713 Norte (nãoexisteamoembsb)

>> quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Alice,

No quesito "stalker", sua história "barrou" a minha (como você diz, rs). Hoje não vou contar uma história minha, mas a de um amigo. Renatinho, lembra dele? Claro que lembra, sei que você tinha uma queda por ele, não negue! Então, acabo de encontrá-lo no grande circular, e me lembrei da história que ele me contou já há alguns meses... É um desafortunado caso de amor. 

Ela era linda, fazia jornalismo, morava no fim da asa norte... Se fosse uma história inventada não teriam juntado tantos estereótipos. Mas, estereótipo ou não, o fato é que o caso aconteceu.
O primeiro encontro, fruto de um puro acaso do destino, foi na dom bosco do ceub. Os dois pediram uma dupla quando só havia dois pedaços da última fornada de pizza. Renato quis ser cavalheiro: "Pode ficar, eu espero a próxima pizza", mas ela insistiu para que cada se servisse de um pedaço daqueles enquanto esperassem juntos a próxima fornada de massa, queijo e molho de tomate.

Assim foi, e a partir de então, quase sempre naquele mesmo balcão, os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia, como tinha de ser. Até que um dia ele finalmente ele propôs que os dois se vissem fora dos muros da faculdade, e ela disse sim. 
Cinema, claro. Mas nenhum dos dois foi capaz de dizer se as indicações a prêmios daquele filme foram justas ou não: ficaram de olhos fechados e bocas e mãos ocupadas dos trailers aos créditos.

A essa sessão seguiram-se outras tantas (falta de criatividade dos namorados ou de opção na cidade?), e tudo ia bem. 

Certa noite em que sua amada não podia sair porque já havia marcado um outro compromisso, Renato aceitou acompanhar o pai em um coquetel ao qual compareceram todos os figurões do Direito da Capital Federal.

                                                     Fonte
Entediado entre homens velhos com assuntos mais velhos ainda, Renato viu Michele - Michele, ela se chamava - linda, tão linda quanto ele nunca a vira antes, acompanhada de um senhor, de um velho. Ainda esperançoso, Renato pensou em todos os possíveis graus de parentesco entre os dois, julgou até mesmo encontrar alguma semelhança na fisionomia dos dois que evidenciasse laços de sangue. 

Por alguns segundos alimentou essa esperança: os segundos que antecederam o beijo indecoroso e ardente com que o velho cobriu sua Michele.

Renato inventou uma súbita indisposição para o pai e foi embora de táxi, antes que Michele o visse. Enquanto o motorista seguia na velocidade da via, murmurando qualquer coisa sobre os novos pardais, máquinas de fazer dinheiro para o governo, as imagens giravam caleidoscopicamente na mente de Renato. Michele... fazia parte da lista rosa... há quanto tempo? Assim que pagava a faculdade? a academia? bolsas, roupas, tudo? até aquele primeiro pedaço de pizza que dividiram juntos?

Você, Alice, pode imaginar o quão perturbadora esses pensamentos fizeram da noite do meu amigo desiludido. Na manhã seguinte, Michele recebeu dele uma sms: "acabou".
Ele não quis discutir, não fez escândalo e nunca explicou pra ela o porquê de um término tão precipitado e seco.

Mas desde então Renato não pensa em outra coisa a não ser estudar para ser, ele mesmo, um figurão do Direito, e poder um dia ser um dos clientes privilegiados que tem acesso à lista rosa da capital. 

Não existe amiga, não existe amor em em BSB, e até mesmo os corações mais férteis para o florescimento de grandes paixões, com o tempo e seguidas decepções transformam-se em um lodo de ganância e sede de poder.

Com essa imagem forte despeço-me, querida amiga, e confesso que estou começando a gostar dessa brincadeira epistolar tão anacrônica, que faz pulsar minha veia literária que eu já julgava ressecada pelo clima dessa cidade.

Com afeto e saudade, 

João Lucas


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