#MeuPaiÉDesses

>> domingo, 11 de agosto de 2013

Papito sempre me cobrou um texto que nem esse aqui que fiz pra mamis. Ei-lo.

Meu pai sempre me carregou pra tudo que era canto, sob os protestos da minha zelosa (chata) mãe. Quando pequena, minha relação com ele era muito mais próxima do que a com a minha mãe. Aos oito anos, eles se separaram, e eu a culpei por me afastar do meu melhor amigo.

Lá pelos treze anos, me aproximei mais da minha mãe e pude ver de muito perto a transformação dela na mulher maravilhosa que ela é hoje. A imagem que tive do meu pai sempre foi mais estável. Não o enxergava como alguém passível de mudança, meu pai era um homem "acabado". Até os catorze anos, fomos muito próximos e muito parecidos. Quando minha carência de atenção ou minha teimosia excediam a paciência dele, ele me dispensava com um "Não" ríspido, que me fazia engolir o choro e me deixava um nó na garganta.

Na adolescência, o choro mal contido se libertou num ensaio de rebeldia. Meu pai viu a filha que ia chorar magoada no quarto ficar, responder, revidar, enfrentar e negar a sua autoridade de pai.

Então meu melhor amigo virou alguém com quem eu sequer falei durante uns seis meses.

A reconciliação veio aos poucos, depois de eu amargar um arrependimento ao ver que meus pais não esperavam mais nada de mim. Eu, que até então achava que me sentia pressionada a ser adulta, responsável, inteligente, me vi desesperada quando essa suposta pressão foi substituída por uma total falta de expectativa. 
Isso mais a lembrança constante da recente e, principalmente, inesperada morte do meu padrinho, primo e melhor amigo do meu pai, me fizeram perceber que eu não tinha tempo a perder para tomar a iniciativa de reconstruir minha relação com ele.

E assim, como o filho pródigo que à casa torna (eu, que sempre fui o irmão mais velho meio invejoso), reaprendi a falar com meu pai, abraçá-lo, beijá-lo, dizer "eu te amo", deixar que ele fizesse parte essencial da minha vida, que ele voltasse a ser meu maior exemplo.

Aos 16 anos fui aprovada no vestibular pra Letras na UnB, aos 18, num concurso público, aos 20, no mestrado em Literatura.

Apesar de ter seguido seus passos, meus motivos foram diferentes. E ainda restava em mim, ao pensar relação com meu pai, a necessidade de conciliar nossas grandes semelhanças e nossas irreconciliáveis diferenças.

Quando terminei o mestrado, pensei, e agora? Qual o próximo passo? Saí da sombra do meu pai, da estrada pré-trilhada, dos resultados conhecidos.

Cheguei a escrever no meu diário, em janeiro desse ano, quando tive a certeza de que não queria mais ser servidora pública, como ele:

[...] Como calar a voz do meu pai dentro da minha cabeça? Como eu tenho, ao mesmo tempo, os complexos de Édipo e de Electra?
Meu pai é um alter-ego meu. Mas temos coisas diferentes. Quando eu amo essas coisas em mim, tenho que detestar nele. Nunca vou poder amar os dois ao mesmo tempo. Quando eu acho que estou certa, tenho que desmerecer a opinião dele. Quando ele está certo, significa que a errada sou eu, e isso é o mesmo que dizer adeus à minha autoestima. 
Na adolescência, quando a exaltação do meu ego atingiu seu estado máximo, anulei meu pai. Num mundo em que ele tivesse razão sobre tudo, eu não teria nenhuma chance de crescer.  (porque meu pai não é o tipo de crítico que deixa você tentar outra vez depois do primeiro erro)
Meu pai, meu ex-namorado, meu orientador, três figuras de autoridade masculina que têm uma influência enorme no que eu sou hoje.
Eles me forçaram  a ser rebelde, mas a opinião deles sobre o que eu faço é, sim, muito importante! Minha rebeldia é um jeito de tentar  me afirmar diante disso. 
A resistência a isso tem que ser minha. Entendo minha mãe cada vez melhor. Mas eu não posso pedir divórcio do meu pai. Tenho que aprender a lidar com isso.
Eu só queria descobrir o que em mim sou "eu" e o que é apenas negação do outro ou do que ele espera que eu seja - pra que assim eu faça minhas escolhas conscientemente e não apenas pra afirmar "você não manda em mim", como aos quinze anos.

Meu grande aprendizado desse ano foi trabalhar pra eliminar essa concorrência e essa vontade de subjugar os outros (meu pai, os homens) provando que eu tou certa - Freud explica. Fiz isso entendendo que somos pessoas diferentes, mas não opostas. Que estamos em processo constante de mudança e evolução - sim, ele também.

Somos diferentes não por nossa essência, mas pelas escolhas que pude fazer, e fiz. Escolhas que ele mesmo me proporcionou - como a última, de ir pra Portugal fazer doutorado. Estou dando um passo no escuro, um "lea
p of faith". Mas sei que ele e minha mãe são minha rede de proteção, e têm plena confiança em mim. Sou grata por isso.

Pai, por mais que eu lamente todos nossos desentendimentos dos meus "negros" quinze anos, sei que eles não foram em vão pelas escolhas que aprendi a fazer a partir dali. Lamento que tenha custado tanto. Mas passou.



Obrigada. Por tudo. Você é o melhor pai que eu poderia ter tido e, graças a Deus, tive e tenho. Amo você. 
Feliz dia dos pais.


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