#RLL - Bobók

>> quarta-feira, 10 de agosto de 2011

#rll - Bobók
Disciplina: Literatura comparada: literatura e morte.
Autor: Fiódor Dostoiévski, russo.
Ano - séc. XIX, 1873.

A #RLL de hoje é sobre um conto de Dostoiévski, traduzido e analisado por Paulo Bezerra, um dos tradutores fodões do russo pro português.

Eu nunca tinha lido nada do Dostoiévski (fala sério, o cara é russo! russos são malvados!) porque achava que seria muito difícil (e os livros mais curtos tem tipo 400 páginas). Um exemplo de quanta "pompa" o cara tem foi a reação das pessoas nos corredores e no elevador do trabalho ao me verem com um livro dele na mão: "Noooooossa! Dostoiévski!" como quem diz "que nerd você! get a life!". 

O conto desconstruiu toda essa imagem séria e pesada que eu tinha dele. "Dosto" era um fanfarrão! Bobok é considerado uma sátira menipeia da modernidade. Nasceu com a intenção de responder as críticas que o último romance que havia sido publicado por Dostoiévski havia recebido. Em vez de responder "na mesma moeda" com um ensaio ou uma nota no jornal, o autor russo preferiu usar a literatura, criando uma obra que tem significado mesmo que o leitor não saiba que ela foi concebida com esse primeiro propósito.

Lugar de diversão!
Ivan Ivánitch é jornalista, escritor frustrado que vive levemente embriagado. Um dia, resolve se divertir e acaba indo a um enterro. Passeando pelo cemitério acaba sentando em uma lápide aleatória pra descansar e dorme. Acorda ouvindo um som, "bobók" (tipo o som de uma bola de sabão estourando) e começa a ouvir vozes. As vozes vem dos defuntos em torno dele, que estão "recepcionando" o novo morto no cemitério, que ainda não sabe muito bem que morreu. Ivan fica na dele e começa a prestar atenção na conversa dos mortos.  A conversa dos mortos se encaminha para a instituição de uma tanatocracia, com novos valores, diferentes dos dos vivos, onde prevalece a verdade absoluta.
Um trechinho:

[...] Mas por enquanto eu quero que não se minta. É só o que eu quero, porque isto é o essencial. Na Terra é impossível viver e não mentir, pois vida e mentira são sinônimos, mas, com o intuito de rir, aqui não vamos mentir. Aos diabos, ora, pois o túmulo significa alguma coisa! Todos nós vamos contar em voz alta as nossas histórias já sem nos envergonharmos de nada. Serei o primeiro de todos a contar a minha história. Eu, sabei, sou dos sensuais. Lá em cima tudo isso estava preso por cordas podres. Abaixo as cordas, e vivamos esses dois anos na mais desavergonhada verdade! Tiremos a roupa! Dispamos-nos!
Nesse novo diálogo dos mortos, agora temos um vivo escutando, que vai ouvindo a conversa até que um espirro faz com que os defuntos se calem - e ficamos sem saber no que daria essa tal sociedade em que ninguém tivesse vergonha ou escondesse coisa alguma.



Dostoiévski
A morte como forma de liberdade do discurso está presente aqui (estudar morte é estudar liberdade) e estará presente também no último romance dessa disciplina, o romance que fez o professor começar a estudar morte: Memórias póstumas de Brás Cubas. O defunto-autor é o parâmetro de comparação de todas as obras que vimos até aqui, e, como Bobók, foi escrito por um autor na periferia do mundo europeu, no mesmo século XIX, que via a falência do homem prisioneiro de uma vida de fingimentos, aparências e mentira, que só poderia encontrar alguma liberdade na morte - só depois de morto que Brás Cubas pode dizer com sinceridade, com seu desprezo tumular, o que sempre pensou daqueles com quem conviveu. Mas esse é o assunto da próxima resenha. Leiam Dostoiévki. Além de todo mundo achar que vcs são nerds da literatura (a vida é um fingimento), o cara era um gênio.


1 comentários:

VAMPIRA 11 de agosto de 2011 às 21:45  

Ah não, Laranjinha! Preciso ler mesmo? Não posso só ficar com seu resumo e dizer que já li e tirar onda? XD

Postar um comentário

  © Blogger template Simple n' Sweet by Ourblogtemplates.com 2009

Back to TOP