#RLL - Odisseia

>> terça-feira, 28 de junho de 2011

RLL's são Resenhas Literárias Livres 
O objetivo das RLL's é apresentar alguns dos livros que eu tive que ler pra pós, da maneira que eu bem entender. Por isso, se você é um literato purista, aqui não é seu lugar. Se você se interessa por literatura e gosta de indicações literárias, você vai gostar. Se você nunca teve coragem ou interesse pra ler um livro inteiro na vida, bem... melhor não dizer o que eu penso de você.

Seguindo uma ordem cronológica, o primeiro livro a ter uma #rll é Odisseia.
Disciplina - Literatura Comparada - literatura e morte
Autor - Homero (convencionalmente)
Ano - provavelmente séc. VIII a.C.

Odisseia, ao lado da Ilíada é um daqueles livros que todo mundo conhece mas ninguém nunca leu. Tive que ler pra disciplina e descobri algumas coisas que todo mundo das letras sabia menos eu, e que agora compartilho.
Homero era um aedo e, provavelmente, ele nunca existiu (hã?). A crítica moderna acredita que ele é um ser fictício, e que os poemas a ele atribuídos tiveram vários autores e foram transmitidos oralmente de geração para geração até serem escritos. A versão escrita mais antiga que se conhece data do séc.  VI a.C. O texto que conhecemos foi compilado e "revisado" por eruditos de Alexandria, entre os séc. III e II a.C.

Na Ilíada, é narrado o último ano da guerra dos aqueus (gregos) contra troianos, que durou 10 anos. Diz a lenda que a guerra mais famosa da cultura ocidental começou porque Páris, príncipe troiano, raptou Helena, a mulher mais bonita do mundo, esposa de Menelau, rei de Argos. E para os heróis, se mexeu com um, mexeu com todos, então, foram-se todos para a guerra.
Como depois de 10 anos, muitas mortes e heroísmos, ninguém conseguia ganhar a disputa, Odisseu teve a ideia que deu a vitória aos gregos: o cavalo de Troia, o presente de grego, expressões tão fortes que a gente usa até hoje sem saber direito de onde vieram, assim como "agradar gregos e troianos". Os gregos construíram um cavalo enorme de madeira e colocaram diante dos portões de Troia. Os troianos, achando que era um presente do inimigo que indicava rendição, colocaram o cavalo dentro da fortaleza. Durante a noite, os guerreiros que estavam escondidos dentro do cavalo, oco por dentro, saíram e abriram os portões da cidade. Os gregos entraram, tomaram a cidade, mataram um bocado de gente e ganharam a guerra.

Enquanto espera o retorno do marido,
Penélope diz que só escolherá um pretendente
quando terminar de fiar sua tela. Assim, ela tece
durante o dia, e desmancha o trabalho feito
durante a noite.
A Odisseia conta a volta de Odisseu (ou Ulisses, seu nome latino) para casa, em Ítaca, onde deixara o filho, Telêmaco, e a esposa, Penélope. Essa volta pra casa dura também dez anos (número simbólico), e é cheia de peripécias, aventuras, heroísmos e trapaças. Odisseu é considerado um herói que carrega em seus atos certa ambiguidade - ao mesmo tempo em que possui as virtudes do típico herói grego, ele usa da mentira e do embuste para "se dar bem". Acompanhamos o desenrolar da história para saber se e como ele chegará em casa, se encontrará a mulher esperando por ele ou já com outro (porque esperar dez anos sem nem saber se o marido tá vivo, né? a fila anda!). Daí, o termo "odisseia", (como no título do filme 2001: uma odisseia no espaço), refere-se, hoje, a uma longa e turbulenta viagem, como a de Odisseu. 
Para poder ouvir o belíssimo canto das sereias
sem ser seduzido para o fundo do mar,
Odisseu pede para que seus companheiros
 o amarrem ao mastro do navio.
Mas por que Odisseu demorou tanto pra voltar pra casa? Ora, primeiro, porque naquele tempo não existia google maps (brinks), depois, porque o deus dos mares, Poseidon, com raiva dele, fez de tudo pra impedir a volta pelo mar: os ventos eram sempre desfavoráveis, havia monstros marinhos e redemoinhos mortais. 

Acredita-se que existiram outras histórias contando a "volta pra casa" de outros heróis da Guerra de Troia, mas a única que chegou a nossos tempos foi a de Odisseu. Por sua força narrativa, seu caráter fundador da literatura ocidental, a Odisseia é lida e estudada ainda hoje. Para o leitor de prosa do século XX e XXI, a forma em verso é penosa - recomendo a versão em prosa da Cultrix, que é melhor do que não ler de jeito nenhum. As grandes obras literárias da nossa cultura sempre voltam a Homero - parodiando, criticando, fazendo referência, porque ele é um pilar, é a base de tudo o que veio depois. Apesar da aparência sisuda, é uma leitura agradável, que nos transporta a um mundo em que deuses, ninfas, adivinhos, sereias, gigantes e mortais dividem o mesmo espaço, onde tudo é mágico e tudo acontece segundo um Destino implacável.

Odisseu no Hades
Interessa especialmente para a minha disciplina de literatura e morte o Canto XI, o "canto da descida", no qual Odisseu vai ao Hades - reino dos mortos - tentar falar com Tirésias, adivinho, para saber como ele vai chegar em casa, e o que vai encontrar lá. Nessa descida, Odisseu encontra muito mais: sua mãe, o herói Aquiles, lamentando por ter morrido, esposas de grandes reis, todos querendo notícias do mundo dos vivos, lamentando a saudade e a condição de mortos. Ali, Odisseu, herói, corajoso, pressente a própria morte e dela foge, afinal, "antes ser um covarde vivo do que um herói morto".

Do ponto de vista do gênero, a Odisseia é um poema épico que, diferentemente do romance, trata sempre de um passado mágico, mítico, distante, ao qual aqueles que ouvem ou leem a história no presente não têm acesso. Pro teórico russo Bakhtin, trata-se de um gênero monológico, ou seja, toda a obra é narrada pelo mesmo ponto de vista, não há conflito de ideias e posicionamentos, não há interações de vozes discursivas, não há dialogismo. Essa relação entre o presente do leitor e da obra mudará radicalmente nos nossos próximos livros.

2 comentários:

Michele Pandini 28 de junho de 2011 às 17:12  

Adorei a revisão literária! Já tava na hora de você colocar o que acha nesses seu blog! Na próxima tenta dar uma crítica mais pessoal também!

Mal posso esperar pela próxima narrativa *_*

Citrus sinensis 28 de junho de 2011 às 23:18  

Nada de pessoal, sou uma pessoa muito profissional! hehehehe, mas tudo isso aí é pessoal, se meu orientador vê que eu tô fazendo piadinha com esses livros ele me mata!

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