#RLL - Hamlet
>> quarta-feira, 13 de julho de 2011
Marcelo, em Hamlet
(SHAKESPEARE, 2001, p. 31)
#rll - Hamlet
Disciplina: Literatura comparada: literatura e morte
Autor: William Shakespeare, inglês.
Ano: séc XVII, entre 1.601 e 1.602
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William Shakespeare |
A sua história não foi inventada pelo poeta de inglês: o mito do príncipe da Dinamarca que vinga a morte de seu pai é muito antigo na lenda escandinava, e tem outras versões anteriores a Shakespeare.
Os diálogos da peça discutem temas éticos e complicados como traição, suicídio, vingança, loucura, morte. Daí vêm as análises inesgotáveis de um texto que sempre se renova, a cada nova leitura. Eu conheci o Príncipe da Dinamarca com 16 anos, li por curiosidade, e agora li de novo pra disciplina: uma leitura completamente diferente!
Como é uma tragédia (uma tragédia moderna, que traz alguns elementos diferentes da tragédia grega, por exemplo), é de se esperar que todo mundo morra. E isso não é spoiler, todo mundo morre mesmo! Se você não conhece, pode ver resumo da história, mas vale muito, muito, muito a pena ler (sim, eu adoro uma tragédia!). Mas, até cair o pano do último ato, ficamos nos perguntando: O Fantasma realmente existe? Cláudio matou o irmão? Ofélia ama Hamlet? Hamlet está louco de verdade? Gertrudes (Rainha da Dinamarca) traiu o marido? Hamlet é a tragédia da dúvida, da hesitação, do sonho, da loucura, do dilema. São muitos os segredos, as traições e as reviravoltas, o que fez com que essa peça seja encenada até nossos dias e que sirva tanto como entretenimento (Shakespeare foi muito popular no seu tempo) quanto como um texto denso, estudado, interpretado, esmiuçado pelo meio acadêmico.
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Um dia hei de ver Hamlet by Wagner Moura! |
Ainda sobre Shakespeare, indico 5 peças que simplesmente *têm* que ser lidas: Macbeth, Hamlet, Romeu e Julieta, Rei Lear e Otelo, o mouro de Veneza.
E, pra você não ter como fugir, recomendo muito o ótimo (texto ótimo, atores ótimos, direção ótima de Fernando Meirelles, lindo demais!) seriado global de doze episódios Som & Fúria, que tem o título baseado em uma das falas mais famosas de Lady Macbeth: "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, nada significando."
Vou encerrar o post com o monólogo mais famoso do teatro universal. Esse texto persiste no nosso imaginário porque faz a pergunta mais fundamental de todos nossos momentos de crise: ser ou não ser, existir ou não existir, viver ou não viver? Quando tudo parece perdido, quando nada faz sentido, a gente se pergunta: por que continuar? por que continuar vivendo uma vida miserável? Por puro e simples medo da morte? O que é pior: se jogar no desconhecido do outro mundo, sem saber o que vai encontrar, ou continuar no conhecido - e odiado - mundo dos vivos?
E aí, quando tudo nos leva a crer que o suicídio é covardia - é fuga! -, Hamlet nos põe a pensar que viver e suportar uma vida detestava que é a verdadeira covardia - o medo de enfrentar a morte!
Esse é o dilema do suicida, de todo aquele e de cada um que um dia já se pegou perguntando: "pra que continuar vivendo? pelo que continuar vivendo?"
Depois desse momento #literaturadadepressão (por favor, não se matem depois desse post! sério!), deixo o Poeta falar:
Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para a alma: sofrer os dardos e setas de um destino cruel, ou pegar em armas contra uma mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer...dormir; nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos que constituem a herança da carne! Que fim poderia ser mais devotamente desejado? Morrer...Dormir!...Talvez sonhar! Sim, eis a dificuldade! Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte, quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que dá à desventura uma vida assim tão longa! Pois, senão, quem suportaria os insultos e desdéns do tempo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, a angústia do amor desprezado, a morosidade da lei, as insolências do poder e as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno, quando ele próprio pudesse encontrar repouso com um simples estilete? Quem gostaria de suportar tão duras cargas, gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa, se não fosse o temor de alguma coisa depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou, confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar aqueles males que nos afligem, em vez de nos lançarmos a outros que desconhecemos? E é assim que a consciência nos transforma em covardes, é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções se debilita na pálida sombra do pensamento e é assim que as empreitadas de maior alento e importância, com semelhantes reflexões, desviam o seu curso e deixam de ter o nome de ação.
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