#RLL - Divina comédia (Inferno)

>> quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Resenha Literária Livre de hoje será dantesca!


#rll - Divina comédia
Disciplina: Literatura Comparada - literatura e morte
Autor: Dante Alighieri (italiano, de Florença)
Ano: séc. XIV - por volta de 1315

Saltamos alguns séculos desde o último livro e chegamos a uma obra que é um marco da cultura italiana e representa uma revolução do ponto de vista dos gêneros literários. O fio que liga essa obra às anteriores, como diz meu professor, é o mesmo que liga os homens: a morte. Aqui, nós também temos diálogos dos mortos (o único vivo é Dante). Entretanto se, até agora, a literatura representava o passado épico - distante -na Divina Comédia (originalmente só Comédia) a narrativa é extremamente marcada pelo presente do autor. Ao assinar sua obra e "representar-se a si mesmo", Dante indica uma ruptura com o  pensamento medieval teocêntrico que não valorizava o indivíduo, a individualidade. Na Idade Média, grande parte das obras não eram assinadas. Dante representa uma mudança de paradigma também ao utilizar a língua italiana - que era apenas uma forma vulgar do latim, uma língua do povo - para a literatura, com um fim nobre. A partir da Comédia, a própria língua italiana ganhou força como uma língua independente do latim, ganhou status de língua oficial, unificadora das províncias do país. Hoje, na Itália, a Divina Comédia é o livro mais vendido, (depois da Bíblia), conhecido e lido, é o livro do qual são tiradas as lições de italiano, é o primeiro livro que todo italianinho lê, independentemente da classe social.

Ao mesmo tempo em que usa a língua italiana de um modo totalmente novo pra época, Dante continua ligado à tradição grega e latina. Sua obra teve grande influência de Virgílio (autor de Eneida, a epopeia latina) e, não por acaso, é o próprio Virgílio, "mestre dos poetas", que o guia em sua visita ao Inferno e ao Purgatório. E aí, a primeira coisa que a gente pensa é: por que Virgílio, pagão, anterior ao Cristianismo, tem esse moral todo no além cristão? Ora, Dante não podia negar toda a sua tradição cultural e literária greco-romana, e também não podia negar sua própria formação cristã. O resultado deste embate entre homem clássico e medieval foi uma obra híbrida, inovadora e que diz muito sobre seu tempo e o homem de seu tempo.
 Bouguereau, Dante e Virgílio no Inferno
Em seus cem cantos (33 para o Paraíso, 33 para o Purgatório e 34 para o Inferno, sendo que o 1 desses é tipo uma introdução), a Divina Comédia nos apresenta  alguns dos cenários mais deslumbrantes, aterrorizantes e fascinantes da literatura mundial. Aqui vou me deter no inferno, que já é muito, e é também a parte mais divertida!

Na "selva selvagem", Dante encontra Virgílio, que explica que o guiará pelos Círculos do Inferno e do Purgatório até sua amada, Beatriz, que o espera na porta do Paraíso. A cada círculo, Dante descreve com riqueza de detalhes que tipo de pecador está lá e qual o seu castigo eterno. Alguns dos que lá se encontram são seus inimigos pessoais na "vida real" - uma bela forma de se vingar, não? Há também muitas figuras da mitologia grega: Dante "pegou emprestado" muitos elementos do Hades grego, que, como vimos na Odisseia, era o lugar pra onde iam todos os mortos (bons ou maus), para "desenhar" o Inferno Cristão - lugar de castigo, da danação eterna.

No Primeiro Círculo do Inferno está uma o Limbo: lá ficam os "pagãos inocentes", crianças que morreram sem ser batizadas e os homens bons que viveram na Antiguidade (e não se converteram porque deram o azar de nascer antes de Jesus). No Segundo, estão os luxuriosos, no Terceiro, os gulosos, no quarto, os avarentos e os esbanjadores. No Quinto círculo, estão os irascíveis, os que foram irados em vida, e a sua pena é viver num lugar cheio de lodo, se batendo, devorando seus próprios membros, como selvagens. (Já deu pra sacar porque depois os portugueses chamavam o Brasil de quinto dos infernos, né?) [carece de fontes pra eu saber se é isso mesmo, as informações a este respeito na net são confusas!]
Para o Sexto círculo vão os heréticos, para o Sétimo, os violentos - contra o próximo, contra si mesmo (suicidas) ou contra Deus. No Oitavo estão os que praticaram algum tipo de fraude (inclusive mágicos, adivinhos, falsários, hipócritas e os corruptos). Finalmente, no Nono círculo, encontram-se os traidores - da pátria, da raça, dos amigos e de seus benfeitores. 

Dante, galã da Baixa Idade Média
As imagens do Inferno são ricamente descritas por Dante, e inspiraram e inspiram muitas representações artísticas, expressões como "inferno de Dante" e o adjetivo "dantesco". Assim como a Odisseia, eu li a versão em prosa, porque é mais fácil mesmo. Li o livro todo quando eu entrei na graduação, por curiosidade, e reli agora a parte do inferno pra disciplina. Pra quem tiver preguiça e quiser ler só uns pedacinhos, antes de cada Canto tem uma espécie de resuminho de três linhas dizendo o que vai acontecer. Aí, você pode só ir lendo os resuminhos e vendo as figuras (as figuras valem muito a pena! rs). Para quem quer começar uma biblioteca particular, uma boa edição da Divina comédia (bilíngue, ilustrada por Gustave Doré, com capa dura e título em letras douradas - #sonho) é uma ótima aquisição.  

Peraí: Dante de Florença (Florentino), Beatriz, anjos, pecados? Se você é noveleiro (será que existe um círculo pra eles?) e acha isso tudo familiar, é por isso.

Divirta-se colocando, como Dante fez, seus amigos - ou inimigos - no círculo que você quiser.
Mas, e aí, em qual círculo você está? 

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