gostar, um segredo

>> quinta-feira, 26 de maio de 2011

Depois que a ferida da rejeição do primeiro amor platônico é curada, vem a curiosidade dos amores – ou quase amores – correspondidos.

Acontece o primeiro beijo, que é dado numa rodinha de “caí no poço” ou de "verdade ou conseqüência", ou no meio de uma brincadeira de “esconde-esconde”, ou por um vacilo que te deixou desprotegido no “ABB”.  De marcante só teve o fato de ter sido o seu primeiro - porque, convenhamos, os quartos, quintos e sextos foram bem melhores, menos “molhados” e com menos “imprevistos” provocados por dentes demais e prática de menos.

E, pronto, estamos finalmente iniciados nessa arena de batalha da qual não sairemos nunca mais. E aí a gente começa a conhecer um novo significado da palavra gostar.

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Havia se mudado de volta praquela vizinhança há pouco tempo, mas já tinha um motivo pra não sair da rua no tempo em que não estava na escola: o vizinho da frente. Passava a tarde toda no sol, jogando queimada ou bandeirinha, só pra esperar o momento – a qualquer hora – em que ele sairia pra brincar também. Aquele era o auge do seu dia. Estava gostando dele.

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Depois de um ano difícil na escola, decidiu-se a fazer novas amizades, na série superior, onde ninguém sabia sua história. Entre aqueles novos amigos alguns anos mais velhos, um, que morava perto da sua casa, e que ela seguia discretamente no caminho pra escola, era para ela especial. Pra passar mais tempo com ele, entrou na sua turma de basquete – logo ela, que odiava esportes -, e aprendeu alguma coisa sobre saxofone, o instrumento que ele tocava. Estava gostando dele.

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Aula de “Projeto de auto estima”. Cada aluno sorteia o nome de outro aluno, pelo qual ficará “responsável”, enviando mensagens que aumentem sua auto-estima. Ela abre seu papelzinho com curiosidade, não havia pensado em quem queria tirar. Seu coração dispara ao ver um “G”. Sim, tirara ele! O motivo dela não faltar mais a nenhuma aula, dela ter se interessado por rock, o motivo dela ter começado a sentar no fundão. Aquele de quem ela não desviava seu olhar bobo e aéreo nem por um momento. Agora a poderia escrever uma mensagem pra ele, justamente pra ele. Estava gostando dele.

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Saudade dessa fase em que dizer "eu tô gostando dele" definia exatamente tudo o que a língua dos adultos tem tantas palavras pra expressar - amor, paixão, carinho, apreço, afeto, desejo, atração, "querer se conhecer melhor"
Fase em que essas frases definiam tudo, e tudo era tão simples e sincero quanto essa palavra dita em segredo:
"E aí, você tá gostando dele?"
"Não fala pra ninguém que eu gosto dele!"
"Tô gostando do mesmo menino que a minha amiga!"
"Aquele, tá vendo? aquele ali, é o menino que eu tô gostando."
"Olha pra ela! Ontem ela disse que tá gostando de mim"

Que  palavra de sabor especial! Que poder de sintetizar todo o bem-querer de que somos capazes!
E aqui, o modo do verbo faz toda diferença: eu não só gosto de você, eu estou gostando! um gerúndio que diz: ontem, hoje e amanhã! Um gerúndio que tem em si a eternidade juvenil.
 Quando foi a última vez que você gostou de alguém?

Isso me lembra outro versinho da sabedoria popular infantil (tão tosco
quanto o anterior):

Gosto do
Gostinho
Gostoso de
Gostar de você!

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