Populares Anônimos - [parte 2]
>> segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Chegou agora? Leia a parte 1.
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Boa noite! - aquela voz suave e ao mesmo tempo marcante emudeceu os pensamentos subversivos dela - Vamos começar?
Levantou a cabeça e interrompeu a releitura daquele panfleto que tinha nas mãos, ainda duvidando da seriedade daquele grupo de autoajuda. Procurou localizar no círculo de onde partia aquela voz tão gostosa de se ouvir e encontrou uma moça com não mais de 30 anos, com a pela dum moreno claro, como um café com leite com mais leite do que café. Os cabelos, longos e ondulados, estavam partidos ao meio e caiam pelos seus ombros emoldurando um rosto bonito, embora sem nenhum traço que se destacasse entre os demais. Um rosto harmonioso e bonito.
Enquanto trabalhava decidindo se gostava ou não desse novo rosto descoberto entre tantos outros, a moça cor-de-café-com-leite-com-mais-leite-do-que-café continuou falando:

"Que loucura", pensou nossa heroína, enquanto a mediadora da semana continuava a falar sobre a programação daquela noite. "Que loucura! Não acredito que essas pessoas realmente levam isso a sério! Tem que ser piada, a qualquer momento o Roque vai sair de algum lugar e anunciar a pegadinha!"
Mas não era loucura. Pelo menos não para Luciara. Desde que entrara no grupo, Luciara, (ex "Lu") estava seguindo os passos e os mandamentos à risca. Mas essa não era a sua noite - se conseguisse se curar do vício totalmente, nenhuma noite nunca mais seria "sua" noite. Nunca mais seria o centro das atenções e, mesmo agora, com todos aqueles olhos e toda aquela atenção voltada para ela, sentia que estava controlando o prazer de ser ouvida com curiosidade e total admiração daqueles viciados. Mas a noite não era dela:
- Para quem está aqui pela primeira vez, essa é a noite dos depoimentos. Aqueles que se sentirem à vontade para contar sua história e sua caminhada no grupo deverão se inscrever com a Rosa (ex "Rosinha") e deverão falar por exatamente 10 minutos, para que nenhum fale mais que o outro.
Cerca de cinco pessoas levantaram a mão e deram o nome para Rosa. Pela ordem estabelecida, o primeiro a falar seria Aguinaldo (ex "Naldo"). Luciara deu a palavra a ele.
[continua]
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