Refém da informação

>> quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Estive alheia aos acontecimentos dessa semana na USP até o início da manhã de hoje. Ouvi falar sobre o assunto, mas não quis ir atrás de entender melhor o "bafafá" pra opinar porque pensei que fosse só mais uma ocupação de estudantes dessas que nós estamos acostumados aqui na UnB.

Quando a minha página do facebook foi inundada pela já "emblemática" reportagem da revista Veja sobre a ocupação, me rendi à curiosidade e li a tal da matéria: uma explosiva combinação de irresponsabilidade, deboche e falta de compromisso com a notícia.
Com uma ironia mais do que forçada, nada sutil, nada profissional, nada ética, o "jornalista" escreveu o que qualquer direitista conservador falaria sem pensar duas vezes, muito tranquilamente, entre os amigos (ou pra provocar as inimizades) ou nas suas redes sociais - como muitos fizeram, com todo o direito, e não há nada de errado nisso. 

Mas quando esse comentário pessoal ganha a projeção de uma revista de circulação nacional, status de voz do povo, de prova testemunhal irrefutável, de fato jornalístico, fruto de uma investigação conprometida, há algo de muito errado, de muito preocupante, algo que mexeu comigo de uma forma que eu mesma não consigo explicar, e me motiva a escrever esse texto agora.

Fui, então, procurar outras fontes para me informar. Reportagens do G1, Folha de S. Paulo, Estadão e outros desse calibre repetiam mecanicamente o mesmo discurso,palavra por palavra: "meia dúzia de estudantes maconheiros vandalizaram a Reitoria, salve a polícia, defensora da pátria, de seu patrimônio e dos demais cidadãos de bem, inclusive você, querido leitor!"

Me senti refém da mídia. Quis saber mais sobre o assunto mas não consegui. Não pude achar sequer uma reportagem séria, minimamente respeitosa, que não fosse contaminada por um deboche rasgado ou uma paixão política inflamada, tanto de direitistas quanto de esquerdistas. Somente lendo artigos de opinião (obrigada às amigas uspianas pelas indicações) assinados por pessoas que tem posições políticas claras e públicas - e que não quiseran elevar seu discurso ao status de verdade absoluta - pude ter uma ideia do que aconteceu.

O objetivo desse post não é dizer quem está certo ou errado nessa história. Estudantes e polícia entram em choque desde sempre, defensores de uns e de outros têm todo o direito de divulgar suas opiniões sobre o assunto, fortalecendo o debate histórico-ideológico. 

A pretensão é de que fique aqui registrada uma preocupação muito forte, muito séria, com o estado da nossa mídia. A pretensão é de que fique aqui registrada a vontade que eu tenho agora de ajudar a construir e consolidar uma terceira opção de mídia, de comunicação, que não seja isso que se chama de "grande mídia", que dispõe de todos os recursos econômicos e influências políticas pra armar o circo que quiser, dar a notícia que quiser; nem seja a suspeita e autoproclamada democracia digital que resulta em um monte de gente compartilhando reclamações e declarações aleatória e irrefletidamente, gritando, se irritando, xingando, "se indignando", produzindo um barulho ensurdecedor que não frutifica, que não reverbera, que não espera pra escutar uma resposta. Que compartilha e fecha a página, que "curte" e faz logout.

Que terceira opção seria essa? Ainda não sei. Sei que não será imparcial, imparcialidade é um mito. Sei que não será apolítica, porque viver em sociedade é se relacionar politicamente. 
Torno público esse texto na esperança de que ele encontre leitores pensantes, críticos, divergentes, comprometidos,  que possam compreendê-lo, e, quem sabe, respondê-lo, contradizê-lo, frutificá-lo - na esperança de que ele já seja o começo dessa terceira via de comunicação, informação e troca de ideias que procuro.

3 comentários:

Michele Pandini 9 de novembro de 2011 às 18:01  

Você só esqueceu de um detalhe, Laranjinha. Muito das "notícias" que estão correndo no FB são falsas, com pessoas que pegaram trechos aleatórios da notícia e misturaram com sua opinião, colocaram no mesmo design e TÁ DÁ. Temos uma reportagem da .

Claro que como você disse, vários canais de mídia não estão nem aí pro que é verdade ou não, claro que muitos estudante da USP também só estão falando o dele. Mas acho que pior que a mídia e pior que esses estudantes e pior que os policiais que fizeram além do seu papel, são essas pessoas que repetem um discurso inventado, que nem se dão o trabalho de ler e refletir sobre aquilo.

Michele Pandini 9 de novembro de 2011 às 18:02  

Opa, não saiu uma parte do meu comentário ali em cima. Eu coloquei:
Temos uma reportagem da "insira nome da revista aqui"

Marcos 22 de novembro de 2011 às 11:17  

Honestamente, Bruna, tem como ver este vídeo http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=LSwrqEiVOv4 e não falar desta "revolta" com deboche? Não esotu defendendo a revista ou qualquer ponto de vista jocoso, só acho que não há como falar sério numa situação ridícula destas!

M.

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