de como me tornei graduada

>> sábado, 9 de abril de 2011

Mais de quatro anos se passaram desde o primeiro dia de aula na Universidade. Lembro-me de acordar cedo naquele dia, de vestir a roupa que havia escolhido no dia anterior - uma bata branca e uma saia laranjada, combinando com os óculos, com o brinco e colar de semente e sandália rasteirinha, pra ficar bem no estilo "alternativo" que eu achava que era unanimidade entre as minhas futuras colegas.
Vestida assim eu corri pra alcançar o ônibus, pois acabei esperando por ele na parada errada. O começo da "viagem" pra casa era o fim do meu primeiro dia de aula.

Essa descrição em nada lembra a estudante que saiu de uma de suas últimas aulas da graduação, andando apressada para entrar logo no carro, tirando os sapatos de salto para preservá-los dos estragos que o tapete do automóvel poderiam causar, reclamando do calor provocado pela roupa social, olhando no espelho retrovisor se a maquiagem estava em ordem.

O que aconteceu nesses quatro anos na Universidade, que fez com que nessas duas extremidades do antes-e-depois encontrassem-se versões tão distintas entre si de "mim"?

Alguns dirão "foi o namorado", outros, "quem sabe o trabalho?" e ambos os grupos não estarão totalmente errados ao atribuir a fatores externos tal transformação.

Por outro lado, eu, a voz que escreve, interna e externa ao sujeito que vive, olho hoje essas duas versões com imparcialidade - saudade da primeira, admiração pela segunda - e ouso dizer que a causa desta notória diferença é não outra que a própria Universidade.

E digo mais: essas duas versões não podem ser alinhadas em uma 'linha do tempo', ou em um organograma evolutivo, um "esqueminha". Impossível seria precisar o momento em que dividiram-se em duas - esse momento talvez não exista.

O fato é que, em quatro anos, pessoas, matérias, trabalhos, momentos, risadas, saídas, aventuras, fofocas, conquistas, medos, derrotas, solidão, enfim, tudo o que essa Universidade oferece, nega, tenta, promete, apresenta, desaponta, fizeram de mim, sujeito que vive e alimenta a voz que escreve, uma pessoa que olha para o fim de um ciclo com saudades, com uma nostalgia que envolve tudo o que se passou nesse curto período de tempo em nuvem de perfeição (imaginada, eu bem sei), e com um sentimento de perda que se compara ao luto.

Mais do que um diploma que diz que agora eu tenho o Grau de Licenciada em Letras pela Universidade de Brasília - com todas as letras maiúsculas a que tenho direito - eu ganhei uma "nova edição de mim", a qual ainda me é estranha, mas que parece ter vindo pra ficar, até transformar-se - talvez sem que eu me dê conta - nas próximas versões que virão. E por isso hoje eu me mostro grata e saudosa, na esperança de não ter desapontado aquela caloura que - parece que foi ontem - correu pra alcançar seu ônibus no primeiro dia de aula.

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