Opiniões inopinadas

>> segunda-feira, 2 de maio de 2011

No meio de um mar de ‘eu achos’ onde  uma classe média ociosa tem todos os meios pra sair por aí divulgando sua opinião sobre tudo e sobre todos, me pergunto de que vale, afinal de contas, a minha humilde opinião sobre o que quer que seja.
Sem obter resposta convincente pra essa pergunta, fala mais alto a vaidade da escrita, a vaidade de escrever e ser lido, de falar pra todos em geral e pra ninguém especificamente.

Não podendo resistir a essa vaidade, uso dela como desculpa pra continuar escrevendo, opinando, dando pitaco mesmo. Começo por identificar de onde exatamente partem as opiniões que partem de mim.

Sou uma mulher negra que cresceu pensando que era homem branco – e por isso tem os sonhos desse – cresci com pai e mãe presentes, com todo tempo do mundo pra estudar, não precisei trabalhar, não precisei ser mãe dos meus irmãos, não tive que suprir qualquer tipo de carência com vícios. Pude contar com o ócio necessário para estudar, para pensar e até pra ser filha rebelde. Tive tempo e espaço pra ser criança, tempo pra ser adolescente, e agora tenho tempo pra ensaiar os primeiros passos na vida adulta.

É daí que vem minha opinião. Vem da periferia, mas que eu só descobri que era periferia quando conheci o centro.  Tenho consciência de que hoje posso falar, opinar, por que mulheres, negros, latino americanos, um sem número de pessoas lutaram, brigaram antes de mim. Sei também do que fui privada, pelo simples fato de nascer onde e como nasci, mas que tive também inúmeros privilégios com os quais muitos estão sonhando agora. O privilégio de (saber) escrever em um computador (que eu tenho) é só um de uma lista sem fim...

Outros conquistaram o direito de falar por mim, essa não é uma luta minha. A minha luta é contra mim mesma: não esquecer de onde eu falo, não me perder na vaidade de falar só de mim, da minha vida, da minha história, do que eu sinto, mas olhar em volta, ver o outro, contar ao mundo o que o meu olhar pode alcançar de onde estou.

Dei azar e calhou que toda essa densidade e profundidade interior que eu julgo ter conseguido produzir graças ao meu ócio e à inquietude de uma alma curiosa, encontrar melhor expressão no riso. O riso, logo o riso, tão descabido pra falar de coisas sérias. Dei azar de ser engraçadinha. O humor, útil pra socializar, pra tirar o estigma de nerd tímida, me vem também na hora de falar de angústia, de dor, do desconcerto que essa sociedade contraditória me impõe.
Não nego minha sina, que venha o riso, então.

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