cdf: o nerd brasileiro

>> sábado, 14 de maio de 2011

Ser nerd (ou nâârrd, com o r retroflexo) tá na moda: na TV, nas roupas, nos aparelhos eletrônicos. TBBT é sucesso, camiseta ‘nerd proud’ é a mais vendida e um iSomething da Apple é o sonho de consumo mesmo de quem foi “criado” no Windows.
Maaaas, eu sei, Sr. nerd "wannabe", que o seu passado te condena, porque o meu passado me condena também.

Aqui em terras tupiniquins, especificamente na escola pública, o mais perto que eu estive dessa “cultura nerd” antes de entrar na universidade foi quando assistia os clássicos “a vingança dos nerds" e afins na sessão da tarde. Porque, na escola, não tinha essa de nerd: quem tirava nota ruim era bagunceiro, quem tirava nota boa era cdf.


E aí, você que talvez não compartilhe do mesmo universo simbólico que eu, me pergunta: o que é cdf? Cdf era o nome pelo qual meus coleguinhas me chamavam por eu fazer dever de casa, ler o livro didático, passar o intervalo na biblioteca e, o mais estranho, interagir com o professor durante as aulas, respondendo ou fazendo perguntas. Minha mãe, querendo me proteger, me explicou que cdf era uma coisa boa, que significava cabeça-de-ferro, ou seja, que eu era “muito inteligente, querida”.


Depois de muito tempo, meu pai, destruindo minhas ilusões, contou a verdade: o “c” de “cdf” não correspondia a cabeça! (É, é isso mesmo que vocês estão pensando, mas eu não vou escrever aqui, porque cu é uma palavra mal vista! Ops, agora já foi!) E significava que eu tinha um *cdf* pra agüentar ficar sentada o dia todo, durante os seis horários de aula, escutando professor e prestando atenção na aula. Ou seja, não porque eu era “muito inteligente”, e sim “muito esforçada”.


Nas nossas escolas não existe essa distinção bem clara que tem na cultura americana do perfil do nerd e do looser, e é todo mundo meio misturado – apesar de cada grupinho ter, sim, seu território marcado dentro da escola. Aqui, os cdf’s geralmente são grupos compostos por meninas (entre inteligentes, esforçadas e parasitas), o gay que ainda não sabe que é gay, e uns poucos meninos que ou são péssimos no futebol e sentem-se melhores perto das meninas por se acharem mais inteligentes que elas, ou são ótimos no futebol, mas pra continuar jogando tem que tirar notas boas pra mostrar pros pais.



Pois então, cresci sendo chamada de cdf, e os óculos e o aparelho - não ao mesmo tempo! - ajudavam a reforçar o estereótipo. Depois me libertei – do rótulo e dos óculos, o aparelho ainda era charmoso – e virei “menina perdida” no Ensino Médio. Já na universidade, peguei o movimento do “nerd proud” ficando pop, e aproveitei o embalo pra apagar minhas origens de cdf e me jogar na onda nerd, totalmente americanizada. Foi na universidade que eu conheci nerds de verdade – que entendem tudo de computadores, são viciados em jogos em rede e tem espadas luminosas, digo, sabres de luz, como os de star wars, e a diferença entre nós é que eles tiveram livre acesso à cultura americana antes de mim – e agora eu já sou grandinha pra me apaixonar por video game e nunca vou entender de computadores.

Ex-cdf, atual pseudo-nerd: eis minha sina! Me jogo tanto na cultura nerd (que vai ficando cada vez mais pop), que daqui a pouco vou passar a acreditar que os fortões da escola roubavam meu dinheiro do lanche.




P.s.: pensando bem, foi até melhor assim, se eu tivesse sido “americanizada” mais cedo, eu não teria virado nerd, eu estaria agora cantando num coral black ou gospel – ou os dois. Se bem que não seria ruim ser uma soul sister que nem essa do lado! (an-ham, oooh yeaaah, baby!

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