Aquele que fala sobre o trabalho de ser crítico

>> segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Ultimamente estava pensando no que eu vou ser quando crescer. Vislumbrei a possibilidade de ser crítica. De gastronomia, de cinema, de esportes [sic!], ou, a escolha mais óbvia, de literatura. Então saí pesquisando pela blogosfera e vendo o que é que esses tais de críticos fazem da vida.

Li dos mais renomados aos que criticam simplesmente por que a internet dá a eles o espaço pra isso.

E vi que críticos são, acima de tudo, pessoas que têm certezas. Muitas delas. E escrevem sobre elas de forma contundente e conclusiva. Alguns com mais requinte, outros com mais emoção, mas todos têm absoluta certeza de que o que estão falando é uma verdade irrevogável, e que 'todos vocês, bestas que não conseguem enxergar o óbvio, precisam da minha ajuda se querem entender qualquer coisa de verdade'

Vejam vocês que, ao contrário do que eu imaginava, a profissão não consiste somente em emitir uma opinião sobre alguma coisa... não! Posicionar-se sobre uma questão é para amadores. O importante mesmo é fazer alusões a fatos e 'curiosidades' que só você - e os críticos adversários - conhecem, analisar a opinião contrária à sua e desacreditá-la por completo [quando não dá certo, vale desacreditar quem a escreveu, o lugar onde foi publicada, a ex-mulher do editor chefe do jornal, enfim, o que der] de forma 'apoteótica, rebuscada e incontestável', de preferência com palavras com no mínimo quatro sílabas, usando sarcasmo e um tom condescendente, como quem fala para - ou de - alguém que não pode ser culpado por ter uma capacidade intelectual inferior.

E logo vi que vai ser difícil eu me dar bem com esse ofício.

Primeiro, não sou lá uma pessoa com muitas certezas. Até sei escrever de forma contundente, mas me reservo o direito de usar a mesma intensidade nas palavras pra falar exatamente o contrário amanhã.

Segundo, não vejo qual a lógica de escrever de um jeito que só quem poderia escrever o mesmo que eu vai entender. Afinal, pra que servem os críticos se não pra enriquecer - e não excluir- a visão que as pessoas comuns ['comuns' não é a palavra que eu quero usar aqui, mas na falta de outra, fica 'comuns' mesmo] tem a respeito de alguma coisa? Como eu vou enriquecer a visão de um casal de namorados de ensino médio que foi assistir um filme 'x' se eu disser que 'a obra peca pela negligência em relação ao enfoque artístico e pelo excesso de elementos alegóricos'?

E, por último, eu não vou odiar mortalmente uma pessoa simplesmente pelo fato de ela não concordar comigo. Nem chamá-la de ignorante, alienada, de 'parte do sistema', nem de 'cult de merda', puritano, reacionário, anarquista.

Não, não vai dar certo. Eu sou tolerante demais, pra ser crítica do que quer que seja.


Mas.. se tudo der errado... se tudo der errado, eu viro crítica cítrica.

1 comentários:

Newton Neto 27 de fevereiro de 2009 às 01:41  

Gostei da intertextualidade Friendiana pro título. Haha ;D

Não sou muito simpático da crítica. Falando em Friends, hoje vi um episódio que Joey fala pra colega frustrada com o que leu no jornal sobre sua performance que críticos são atores que tentaram atuar e fracassaram. Em seguida ele pergunta o que ela pretende fazer. Ela, frustrada, diz: virar uma crítica!

Críticos juntos são felizes. Não sozinhos. Me cobro mais por culpa deles, e escrevo menos. Anulo-me, porque qualquer coisa que eu diga é medíocre. Gosto da sua humanidade.
Anyway.
Próximo texto.

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