se lembrar, esse é um ano atípico nas minhas Organizações com metas e expectativas muito reduzidas. Só o que posso avaliar são os resultados do plano (louco) de não ter planos.

Contra todas as previsões dos economistas mais balizados, a avaliação geral é de que o plano de não ter planos deu bons resultados organizacionais. Tudo o que eu teimei em planejar revelou-se como mau investimento, e as coisas mais inusitadas foram de longe as mais lucrativas!

O resultado dessa onda de otimismo é que nesse momento de reavaliar e repensar metas - porque apesar dessa "vibe relax" eu ainda não dispenso (e talvez nunca dispense) meu método e minha maneira quadradinha, cartesiana de pensar na vida - eu encaro com menos medo, e mantenho, a decisão de não planejar os próximos seis meses e ficar à deriva nesse ano apocalíptico com ares de fim de mundo.


Com a aura mística desse "começo do fim" de 2012, faço esse balanço parcial, vejo o peso das coisas que deixei pelo caminho e das quais abri mão (me libertei?) até aqui e penso que se por um lado não posso ter grandes expectativas, por outro também não penso com medo e ansiedade no futuro que na minha linha do tempo começa amanhã.

Vivo bem nesse nosso tempo divididinho e cheio de frações e suspensões atemporais, embora pense que talvez essa não seja a melhor forma de tratar o tempo. 
Mas foi nela que me criei, superestimando datas, aniversários, passagens de ano e grandes acontecimentos em geral em torno dos quais muitas vezes organizei minhas decisões na vida. Sei que os superestimo (o primeiro passo é admitir, o segundo eu nunca dei) e que isso é e foi para mim causa de ansiedades, angústias e, principalmente, de muita procrastinação - sempre deixo as grandes decisões para a próxima data importante. 


Mas na próxima data cabalística, no próximo balanço parcial, enfim, no próximo (re)começo eu lido com isso.

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