Populares Anônimos - [parte 2]

>> segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Chegou agora? Leia a parte 1.

***

Boa noite! - aquela voz suave e ao mesmo tempo marcante emudeceu os pensamentos subversivos dela - Vamos começar? 
Levantou a cabeça e interrompeu a releitura daquele panfleto que tinha nas mãos, ainda duvidando da seriedade daquele grupo de autoajuda. Procurou localizar no círculo de onde partia aquela voz tão gostosa de se ouvir e encontrou uma moça com não mais de 30 anos, com a pela dum moreno claro, como um café com leite com mais leite do que café. Os cabelos, longos e ondulados, estavam partidos ao meio e caiam pelos seus ombros emoldurando um rosto bonito, embora sem nenhum traço que se destacasse entre os demais. Um rosto harmonioso e bonito. 

Enquanto trabalhava decidindo se gostava ou não desse novo rosto descoberto entre tantos outros, a moça cor-de-café-com-leite-com-mais-leite-do-que-café continuou falando:

- Boa noite. Bem vindos ao Populares Anônimos, um grupo de autoajuda que procura ajudar pessoas que sofrem. Nós estamos aqui porque temos um problema. Somos viciados em popularidade. E isso tem nos afastado dos familiares, tem nos feito contrair dívidas, tem afetado nossos relacionamentos íntimos, tem nos feito desacreditar na vida. Mas aqui no PopA descobrimos que não estamos sozinhos e não somos os únicos a enfrentar esses problemas. O PopA aceita dois tipos de pessoas: as populares de fato e aquelas que pensam que são populares, e agem como tal - essas são as que mais precisam de nossos cuidados. Como vocês sabem, para evitar que a Popularidade - essa força que tanto nos faz sofrer! -  seja um mal dentro do nosso próprio grupo, os mediadores mudam a cada semana. Meu nome é Luciara, mas vocês podem me chamar de... desculpa, meu nome é Luciara e vocês devem me chamar pelo nome, porque, como vimos na palestra da semana passada, os apelidos são nocivos para aqueles que estão tentando se livrar do nosso vício. O nosso anonimato é mantido pela ocultação dos sobrenomes, mas os primeiros nomes devem ser ditos, e os apelidos são extremamente desaconselhados. Enfim, meu nome é Luciara e eu serei a mediadora de vocês durante essa semana.

"Que loucura", pensou nossa heroína, enquanto a mediadora da semana continuava a falar sobre a programação daquela noite. "Que loucura! Não acredito que essas pessoas realmente levam isso a sério! Tem que ser piada, a qualquer momento o Roque vai sair de algum lugar e anunciar a pegadinha!"

Mas não era loucura. Pelo menos não para Luciara. Desde que entrara no grupo, Luciara, (ex "Lu") estava seguindo os passos e os mandamentos à risca. Mas essa não era a sua noite - se conseguisse se curar do vício totalmente, nenhuma noite nunca mais seria "sua" noite. Nunca mais seria o centro das atenções e, mesmo agora, com todos aqueles olhos e toda aquela atenção voltada para ela, sentia que estava controlando o prazer de ser ouvida com curiosidade e total admiração daqueles viciados. Mas a noite não era dela:

- Para quem está aqui pela primeira vez, essa é a noite dos depoimentos. Aqueles que se sentirem à vontade para contar sua história e sua caminhada no grupo deverão se inscrever com a Rosa (ex "Rosinha") e deverão falar por exatamente 10 minutos, para que nenhum fale mais que o outro. 

Cerca de cinco pessoas levantaram a mão e deram o nome para Rosa. Pela ordem estabelecida, o primeiro a falar seria Aguinaldo (ex "Naldo"). Luciara deu a palavra a ele.

[continua]

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